EDI
Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 19, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 2526-3471
DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v19i00.17655 1
O COMER, A COMIDA E A CULTURA: ANÁLISE DO PROCESSO DE ENSINO
SOBRE ALIMENTAÇÃO NA GRADUAÇÃO EM NUTRIÇÃO
COMER, ALIMENTACIÓN Y CULTURA: ANÁLISIS DEL PROCESO DE ENSEÑANZA
DE ALIMENTACIÓN EN LA GRADUACIÓN DE NUTRICIÓN
EATING, FOOD AND CULTURE: ANALYSIS OF THE TEACHING ABOUT FOOD IN
UNDERGRADUATE IN NUTRITION
Bianca Martins FABBRI1
e-mail: lapes@unicamp.br
Julicristie Machado de OLIVEIRA2
e-mail: julicr@unicamp.br
Como referenciar este artigo:
FABBRI, B. M.; OLIVEIRA, J. M. O comer, a comida e a cultura:
Análise do processo de ensino sobre alimentação na graduação em
nutrição. Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 19, n. 00,
e023014, 2023. e-ISSN: 2526-3471. DOI:
https://doi.org/10.26673/tes.v19i00.17655
| Submetido em: 25/01/2023
| Revisões requeridas em: 07/08/2023
| Aprovado em: 11/10/2023
| Publicado em: 30/12/2023
Editores:
Profa. Dra. Luci Regina Muzzeti
Profa. Dra. Rosangela Sanches da Silveira Gileno
Editor Adjunto Executivo:
Prof. Dr. José Anderson Santos Cruz
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Limeira SP Brasil. Graduada em Nutrição.
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Limeira SP Brasil. Doutora em Nutrição em Saúde Pública
pela Faculdade de Saúde Pública. Docente do Curso de Graduação em Nutrição, do Programa de Pós-graduação
em Ciências da Nutrição e do Esporte e Metabolismo (CNEM).
O comer, a comida e a cultura: análise do processo de ensino sobre alimentação na graduação em nutrição
Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 19, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 2526-3471
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RESUMO: O ensino dos aspectos humanísticos e sociais da Alimentação para a graduação em
Nutrição tem se tornado um importante objeto de reflexão e debate. O objetivo deste estudo foi
analisar o processo de ensino sobre Alimentação para estudantes de Nutrição de uma
universidade estadual paulista, no âmbito da disciplina Alimentação e Cultura. A coleta dos
dados foi realizada por meio de observação participante das aulas e de dois grupos focais
realizados com 9 estudantes. A partir da análise dos dados, foram elencadas categorias
semânticas sobre os temas tratados, como “Respeito e valorização das culturas e modos de fazer
tradicionais”, “A opressão das culturas negra, indígena e menosprezo pelo local”, “Comida,
memória, tradição e laços afetivos” e O cuidado, a formação e atuação do nutricionista”.
Concluiu-se que a disciplina foi capaz de humanizar o olhar das futuras profissionais de
Nutrição, tornando-as mais sensíveis aos aspectos socioculturais e afetivos da Alimentação.
PALAVRAS-CHAVE: Alimentação. Cultura. Ensino superior. Nutrição.
RESUMEN: La enseñanza de aspectos humanísticos e sociales de la Alimentación en la
graduación en Nutrición se ha convertido en importante objeto de reflexión y debate. El
objetivo de este estudio fue analizar la docencia de la Alimentación para estudiantes de
Nutrición de una universidad estatal paulista, en la disciplina Alimentación y Cultura. La
recolección de datos se realizó a través de la observación participante y los grupos focales
realizados con 9 estudiantes. A partir del análisis, se enumeraron categorías semánticas sobre
los temas tratados, como "Respeto y valoración de las culturas y formas de hacer
tradicionales", "La opresión de las culturas negras, indígenas y el desprecio por lo local",
"Comida, memoria, tradición y vínculos afectivosy “El cuidado, formación y actuación del
nutricionista”. Se concluyó que la disciplina logró humanizar la perspectiva de los futuros
profesionales de Nutrición, haciéndolos más sensibles a los aspectos socioculturales y afectivos
de la Alimentación.
PALABRAS CLAVE: Alimentación. Cultura. Enseñanza superior. Nutrición.
ABSTRACT: The teaching of human and social aspects of Food in the Nutrition undergraduate
has become an important object of reflection and debate. The aim of this study was to analyze
the teaching about Food to Nutrition students at a state university in Sao Paulo, within the
scope of the Food and Culture course. Data collection was carried out through participant
observation of classes and two focus groups carried out with 9 students. After data analysis,
semantic categories were listed on the topics covered, such as "Respect and appreciation of
traditional cultures and way of doing", "The oppression of black and indigenous cultures and
contempt for the local", "Food, memory, tradition and affective bonds” and “Care, training
and performance of the nutritionist”. In conclusion, the course was able to humanize the
perspective of future Nutrition professionals, making them more sensitive to sociocultural and
affective aspects of Food.
KEYWORDS: Food. Culture. University education. Nutrition.
Bianca Martins FABBRI e Julicristie Machado de OLIVEIRA
Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 19, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1519-9029
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Introdução
A alimentação é uma dimensão fundamental da vida social e cultural, pois, está
intimamente ligada ao imaginário individual e coletivo (MENASCHE; ALVAREZ;
COLLAÇO, 2012), além de proporcionar uma conexão com o passado, o ambiente e os lugares
nos quais se constrói a experiência de vida (BLOCH-DANO, 2011). As formas de alimentação
revelam características significativas de uma sociedade, uma vez que refletem suas estruturas
sociais e padrões de vida (ROSSI, 2014). O comer nos vincula à terra, à história, à cultura, às
memórias pessoais e coletivas (MONTANARI, 2013).
As cozinhas nacionais e típicas enfrentam uma grande batalha contra o nutricionismo,
que as ameaça ao reduzir a comida e toda sua complexidade à visão fragmentada de “nutrientes”
(DÓRIA, 2021). O ser humano, porém, não ingere apenas nutrientes, ele come, saboreia e
incorpora elementos interligados, afetivos e químicos (BLOCH-DANO, 2011).
A alimentação, por se tratar de um fenômeno dotado de complexidade, que articula
diversas dimensões implicadas em questões éticas, estéticas e técnicas, dentre outras
(BENEMANN et al., 2023), requer uma compreensão aprofundada de seus aspectos
humanísticas e sociais, especialmente ao se tratar de processos formativos para profissionais
que a tem como objeto privilegiado, como os nutricionistas.
Apesar da relevância do ensino sobre esses aspectos da alimentação para a graduação
em Nutrição, não foram identificados estudos que o analisassem em seus aspectos pedagógicos.
Assim, o presente estudo teve como objetivo analisar o processo de ensino sobre Alimentação
para estudantes de Nutrição, no âmbito da disciplina Alimentação e Cultura, da Faculdade de
Ciências Aplicadas, da Universidade Estadual de Campinas, FCA/Unicamp.
Método
Refere-se a um estudo de abordagem qualitativa, no qual os dados foram coletados por
meio de observação participante das aulas ministradas na disciplina Alimentação e Cultura da
FCA/Unicamp, além de grupos focais realizados com as respectivas estudantes.
A disciplina se ancora nos referenciais das Ciências Humanas e Sociais no âmbito da
Alimentação e Nutrição. Assim, enfatiza a Alimentação em seus aspectos históricos,
geográficos e socioantropológicos, tratando de suas inter-relações com as Artes e a Literatura,
as práticas agrícolas e alimentares de povos e comunidades tradicionais, a formação da culinária
brasileira, os patrimônios alimentares nacionais, a história dos livros de receitas, a
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comensalidade e as memórias gustativas. Por meio de aulas expositivas, discussões e práticas
culinárias, tem como intuito construir, em conjunto com os estudantes de Nutrição, um espaço
para debate e compreensão dos aspectos históricos, socioculturais e afetivos da alimentação.
A análise da disciplina apresentada acima foi realizada a partir dos dados registrados em
diário de campo (observação participante) pela primeira autora do estudo, que esteve presente
como ouvinte em todas as aulas da disciplina Alimentação e Cultura, oferecida de modo
intensivo, em fevereiro de 2020, ministrada pela segunda autora do estudo.
As informações detalhadas sobre a disciplina e o seu plano desenvolvimento estão
descritos no Quadro 1. Como sugerido por Mónico et al. (2017), após cada aula foi elaborado
um registro qualitativo em diário de campo com as observações realizadas. Conforme destacado
pelos autores, a observação participante revela-se apropriada para estudos que visam propor a
generalização de aspectos interpretativos do que foi observado e sistematizado em registros
narrativos. Ao se colocar como ouvinte da disciplina, a primeira autora tornou-se parte do
grupo, o que facilitou o contato com os comentários e as discussões realizadas em cada aula,
bem como a possibilidade de revelar os sentidos e significados dos conteúdos abordados.
Quadro 1 Ementa, objetivos, programa e plano de aulas da disciplina Alimentação em
Cultura, da Faculdade de Ciências Aplicadas, da Universidade Estadual de Campinas,
FCA/Unicamp, Limeira, 2020
Disciplina: Alimentação e Cultura (2020)
Ementa
Ciências Humanas e Sociais em Alimentação e Nutrição. Aspectos históricos, geográficos e
socioantropológicos da Alimentação e Nutrição. Arte, Literatura e Alimentação.
Objetivos
Criar, em conjunto com os estudantes, um espaço para discussão e compreensão dos aspectos relacionados às
ciências humanas e sociais e alimentação e nutrição, bem como as interligações com a literatura e as artes.
Programa
1. Aspectos históricos e geográficos da Alimentação e Nutrição. Ingredientes, trocas, memórias gustativas,
livros de receitas, biodiversidades, colonialismo e poder.
2. Aspectos sociais e culturais da Alimentação e Nutrição. Cultivar, cozinhar, comida, comer, beber,
comensalidade, distinção social e corpo.
3. Alimentação nas artes e na literatura. Sentidos, sentimentos e relações sociais.
Plano de Aulas (total 45 horas-aula, 15 aulas)
Aula 1: Cinema e Alimentação
Filme Lunchbox (BATRA, 2013) e discussão sobre os aspectos afetivos da alimentação;
Aula 2: Literatura e Alimentação
Atividades com Poemas da Cora Coralina (2012) e Documentário biográfico Cora Coralina Todas as Vidas
(BARBIERI, 2017);
Aula 3: Artes, História, Geografia, Socioantropologia da Alimentação 1
Leitura, discussão do texto e do Documentário de Registro do Patrimônio: Sistema Agrícola Tradicional do Rio
Negro, AM (IPHAN, 2010);
Aula 4: Artes, História, Geografia, Socioantropologia da Alimentação 2
Leitura, discussão do texto e do Documentário de Registro do Patrimônio: Sistema Agrícola Tradicional
Quilombola do Vale do Ribeira, SP (ISA, 2017);
Bianca Martins FABBRI e Julicristie Machado de OLIVEIRA
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Aula 5: Artes, História, Geografia, Socioantropologia da Alimentação 3
Leitura, discussão do texto e do Documentário de Registro do Patrimônio: Ofício das Paneleiras de Goiabeiras,
ES (IPHAN, 2006);
Leitura, discussão do texto e do Documentário de Registro do Patrimônio: Ofício das Baianas de Acarajé, BA
(IPHAN, 2007);
Aula 6: Formação da Culinária Brasileira 1
Seminário apresentado pelas estudantes em grupos com base em capítulos do livro de Dória (2014);
Aula 7: Formação da Culinária Brasileira 2
Seminário apresentado pelas estudantes em grupos com base em capítulos do livro de Dória (2014);
Aula 8: Livros de Receitas, Culinárias, Memórias e Afetos
Discussão de receitas dos Livros o Cozinheiro Nacional (1985) e do Livro de Cozinha da Infanta D. Maria
(1986);
Aula 9: Prática 1 - Culinária Paulista, Quilombola, Culinária Catarinense e Gaúcha
Aulas práticas em Laboratório de Técnica Dietética com culinárias regionais;
Aula 10: Prática 2 - Culinária Mineira, Goiana, Baiana e Paraibana
Aulas práticas em Laboratório de Técnica Dietética com culinárias regionais;
Aulas 11 a 14: Preparação dos Trabalhos Finais
Trabalho de campo com as famílias de cada estudante para que registrassem as receitas tracionais e elaborassem
um livro;
Aula 15: Entrega e Apresentação dos Trabalhos Finais
Apresentação dos Trabalhos Finais, o Livro de Receitas, de cada estudante.
Fonte: Elaborado pelas autoras
Foram realizados dois grupos focais com 9 estudantes voluntárias, um no último dia de
aula prática da disciplina e o outro após a entrega dos trabalhos finais, seguindo as
recomendações de Trad (2009). As mesmas 9 estudantes participaram dos dois grupos focais.
Todas as 24 estudantes matriculadas na disciplina foram convidadas a participar e 9
consentiram voluntariamente, mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE). O projeto foi submetido, analisado e aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa nas Ciências Humanas e Sociais (CEP CHS) da Pró-reitora de Pesquisa,
PRP/Unicamp (CAAE: 09026919.2.0000.5404).
Os grupos contaram com uma moderadora (primeira autora do estudo), que seguiu um
roteiro de perguntas e temas para conduzir e mediar a discussão. Esse roteiro contava com as
seguintes questões: A disciplina influenciou suas percepções sobre os aspectos social, cultural
e afetivo da alimentação? Se sim, como? Quais atividades ou conteúdos da disciplina você
considera mais marcantes na sua percepção sobre a cultura alimentar? Qual importância você
atribui ao ensino sobre Alimentação e Cultura para futuros profissionais de Nutrição? Qual foi
a contribuição da disciplina e suas atividades para a sua formação em específico, pensando na
área que pretende atuar? Que outras atividades e conteúdos você acredita que poderiam ser
trabalhados para auxiliar na compreensão dos aspectos social, cultural e afetivo da alimentação?
A duração dos dois grupos foi de cerca de 60 minutos. Os áudios foram gravados com auxílio
de um celular e posteriormente transcritos.
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Para tratamento dos dados, foi utilizada a análise de conteúdo de acordo com as
orientações de Moraes (1999), Bardin (2011) e Minayo, Deslandes e Gomes (2016). A análise
foi organizada em três etapas: a pré-análise com leitura flutuante dos registros em diário de
campo e das transcrições dos grupos focais; a exploração desses registros e transcrições; e a
análise dos resultados, transpondo-os em categorias semânticas para propiciar a interpretação e
inferência.
A definição de categorias semânticas foi realizada por seus elementos comuns sob as
seguintes chaves: valorização das culturas, opressão das culturas, memória e afeto, formação e
atuação profissional. Para preservar a identidade das estudantes voluntárias, cada uma recebeu
um nome de uma pedra: Ametista, Esmeralda, Opala, Pedra da Lua, Rubi, Safira, Topázio,
Turquesa e Turmalina.
Os registros da observação participante e os áudios transcritos dos grupos focais foram
sistematizados e analisados, tendo como base um corpo teórico constituído por livros de
referência nos estudos da Alimentação, como Fischler e Masson (2010), Montanari (2013),
Bloch-Dano (2011), Pinto e Silva (2005), Dória (2014) e Rossi (2014), além de artigos
científicos pertinentes.
Resultados e Discussão
A partir das análises dos registros da observação participante e das transcrições, foram
definidas categorias semânticas que permitiram aprofundar a compreensão das percepções das
estudantes sobre o processo de ensino de temas sobre Alimentação na graduação em Nutrição.
1ª Categoria - Respeito e valorização das culturas e modos de fazer tradicionais
O contato com os modos de vida dos povos e comunidades tradicionais, indígenas e
quilombolas, e o choque cultural entre esses modos e os familiares às estudantes, levou-as a
uma maior percepção sobre as muitas formas de ocupar um espaço e viver nele, enfatizando a
necessidade de respeitar as outras culturas e suas diferenças:
[..] o que me impactou mais é ver como...n/não precisamos falar “nossa, isso
eu faço melhor”, sabe, é diferente, [...] e é isso que eu acho que a gente
trabalhou um pouco sobre alteridade [...] que é mais ou menos você respeitar
a cultura do outro, você não/não pode valorizar mais a sua do que a outra
(Ametista, Grupo Focal).
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Rossi (2014 comenta que os seres humanos enxergam outra cultura com as lentes
daquela a qual pertencem, deflagrando um processo reflexivo. Nas relações entre os povos, as
trocas culturais, como as culinárias, são constantes, pois a cultura e a identidade alimentar são
resultados de longos e complexos processos de intercâmbios (MONTANARI, 2013). Dessa
forma, cada modo de fazer não é único e imutável, mas produto de inúmeras inserções e
adaptações.
A partir do aprendizado sobre as comunidades indígenas do Rio Negro e quilombolas
do Vale do Ribeira, as estudantes demonstraram valorização do conhecimento sobre o cultivo
e a intensa energia de trabalho aplicada. Levantaram a necessidade de se reconectarem com o
processo de produção, distante de suas realidades, mas parte essencial dela. Compreenderam a
importância e a riqueza do conhecimento tradicional, da relação com a terra, as plantas e a
natureza:
Nós não temos noção nenhuma de tudo o que o alimento sofre pra chegar até
a gente. Quando chega pra nós no mercado, pronto (Registro em diário
referente à aula sobre o Sistema Agrícola do Rio Negro, de comunidades
indígenas).
[...] eu... acho tanto que os indígenas, eles têm conhecimento de tanta [ênfase]
coisa, e a gente não leva isso em consideração e não dá valor nenhum [ênfase]
dentro da sociedade [...] (Rubi, Grupo Focal).
Em um estudo conduzido em distintos países, Fischler e Masson (2010) identificaram
um sentimento semelhante entre os participantes do Reino Unido. Estes relataram uma carência
de conhecimento acerca da origem e do processo de produção dos alimentos, bem como uma
percepção de serem consumidores passivos e pouco conscientes.
As estudantes debateram sobre o excesso de tecnologia envolvida na produção alimentar
atual e destacam a sua distância do modelo de cultivo tradicional, mais simples, mas produtivo,
sustentável e vinculado aos saberes milenares. Elas também apontaram caminhos para a solução
da insegurança alimentar e nutricional e a crise ambiental:
Nós precisamos mudar a nossa forma de produzir e essas sociedades podem
ser a chave para nos ensinar como (Registro em diário referente à aula sobre
o Sistema Agrícola Tradicional das Comunidades Quilombolas do Vale do
Ribeira).
Nesse mesmo sentido, Montanari (2013) comenta que, nas sociedades tradicionais,
utilizam-se diversas variedades de alimentos, colhidos em diferentes épocas do ano, o que é
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interessante para a segurança alimentar e nutricional e equilíbrio ecológico. Assim, as
estudantes, ao conhecerem os sistemas tradicionais, puderam vislumbrar soluções para as
principais demandas do campo da alimentação que perpassam pela valorização de saberes das
populações oprimidas.
2ª Categoria - A opressão das culturas negra, indígena e menosprezo pelo local
A partir da leitura e estudo do livro “A formação da culinária brasileira: escritos sobre
a cozinha inzoneira” de Carlos Alberto Dória (2014), as estudantes observaram a influência dos
povos formadores da culinária de nosso país: indígenas, africanos e portugueses. Dória (2014)
desconstrói o mito da formação da culinária brasileira, no qual os três teriam contribuições
igualitárias. Na realidade, porém, houve quase total supressão das culinárias indígena e africana
durante os violentos processos de dominação portuguesa:
Eu também fiquei horrorizada com a visão do extermínio dos indígenas... a
ideia da miscigenação que aprendemos na escola vela essa violência (Registro
em diário referente à aula sobre os impactos da leitura do livro “A formação
da culinária brasileira”, trabalhado em seminários).
Dória (2014) comenta que os alimentos advindos dos povos indígenas são vistos como
se fossem encontrados na forma em que conhecemos na natureza, o que menospreza os
conhecimentos e a atuação das diversas gerações na seleção e domesticação necessárias para
agregar a cada espécie suas características atuais. O autor discute também que a ideia da
contribuição culinária de africanos escravizados:
Do mesmo modo que a escravidão recalca ou suprime a pessoa, ela
impossibilita o que chamamos hoje de criatividade culinária. Ao escravo não
era dado escolher coisa alguma, muito menos a sua alimentação, e se ele
participava das cozinhas da casa-grande era para satisfazer aos desejos de seus
senhores e das sinhás que orientavam as cozinhas domésticas (DÓRIA, 2014,
p. 69).
As estudantes comentaram sobre o desprezo por tudo que é local, com exaltação do
importado, especialmente da Europa. Assim, ressaltaram a importância de valorizar nossa
cultura, nossa história, que nós muitas vezes nem conhecemos, discutindo que a chave para a
mudança esteja no contato com nosso passado:
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[...] acho que essa questão de dar valor, esse complexo de vira-lata que a gente,
brasileiro tem sabe [...] de achar que a gente não tem história [ênfase], mas
muito por que a nossa história é velada [ênfase] né, a nossa história vem da
escravização, vem de um passado de escravização, de dizimação indígena [...]
(Turquesa, Grupo Focal).
Segundo Dória (2014), em países de história colonial dificilmente ocorreu um processo
de formação de símbolos culinários capazes de unir toda população, afinal, as elites, cuja
identidade girava em torno de sua origem europeia, não desejavam se unir a outras classes e
povos originários, a quem desprezavam como inferiores. Portanto, a exaltação do estrangeiro
remete ao passado europeu das elites e o desdém pelo local advém desse cenário, uma forte
herança cultural ainda presente.
Nesse sentido, Sammartino (2020) em uma perspectiva decolonial, analisa as tensões
relativas às delimitações de patrimônios, o resgate de alimentos e pratos para o mercado
turístico, bem como os impactos para as populações estigmatizadas de países do sul. A autora
destaca que tais processos intensificam as concepções sobre o que é superioridade ou
inferioridade em termos alimentares, o que reforça o legado colonial e suas iniquidades
subjacentes (SAMMARTINO, 2020).
As atividades desenvolvidas na disciplina, como as aulas que abordaram as sociedades
tradicionais, os Patrimônios Culturais brasileiros e o livro de Dória (2014), suscitaram uma
maior inclinação nas estudantes para valorizar elementos locais, resgatar a cultura e a história
próprias, enxergando tais aspectos como um caminho para o autoconhecimento e a
autodescoberta:
E a gente basicamente nessa disciplina usou a comida para entender a história
[...] a gente partiu de um prato e descobriu que... a nossa... tradição negra tem
total influência naquilo sabe, então... a comida é muito poderosa [risos]
(Turquesa, Grupo Focal).
Segundo Dória (2014), em cada prato de um certo território, é possível encontrar
vestígios dos povos que contribuíram com a formação da comida local. Assim, a comida é um
caminho para conhecer a história de um povo, seus processos de formação e suas origens.
O comer, a comida e a cultura: análise do processo de ensino sobre alimentação na graduação em nutrição
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3ª Categoria - Comida, memória, tradição e laços afetivos
As estudantes observaram mais profundamente as ligações da comida com a cultura, a
religião, os hábitos do cotidiano e a história ao conhecerem as Baianas do Acarajé e discutiram
os significados desse prato e seus ingredientes dentro do Candomblé. Comentaram também que
as religiões de matriz africana, como o Candomblé e a Umbanda, têm uma intensa ligação com
a comida. Como uma estudante comentou “não se festeja sem comida”:
Eu achei muito bonito todo o significado que tem pra ela... não é um
bolinho, é ligado à religião, é uma forma de adorar aos orixás, tem toda a força
do dendê, as guias, tem todo um significado de vida para essas pessoas e o
Candomblé sofre muito preconceito (Registro em diário referente ao Ofício
das Baianas de Acarajé, apresentado em aula).
Novamente, o livro de Dória (2014), parte essencial da disciplina, aparece nos
comentários das estudantes, ampliando sua visão sobre a alimentação. De modo específico, o
laço dos brasileiros com o feijão faz nova aparição, dessa vez sob um olhar cultural:
Eu vi que a culinária não é uma junção de pratos, é histórica (Registro em
diário referente aos impactos da leitura do livro “A formação da culinária
brasileira: escritos sobre a cozinha inzoneira” de Carlos Alberto Dória,
trabalhado em seminários).
Eu achei o feijão muito importante, porque realmente o feijão é a história do
Brasil, tanto do indivíduo quanto da região, isso me ajudou a ver que o
alimento é realmente história, é cultura (Registro em diário referente aos
impactos da leitura do livro “A formação da culinária brasileira: escritos sobre
a cozinha inzoneira” de Carlos Alberto Dória, trabalhado em seminários).
Segundo Bloch-Dano (2011), os alimentos estão constantemente cercados por
associações simbólicas, em diversas épocas da história da humanidade. Dentre as muitas
associações culturais com os alimentos discutidas pela autora, são citados alguns exemplos: “o
cereal constitui a base e o símbolo dos camponeses, ao passo que a carne, durante muito tempo,
era sinal de riqueza e luxo”, os vegetais têm “pouco lugar na poesia e na arte”, têm sentido
pejorativo na cultura e tratar uma pessoa como vegetal é ofensivo (BLOCH-DANO, 2011).
Durante a Idade Média, as mesas aristocráticas enalteciam animais selvagens, livres
como os nobres. Assim, o uso da simbologia enlaça as características intrínsecas do alimento
àquele que o consome, trazendo a ideia de que o indivíduo é o que consome, e consome o que
é (BLOCH-DANO, 2011). Dessa forma, entre os seres humanos, quais alimentos são
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consumidos, quanto, em que ordem e seu modo de preparo são recheados de significados e
laços culturais.
A comida está intensamente ligada à memória: o doce que se comia nas festas de
infância, o bolo que a avó fazia no fim de tarde, o prato que era feito no Natal. As preparações
nos ligam a momentos de nossas vidas em que aqueles pratos estavam presentes, pois o alimento
está também em nossas memórias (BLOCH-DANO, 2011).
Aqui temos o conceito de memória gustativa, trabalhado em aula e apreendido pelas
estudantes através de discussões e atividades:
Alguns alimentos trazem memórias boas e ruins [...] O alimento tem poder de
te fazer reviver um momento da sua vida, bom ou não (Registro em diário
referente à memória gustativa, discutida em aula).
A alimentação é também um meio de união e formação de vínculos, assim como uma
forma de demonstrar afetividade e carinho pela pessoa para quem se cozinha:
[...] comida é vínculo, a gente faz tudo por conta da comida entendeu, então a
gente vai sair a gente vai comer [ênfase] junto com a pessoa, tudo isso [...]
então se você/ acho que é isso, se você quer se relacionar com alguma pessoa,
se você quer cativar [ênfase] a pessoa, chame para comer (Pedra da Lua,
Grupo Focal).
E é prazeroso você chamar alguém pra comer a sua [ênfase] comida [...] (Rubi,
Grupo Focal).
Como comenta Montanari (2013), o comer junto e o partilhar a comida são
características da espécie humana, que podem ser considerados um modo de se atestar que se
faz parte de uma mesma família. Assim, a comensalidade, a união ao partilhar a comida, é parte
fundamental da existência humana. A comida é um instrumento de criação de laços entre as
pessoas. Como expõem Fischler e Masson (2010), na cultura francesa, marcada pela
convivialidade, pelo comer bem e em companhia, aquele que prepara o alimento oferece de si
ao outro por meio da dedicação no preparo.
No entanto, a comida nem sempre traz significados bons. Muitas vezes ela expressa em
memórias de carestia, de restrição:
[...] quando pensamos nas palavras de acordo com o título do poema
‘Antiguidades’, nós pensamos em ‘Afeto’ relacionado a ‘Antiguidades’, e
quando a gente leu o poema nós vimos que o afeto, materializado no bolo, era
reservado para as visitas, e negado ou dado à míngua, em migalhas, para as
pessoas que eram da casa, as crianças, sedentas de afeto” (Registro em diário
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referente ao poema “Antiguidades” de Cora Coralina, lido e trabalhado em
atividade criativa em aula).
A partir das atividades, as estudantes perceberam o desuso da oralidade e do “fazer
junto”, gerando uma perda do saber culinário. Relacionaram a tradição dos sistemas agrícolas
do Rio Negro e do Vale do Ribeira, que correm risco de se perderem devido ao desinteresse da
juventude, com as próprias experiências, refletindo sobre a fragilidade da tradição, da
transmissão. Consideram que parece não haver mais tempo para cozinhar junto dos mais velhos
e compartilhar tradições e histórias:
Eu fico pensando o quão [ênfase] finito é, porque tipo a gente já não tem mais
a tradição de antes, e os nossos filhos também não vão ter, tipo, é uma coisa
que não vai durar, então a gente vai perder a tradição... [...] e a gente perde a
história ao mesmo tempo [...] (Topázio, Grupo Focal).
Segundo Fischler e Masson (2010), as tradições culinárias são um laço com nossa
história, com nossa cultura, com nossa herança, que se perdem quando não compartilhadas com
as novas gerações. Segundo os autores, no polo cultural influenciado pelos Estados Unidos, do
qual faz parte o Brasil, a alimentação perde contato com seu contexto convivial, de
compartilhamento, e se torna individualista. Assim, o comer junto, e, ainda mais, o cozinhar
junto, não é mais parte dos nossos hábitos diários. Com isso, a transmissão de conhecimento
oral e dos gestos culinários, aprendidos por imitação, realizada no preparo conjunto dos
alimentos, deixa de ocorrer, levando à perda desses saberes (FISCHLER; MASSON, 2010).
As receitas podem ser um registro da história, tanto individual quanto coletiva. As
receitas de outras épocas podem fornecer pistas sobre as condições socioculturais e econômicas
das pessoas que as preparavam e consumiam. O trabalho final da disciplina, em que cada
estudante escreveu um livro de receitas de suas famílias, despertou a visão para os aspectos
afetivos envolvidos no hábito de escrever, de trocar receitas e o potencial para unir as pessoas.
A alimentação define as pessoas, marca momentos de suas vidas e as receitas guardam a sua
história:
[...] e eu peguei da minha mãe [...] a maioria das receitas eu peguei dela, e aí
eu fui perguntando, tipo as receitas da [###], que você comia quando era
criança, e foi legal de ir vendo, de conhecer a história [ênfase] da nossa
família também (Turquesa, Grupo Focal).
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Em uma atividade em sala de aula, foram lidos e discutidos textos sobre a história dos
livros de receitas, os quais auxiliaram na percepção das estudantes sobre a compreensão da
importância desses dispositivos como fontes de registro dos hábitos, da cultura, da economia e
até da política. Como expõe Monteleone (2021), na época das Grandes Navegações, o uso
intenso de especiarias, de alto custo e difícil acesso nas preparações, era uma forma de
demonstração de poder econômico.
As estudantes comentaram também que, pela posição social dos autores dos livros de
receitas antigos discutidos em aula, muitas vezes o conhecimento preservado é um registro
somente da alimentação das elites. Afinal, como comenta Montanari (2013), a escrita é elitista
e os registros são feitos por membros da elite para outros membros da elite, resultando em uma
ausência de registro da alimentação e da cultura do povo, que é transmitida por tradição oral.
As receitas demonstram ser rica fonte de conhecimento e valioso instrumento para a
compreensão da cultura de outras sociedades. Segundo Pinto e Silva (2005), por meio da
preparação dos alimentos, os valores e hábitos de cada sociedade podem ser compreendidos,
principalmente ao se considerar que a escolha e a preparação dos alimentos carregam algo
daquele que os cozinha, revelando a forma de ver o mundo de cada cultura.
Dessa forma, as receitas refletem sua época, perpetuam conhecimentos de certos
contextos, ampliam a compreensão dos modos de vida de gerações anteriores e dão pistas para
desdobramentos contemporâneos.
4ª Categoria - O cuidado, a formação e atuação do profissional de Nutrição
As estudantes observaram que o cuidado em alimentação e nutrição vai muito além dos
aspectos fisiológicos e bioquímicos, pois apresentam carga sociocultural, emocional e todos
esses aspectos devem ser considerados no processo de no cuidado:
[...] você se reconectar realmente com o alimento né, não é [...] nutrir o
fisiológico ali né, o que você alimentando naquela pessoa é muito mais do
que a comida em si, eu acho que é isso principalmente que a matéria o tempo
todo aborda […] (Pedra da Lua, Grupo Focal).
Como comenta Montanari (2013), os comportamentos alimentares são resultados não
somente de fatores econômicos e nutricionais, pensados racionalmente, mas também de
escolhas conectadas aos símbolos que carregamos conosco, e dos quais somos, de certa forma,
também prisioneiros.
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Assim, a visão fragmentada do indivíduo, focando apenas em seus aspectos fisiológicos,
ignora a realidade sociocultural, histórica e afetiva da qual ele faz parte. Deste modo, a
percepção da condição de saúde da qual é portador por ser afetada, impedindo o tratamento
global da doença, e, consequentemente, reduzindo as chances de que seja bem-sucedido:
O enfoque predominantemente biológico distanciou, progressivamente, as
questões sociais das questões vinculadas ao corpo, excluindo a condição
humana do organismo para sustentar outros objetivos científicos (FREITAS
et al., 2008, p. 211).
Com essa possibilidade de análise, ao buscar compreender a orientação de cunho
normativa do profissional, observa-se que a dieta, no âmbito da atenção nutricional, pode ser
alçada à categoria de receita medicamentosa. O receituário dietético, com nutrientes
organizados, se opõe à cultura, à tradição, aos hábitos e aos valores atribuídos ao comer
(FREITAS et al., 2008).
Os cursos de Nutrição, em geral, preparam de modo limitado o profissional para lidar
com o contexto sociocultural e afetivo da alimentação, que influencia na forma como o sujeito
em atenção nutricional recebe o tratamento, bem como o sucesso do mesmo. Como comentam
Freitas et al. (2008, p. 208), “ausência ou a fragmentação dos conteúdos humanos na
formação do profissional nutricionista que, em geral, é estimulado a pensar o indivíduo e a
sociedade como entidades desconectadas”.
Durante as discussões com as estudantes, ressaltou-se a importância do ensino de
aspectos humanísticos e sociais da Alimentação para Nutricionistas e demais profissionais da
saúde. Essa abordagem surge como uma forma de humanizar o olhar e ampliar a capacidade de
respeitar as diferenças nos modos de alimentação dos sujeitos em atenção nutricional.
A abordagem das Ciências Humanas e Sociais no âmbito da Alimentação e Nutrição
promove a geração de um conhecimento aprofundado e sensível acerca da relação entre o
sujeito que demanda atenção nutricional e o profissional nutricionista. Com esse foco, os
aspectos econômicos, socioculturais, políticos, geográficos e históricos podem estimular
práticas transformadoras, como a alteração de hábitos não saudáveis (FREITAS et al., 2008).
A partir das atividades da disciplina, as estudantes aumentaram sua compreensão desse
cenário e comentaram sobre a necessidade da disciplina se tornar obrigatória tanto no curso do
qual elas fazem parte quanto em todos os cursos de Nutrição:
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Eu acho que a disciplina foi bem importante porque... ela mostrou um lado
que a gente quase nunca no curso de Nutrição [...] eu acho que é importante
ter esse contato sabe, e... não são todos os cursos que têm, o nosso mesmo não
tem, a gente teve que fazer uma disciplina eletiva pra ter mais conhecimento
sabe... (Topázio, Grupo Focal).
As estudantes debateram sobre estigmas que cercam a Nutrição atualmente, entre os
quais está a visão do Nutricionista não como profissional da saúde, mas como “emagrecedor”,
ou seja, como profissional da estética, e sobre a responsabilidade que têm em desconstruir esse
conceito, de posse da nova visão adquirida pela experiência da disciplina.
[....] a importância de a gente estar tendo esse tipo de aula, esse tipo de
formação é isso, “não gente, senta aqui que a Nutrição mudou” sabe “vamos
contar a história da Nutrição atual, agora”, e é isso sabe, tipo contar... acho
que as pessoas não enxergam a Nutrição como um profissional da saúde
[ênfase] sabe... é um profissional... da estética (Turquesa, Grupo Focal).
Outro estigma é a proibição dos alimentos, divididos em “bons” e “ruins”, muitas vezes
propagada pelos próprios nutricionistas, que, assim, são vistos como “proibidores de
alimentos”. As estudantes também comentaram sobre como outros profissionais contribuem
para a manutenção dessa atitude restritiva, ao fornecer aos sujeitos em atenção nutricional listas
de alimentos proibidos, sem considerar a individualidade de cada um, e adentrando a área de
atuação da Nutrição:
Elas não podem [não sentem que podem] ter autonomia entendeu, porque a
Nutrição é vista como “restringir, o que pode e o que não pode” [ênfase]
[batendo a mesa enquanto fala] (Rubi, Grupo Focal).
Mas sabe qual é o maior problema disso, o problema é que eles provavelmente
já passaram por profissionais que trataram eles assim (Safira, Grupo Focal).
As alunas demonstraram humanização do olhar como profissionais da saúde e aumento
da percepção dos laços culturais, históricos e afetivos que o indivíduo tem com o comer.
Comentaram também sobre a limitação de conteúdos educativos relativos ao universo
sociocultural em que está envolvida a alimentação nos cursos de Nutrição:
[...] chega o paciente pra gente que tem toda uma carga cultural [...] a gente
olha com outros olhos [...] a gente vai ter uma mente mais aberta pra
entender o que se passa [ênfase] na cabeça daquele paciente, [...] pra mim [a
disciplina] já mudou completamente a forma como a gente vê os alimentos, a
nutrição e a cultura dentro da nutrição, que é uma coisa completamente
importante que na faculdade é muito raso e é muito superficial [...] (Safira,
Grupo Focal).
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É imprescindível que se ouça o sujeito em atenção nutricional, a fim de conhecer e
compreender sua realidade e suas perspectivas, as quais são determinantes na forma como lida
com sua condição de saúde, afinal “uma proposta humanizadora da nutrição é a compreensão
do nutricionista quanto ao significado da alimentação para o comensal, a interpretação do
sujeito sobre sua dieta, seu corpo em seu mundo” (FREITAS et al., 2008, p. 211).
As estudantes destacam também a importância de não impor as orientações aos sujeitos
em atenção nutricional, mas explicá-las, emponderando-os para que compreendam e ganhem
autonomia e responsabilidade sobre si mesmos. O respeito pelo indivíduo, sua cultura e sua
forma de viver, aprendidos durante a disciplina, aparece como parte fundamental da atuação do
nutricionista, a qual, segundo referem, deve sempre ser guiado pela saúde, em qualquer área de
ação, inclusive a estética:
[...] não quer dizer que a Nutrição não possa trabalhar em estética, [...] só que
não é [ênfase] estética, e envolver estética não quer dizer que você não deva
envolver aspectos culturais, sociais, de saúde etc. é uma coisa que tem que
estar vinculada a tudo [...] tem que estar relacionado com saúde [ênfase],
sempre [ênfase], né, seja mental, física (Rubi, Grupo Focal).
Freitas et al. (2008, p 213) comentam que muitas concepções simbólicas fazem parte da
alimentação, e das relações sociais do indivíduo e a prescrição de dietas provoca um mal-estar
“pela ruptura dos hábitos alimentares” e “interfere na identidade social do indivíduo”. Assim,
o respeito pelo indivíduo e seu contexto de vida é essencial no tratamento nutricional, para que
a proposição de mudanças alimentares esteja inclusa na realidade do indivíduo e não promova
a ruptura dos laços que já detém com o alimento.
Da mesma forma, as alunas ponderaram sobre o papel do nutricionista em possuir uma
visão abrangente do alimento, considerando-o como parte de um contexto sociocultural e
afetivo mais amplo. Além disso, discutiram a importância de desenvolver esse novo olhar junto
ao sujeito, afastando-se da visão fragmentária do alimento, que o reduz exclusivamente a seus
componentes nutricionais.
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Considerações finais
O processo de ensino conduzido na disciplina Alimentação e Cultura fomentou a
humanização do olhar profissional pelas estudantes de Nutrição, que se mostraram mais
sensíveis aos contextos socioculturais, históricos e afetivos da Alimentação. As angustias e as
dificuldades alimentares, muito presentes na atualidade, receberam destaques. As discussões
edificaram, porém, rotas que podem aplacar tais sentimentos, como o fortalecimento das
tradições alimentares, a reconexão com o cultivo e produção de alimentos.
Com a ótica da cultura, foram explorados e debatidos os estigmas da Nutrição e da
prática do Nutricionista, muitas vezes ainda visto como “emagrecedor” e “o profissional que
proíbe alimentos”. Tais percepções desarticulam os vínculos humanos com a alimentação,
geram angústias tanto para o profissional quanto para o indivíduo em atenção nutricional, sendo
este último incentivado a abster-se de consumir alimentos que integram sua história e cultura,
sob a classificação de “inadequados”.
A partir das aulas e propostas de atividades, as estudantes aumentaram a compreensão
sobre esse cenário. Conclui-se, portanto, que o objetivo da disciplina foi alcançado, ao propiciar
as alunas de Nutrição oportunidades de construir conhecimento e debater temas relevantes para
se tornarem profissionais capazes de compreender aspectos humanísticos e sociais da
alimentação.
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2023.
CRediT Author Statement
Reconhecimentos: Agradecimento à Pró-Reitoria de Pesquisa, PRP/Unicamp, pela
concessão de Bolsa PIBIC/CNPq.
Financiamento: A primeira autora recebeu Bolsa PIBIC/CNPq.
Conflitos de interesse: A segunda autora é a professora responsável pela disciplina que foi
avaliada.
Aprovação ética: O projeto de pesquisa foi submetido, analisado e aprovado por Comitê
de Ética.
Disponibilidade de dados e material: Os dados e materiais utilizados na pesquisa estão
em arquivos eletrônicos e disponíveis para acesso mediante requisição.
Contribuições dos autores: Ambas as autoras participaram da concepção do projeto, da
análise dos dados e da redação da versão final do artigo. A primeira autora foi responsável
pelos registros em diário de campo, pela condução, gravação e transcrição dos áudios dos
grupos focais.
Processamento e editoração: Editora Ibero-Americana de Educação.
Revisão, formatação, normalização e tradução.
EDI
Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 19, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 2526-3471
DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v19i00.17655 1
EATING, FOOD AND CULTURE: ANALYSIS OF THE TEACHING ABOUT FOOD
IN UNDERGRADUATE IN NUTRITION
O COMER, A COMIDA E A CULTURA: ANÁLISE DO PROCESSO DE ENSINO
SOBRE ALIMENTAÇÃO NA GRADUAÇÃO EM NUTRIÇÃO
O COMER, A COMIDA E A CULTURA: ANÁLISE DO PROCESSO DE ENSINO
SOBRE ALIMENTAÇÃO NA GRADUAÇÃO EM NUTRIÇÃO
Bianca Martins FABBRI1
e-mail: lapes@unicamp.br
Julicristie Machado de OLIVEIRA2
e-mail: julicr@unicamp.br
How to reference this article:
FABBRI, B. M.; OLIVEIRA, J. M. Eating, food and culture:
Analysis of the teaching about food in undergraduate in nutrition.
Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 19, n. 00, e023014, 2023.
e-ISSN: 2526-3471. DOI:
https://doi.org/10.26673/tes.v19i00.17655
| Submitted: 25/01/2023
| Revisions requested: 07/08/2023
| Approved: 11/10/2023
| Published: 30/12/2023
Editors:
Prof. Dr. Luci Regina Muzzeti
Prof. Dr. Rosangela Sanches da Silveira Gileno
Deputy Executive Editor:
Prof. Dr. José Anderson Santos Cruz
State University of Campinas (UNICAMP), Limeira SP Brazil. Graduated in Nutrition.
State University of Campinas (UNICAMP), Limeira SP Brazil. Doctoral degree in Public Health Nutrition
from the School of Public Health. Faculty member of the Undergraduate Nutrition Program, the Graduate Program
in Nutrition Sciences, and the Sports and Metabolism Program (CNEM).
Eating, food and culture: analysis of the teaching about food in undergraduate in nutrition
Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 19, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 2526-3471
DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v19i00.17655 2
ABSTRACT: The teaching of human and social aspects of Food in the Nutrition undergraduate
has become an important object of reflection and debate. The aim of this study was to analyze
the teaching about Food to Nutrition students at a state university in Sao Paulo, within the scope
of the Food and Culture course. Data collection was carried out through participant observation
of classes and two focus groups carried out with 9 students. After data analysis, semantic
categories were listed on the topics covered, such as "Respect and appreciation of traditional
cultures and way of doing", "The oppression of black and indigenous cultures and contempt for
the local", "Food, memory, tradition and affective bonds” and “Care, training and performance
of the nutritionist”. In conclusion, the course was able to humanize the perspective of future
Nutrition professionals, making them more sensitive to sociocultural and affective aspects of
Food.
KEYWORDS: Food. Culture. University education. Nutrition.
RESUMO: O ensino dos aspectos humanísticos e sociais da Alimentação para a graduação
em Nutrição tem se tornado um importante objeto de reflexão e debate. O objetivo deste estudo
foi analisar o processo de ensino sobre Alimentação para estudantes de Nutrição de uma
universidade estadual paulista, no âmbito da disciplina Alimentação e Cultura. A coleta dos
dados foi realizada por meio de observação participante das aulas e de dois grupos focais
realizados com 9 estudantes. A partir da análise dos dados, foram elencadas categorias
semânticas sobre os temas tratados, como “Respeito e valorização das culturas e modos de
fazer tradicionais”, “A opressão das culturas negra, indígena e menosprezo pelo local”,
“Comida, memória, tradição e laços afetivos” e “O cuidado, a formação e atuação do
nutricionista”. Concluiu-se que a disciplina foi capaz de humanizar o olhar das futuras
profissionais de Nutrição, tornando-as mais sensíveis aos aspectos socioculturais e afetivos da
Alimentação.
PALAVRAS-CHAVE: Alimentação. Cultura. Ensino superior. Nutrição.
RESUMEN: La enseñanza de aspectos humanísticos e sociales de la Alimentación en la
graduación en Nutrición se ha convertido en importante objeto de reflexión y debate. El
objetivo de este estudio fue analizar la docencia de la Alimentación para estudiantes de
Nutrición de una universidad estatal paulista, en la disciplina Alimentación y Cultura. La
recolección de datos se realizó a través de la observación participante y los grupos focales
realizados con 9 estudiantes. A partir del análisis, se enumeraron categorías semánticas sobre
los temas tratados, como "Respeto y valoración de las culturas y formas de hacer
tradicionales", "La opresión de las culturas negras, indígenas y el desprecio por lo local",
"Comida, memoria, tradición y vínculos afectivosy “El cuidado, formación y actuación del
nutricionista”. Se concluyó que la disciplina logró humanizar la perspectiva de los futuros
profesionales de Nutrición, haciéndolos más sensibles a los aspectos socioculturales y afectivos
de la Alimentación.
PALABRAS CLAVE: Alimentación. Cultura. Enseñanza superior. Nutrición.
Bianca Martins FABBRI and Julicristie Machado de OLIVEIRA
Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 19, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1519-9029
DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v19i00.17655 3
Introduction
Nutrition is a fundamental dimension of social and cultural life, as it is closely linked to
individual and collective imaginaries (MENASCHE; ALVAREZ; COLLAÇO, 2012).
Additionally, it establishes a connection with the past, the environment, and the places where
life experiences are constructed (BLOCH-DANO, 2011). The various eating forms unveil a
society's significant characteristics, reflecting its social structures and lifestyle patterns (ROSSI,
2014). Eating binds us to the land, history, culture, and personal and collective memories
(MONTANARI, 2013).
National and traditional cuisines face a significant battle against nutritionism,
threatening them by reducing food and its entire complexity to a fragmented view of "nutrients"
(DÓRIA, 2021). However, humans do not merely ingest nutrients; they eat, savor, and
incorporate interconnected, affective, and chemical elements (BLOCH-DANO, 2011).
Given that nutrition is a phenomenon endowed with complexity, involving various
dimensions related to ethical, aesthetic, technical, and other issues (BENEMANN et al., 2023),
a profound understanding of its humanistic and social aspects is required, especially in the
context of educational processes for professionals who consider it a privileged subject, such as
nutritionists.
Despite the relevance of teaching these aspects of nutrition in undergraduate nutrition
programs, studies analyzing their pedagogical dimensions have not been identified. Thus, the
present study aims to analyze the teaching process of nutrition for nutrition students within the
scope of the "Food and Culture" discipline at the College of Applied Sciences, State University
of Campinas, FCA/UNICAMP.
Methodology
This pertains to a qualitative study wherein data were collected through participant
observation of classes held in the "Food and Culture" discipline at FCA/Unicamp, along with
conducting focus groups with the respective students.
The discipline is grounded in the frameworks of Humanities and Social Sciences within
the realm of Food and Nutrition. It emphasizes Food in its historical, geographical, and socio-
anthropological aspects, addressing its interconnections with Arts and Literature, agricultural
and Food practices of traditional peoples and communities, the formation of Brazilian cuisine,
national food heritages, the history of recipe books, commensality, and taste memories.
Eating, food and culture: analysis of the teaching about food in undergraduate in nutrition
Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 19, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 2526-3471
DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v19i00.17655 4
Through lectures, discussions, and culinary practices, the goal is to collaboratively construct a
space for debate and understanding of the historical, sociocultural, and affective aspects of
nutrition with nutrition students.
The analysis of the aforementioned discipline was conducted based on data recorded in
a field diary (participant observation) by the first author of the study, who attended all classes
of the "Food and Culture" discipline intensively in February 2020, taught by the second author
of the study.
Detailed information about the discipline and its developmental plan is described in
Table 1. As suggested by Mónico et al. (2017), a qualitative record was compiled in the field
diary with the observations made after each class. As emphasized by the authors, participant
observation proves suitable for studies aiming to propose the generalization of interpretative
aspects observed and systematized in narrative records. By positioning herself as a listener in
the discipline, the first author became part of the group, facilitating engagement with comments
and discussions in each class and providing the opportunity to reveal the meanings and
significance of the content covered.
Table 1 Syllabus, objectives, program, and class plan of the "Food and Culture" discipline
at the College of Applied Sciences, State University of Campinas (FCA/UNICAMP),
Limeira, 2020
Discipline: Food and Culture (2020)
Syllabus
Humanities and Social Sciences in Food and Nutrition. Historical, geographical, and socio-anthropological
aspects of Food and Nutrition. Art, Literature, and Food.
Objectives
To collaboratively create a space for discussion and understanding of aspects related to humanities and social
sciences in food and nutrition, as well as their interconnections with literature and the arts.
Program
1. Historical and geographical aspects of Food and Nutrition. Ingredients, exchanges, taste memories, recipe
books, biodiversity, colonialism, and power.
2. Social and cultural aspects of Food and Nutrition. Cultivation, cooking, food, eating, drinking, commensality,
social distinction, and the body.
3. Food in arts and literature. Meanings, feelings, and social relations.
Class Plan (total 45 class hours, 15 classes)
Class 1: Cinema and Food
Film: "Lunchbox" (BATRA, 2013) and discussion on the affective aspects of food;
Class 2: Literature and Food
Activities include poems by Cora Coralina (2012) and the biographical documentary "Cora Coralina Todas
as Vidas" (BARBIERI, 2017);
Class 3: Arts, History, Geography, Socioanthropology of Food 1
Reading and discussion of the text and the documentary "Registro do Patrimônio: Sistema Agrícola Tradicional
do Rio Negro, AM" (IPHAN, 2010);
Class 4: Arts, History, Geography, Socioanthropology of Food 2
Reading and discussion of the text and the documentary "Registro do Patrimônio: Sistema Agrícola Tradicional
Quilombola do Vale do Ribeira, SP" (ISA, 2017).
Bianca Martins FABBRI and Julicristie Machado de OLIVEIRA
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Class 5: Arts, History, Geography, Socioanthropology of Food 3
Reading and discussion of the text and the documentary "Registro do Patrimônio: Ofício das Paneleiras de
Goiabeiras, ES" (IPHAN, 2006);
Reading and discussion of the text and the documentary "Registro do Patrimônio: Ofício das Baianas de
Acarajé, BA" (IPHAN, 2007);
Class 6: Formation of Brazilian Cuisine 1
The seminar was presented by students in groups based on chapters from Dória's book (2014);
Class 7: Formation of Brazilian Cuisine 2
The seminar was presented by students in groups based on chapters from Dória's book (2014);
Class 8: Recipe Books, Cuisines, Memories, and Affections
Discussion of recipes from "O Cozinheiro Nacional" (1985) and "Livro de Cozinha da Infanta D. Maria"
(1986);
Class 9: Practice 1 - São Paulo, Quilombola, Santa Catarina, and Rio Grande do Sul Cuisines
Practical classes in the Dietetic Technique Laboratory with regional cuisines;
Class 10: Practice 2 - Minas Gerais, Goiás, Bahia, and Paraíba Cuisines
Practical classes in the Dietetic Technique Laboratory with regional cuisines;
Classes 11 to 14: Preparation of Final Projects
Fieldwork with each student's family to record traditional recipes and create a book;
Class 15: Submission and Presentation of Final Projects
Presentation of the Final Projects, the Recipe Book, by each student.
Source: Compiled by the authors
Two focus groups were conducted with 9 voluntary students, one on the last day of the
practical class of the discipline and the other after submitting the final projects, following Trad's
recommendations (2009). The same 9 students participated in both focus groups. All 24
students enrolled in the discipline were invited to participate, and 9 willingly consented, signing
the Informed Consent Form (ICF). The project was submitted, analyzed, and approved by the
Research Ethics Committee in Human and Social Sciences (CEP CHS) of the Vice Presidency
for Research, PRP/Unicamp (CAAE: 09026919.2.0000.5404).
The groups had a moderator (first author of the study) who followed a script of questions
and topics to guide and mediate the discussion. This script included the following questions:
Did the discipline influence your perceptions of food's social, cultural, and affective aspects? If
yes, how? Which activities or content from the discipline do you consider most significant in
shaping your perception of food culture? How important do you think teaching about Food and
Culture is for future Nutrition professionals? What was the contribution of the discipline and
its activities to your specific training, considering the area in which you intend to work? What
other activities and content do you believe could be worked on to help understand the social,
cultural, and affective aspects of food? The duration of the two groups was approximately 60
minutes. The audio recordings were made using a cellphone and later transcribed.
For data processing, content analysis was employed following the guidelines of Moraes
(1999), Bardin (2011) and Minayo, Deslandes and Gomes (2016). The analysis was organized
into three stages: pre-analysis involving a floating reading of field diary entries and focus group
Eating, food and culture: analysis of the teaching about food in undergraduate in nutrition
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transcriptions; exploration of these records and transcriptions; and analysis of the results,
categorizing them semantically to facilitate interpretation and inference.
Semantic categories were defined based on common elements under the following keys:
appreciation of cultures, oppression of cultures, memory and affection, and professional
training and performance. To preserve the identity of the voluntary students, each one was
assigned the name of a gemstone: Amethyst, Emerald, Opal, Moonstone, Ruby, Sapphire,
Topaz, Turquoise, and Tourmaline.
The records of participant observation and the transcribed audios from the focus groups
were systematized and analyzed, relying on a theoretical framework composed of reference
books in Food Studies, such as Fischler and Masson (2010), Montanari (2013), Bloch-Dano
(2011), Pinto and Silva (2005), Dória (2014) and Rossi (2014), in addition to relevant scientific
articles.
Results and Discussion
Based on the analysis of participant observation records and transcriptions, semantic
categories were defined to deepen the understanding of students' perceptions regarding the
teaching process of nutrition-related topics in undergraduate studies.
1st Category - Respect and Appreciation of Cultures and Traditional Ways
The exposure to the ways of life of traditional, indigenous, and quilombola
communities, and the cultural clash between these ways and those familiar to the students, led
them to a greater awareness of the various ways to occupy a space and live in it, emphasizing
the need to respect other cultures and their differences:
[...] what impacted me the most is seeing how.../we don't need to say 'wow, I
do this better,' you know, it's just different, [...] and that's what I think we
worked on a bit about alterity [...] which is more or less respecting the other's
culture, you can't /can't value yours more than the other (Amethyst, Focus
Group, our translation).
Rossi (2014 notes that humans perceive another culture through their own lenses,
triggering a reflective process. In the relationships between peoples, cultural exchanges, such
as culinary ones, are constant because culture and food identity result from long and complex
processes of exchanges (MONTANARI, 2013). Thus, each way of doing things is not unique
and immutable but a product of numerous insertions and adaptations.
Bianca Martins FABBRI and Julicristie Machado de OLIVEIRA
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Through learning about indigenous communities in the Rio Negro and Quilombolas in
the Vale do Ribeira, the students expressed appreciation for the knowledge of cultivation and
the intense energy of work applied. They raised the need to reconnect with the production
process, distant from their realities but an essential part. They understood the importance and
richness of traditional knowledge and the relationship with the land, plants, and nature:
We have no idea about everything that food goes through to reach us. When
it arrives at the market for us, it's already ready (Journal entry regarding the
class on the Agricultural System of the Rio Negro, from indigenous
communities, our translation).
[...] I... Indigenous people have knowledge of so much [emphasis] stuff, and
we don't take that into consideration and don't value it at all [emphasis] within
society [...] (Ruby, Focus Group, our translation).
In a study conducted in different countries, Fischler and Masson (2010) identified a
similar sentiment among participants in the United Kingdom. They reported a lack of
knowledge about the origin and production process of food and a perception of being passive
and unaware consumers.
The students discussed the excessive technology involved in current food production
and emphasized their distance from the traditional, simpler, productive, and sustainable
cultivation model linked to ancient knowledge. They also pointed out pathways to address food
and nutritional insecurity and the environmental crisis:
We need to change our way of production, and these societies can be the key
to teaching us how (Record in the journal regarding the class on the
Traditional Agricultural System of the Quilombola Communities of Vale do
Ribeira, our translation).
In the same vein, Montanari (2013) remarks that in traditional societies, various varieties
of food are used and harvested at different times of the year, which is interesting for food and
nutritional security and ecological balance. Thus, by learning about traditional systems, the
students could envision solutions to the main demands in the field of nutrition that involve the
appreciation of knowledge from oppressed populations.
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2nd Category - Oppression of Black, Indigenous Cultures, and Disregard for the Local
Through the reading and study of the book "A formação da culinária brasileira: escritos
sobre a cozinha inzoneira" by Carlos Alberto Dória (2014), the students observed the influence
of the people who shaped the cuisine of our country: indigenous, African, and Portuguese. Dória
(2014) deconstructs the myth of the formation of Brazilian cuisine, in which the three would
have equal contributions. In reality, however, there was almost complete suppression of
indigenous and African cuisines during the violent processes of Portuguese domination:
I was also horrified by the vision of the extermination of indigenous people...
the idea of miscegenation that we learn in school conceals this violence
(Journal entry regarding the class on the impacts of reading the book "A
formação da culinária brasileira (The Formation of Brazilian Cuisine,"
discussed in seminars, our translation).
Dória (2014) mentions that foods derived from indigenous peoples are seen as if they
were found in the form we know in nature, which diminishes the knowledge and efforts of
multiple generations in the selection and domestication necessary to impart each species with
its current characteristics. The author also discusses the idea of the culinary contribution of
enslaved Africans:
Similarly to how slavery represses or suppresses the individual, it hinders what
we now call culinary creativity. The enslaved person was not given the choice
of anything, let alone their food, and if they participated in the kitchens of the
plantation house, it was to satisfy the desires of their masters and the
mistresses who directed the domestic kitchens (DÓRIA, 2014, p 69, our
translation).
The students commented on the disregard for everything local, emphasizing the
imported, especially from Europe. Thus, they emphasized the importance of valuing our culture
and our history, which we often do not even know, discussing that the key to change lies in
contact with our past:
[...] I think this issue of giving value, this inferiority complex that we,
Brazilians, have, you know [...] thinking that we don't have a history
[emphasis], but a lot because our history is veiled [emphasis], right, our
history comes from enslavement, from a past of enslavement, of indigenous
decimation [...] (Turquoise, Focus Group, our translation).
Bianca Martins FABBRI and Julicristie Machado de OLIVEIRA
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According to Dória (2014), in countries with a colonial history, there was hardly a
process of forming culinary symbols capable of uniting the entire population because the elites,
whose identity revolved around their European origin, did not wish to unite with other classes
and indigenous peoples, whom they despised as inferior. Therefore, the exaltation of the
foreigner refers to the European part of the elites, and the disdain for the locals stems from this
scenario, a solid cultural legacy still present.
In this sense, Sammartino (2020), from a decolonial perspective, analyzes tensions
related to the delimitations of heritage, the rescue of foods and dishes for the tourist market, as
well as the impacts on stigmatized populations in southern countries. The author highlights that
such processes intensify conceptions of what is superior or inferior in terms of food, reinforcing
the colonial legacy and its underlying inequities (SAMMARTINO, 2020).
The activities developed in the discipline, such as classes that addressed traditional
societies, Brazilian Cultural Heritage, and Dória's book (2014), prompted the students to have
a greater inclination to value local elements, rescue their culture and history, seeing these
aspects as a path to self-knowledge and self-discovery:
And basically, in this discipline, we used food to understand history... we
started with a dish and discovered that... our... Black tradition has a total
influence on that, you know, so... food is very powerful [laughter] (Turquoise,
Focus Group, our translation).
According to Dória (2014), in each dish from a specific region, it is possible to find
traces of the people who contributed to the formation of local cuisine. Therefore, food is a
pathway to learning about a person's history, formation processes, and origins.
3rd Category - Food, Memory, Tradition, and Emotional Bonds
The students observed more deeply the connections of food with culture, religion, daily
habits, and history when learning about the Baianas do Acarajé and discussed the meanings of
this dish and its ingredients within Candomblé. They also commented that African-derived
religions, such as Candomblé and Umbanda, have an intense connection with food. As one
student commented, "There is no celebration without food":
I found it very beautiful, all the significance it has for her... it's not just a little
cake, it's connected to religion, a way of worshiping the orixás, it has all the
strength of palm oil the beads; it has a whole meaning of life for these people,
Eating, food and culture: analysis of the teaching about food in undergraduate in nutrition
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and Candomblé faces a lot of prejudice (Journal entry regarding the Baianas
de Acarajé ceremony, presented in class, our translation).
Once again, Dória's book (2014), an essential part of the course, appears in the students'
comments, expanding their view of food. Specifically, the bond of Brazilians with beans makes
a new appearance, this time under a cultural lens:
I saw that cuisine is not just a combination of dishes; it is historical (Journal
entry regarding the impacts of reading the book "A formação da culinária
brasileira: escritos sobre a cozinha inzoneira" by Carlos Alberto Dória,
discussed in seminars, our translation).
I found beans very important because, truly, beans are the history of Brazil,
both of the individual and the region. This helped me see that food is indeed
history; it is culture (Journal entry regarding the impacts of reading the book
"A formação da culinária brasileira: escritos sobre a cozinha inzoneira" by
Carlos Alberto Dória, discussed in seminars, our translation).
According to Bloch-Dano (2011), food has been surrounded by symbolic associations
throughout human history. Among the many cultural associations with food discussed by the
author, some examples are cited: "cereals constitute the foundation and symbol of peasants,
while meat, for a long time, was a sign of wealth and luxury," vegetables have "little place in
poetry and art," have a pejorative sense in culture, and treating a person like a vegetable is
offensive (BLOCH-DANO, 2011, our translation).
During the Middle Ages, aristocratic tables exalted wild animals, free like the nobles.
Thus, symbolism links the food's intrinsic characteristics to the one who consumes it, bringing
the idea that the individual is what they consume, and they consume what they are (BLOCH-
DANO, 2011). In this way, among human beings, which foods are consumed, how much, in
what order, and their method of preparation are filled with meanings and cultural ties.
Food is intensely linked to memory: the sweet one ate at childhood parties, the cake the
grandmother made in the late afternoon, and the dish only made at Christmas. Preparations
connected us to moments in our lives when those dishes were present because food is also in
our memories (BLOCH-DANO, 2011).
Here we have the concept of gustatory memory, worked on in class and apprehended by
the students through discussions and activities:
Some foods bring good and bad memories [...] Food has the power to make
you relive a moment of your life, whether it's good or not (Journal entry
regarding gustatory memory discussed in class, our translation).
Bianca Martins FABBRI and Julicristie Machado de OLIVEIRA
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Eating is also a means of connection and bonding, as well as a way to show affection
and care for the person you're cooking for:
[...] Food is a bond, we do everything because of Food, you know, so if you
want to relate to someone, if you want to captivate the person, invite them to
eat (Moonstone, Focus Group).
And it's enjoyable to invite someone to eat your [emphasis] Food [...] (Ruby,
Focus Group, our translation).
As Montanari (2013) comments, eating together and sharing Food are characteristics of
the human species, which can be considered a way of confirming that one is part of the same
family. Thus, commensality, the union of sharing Food, is a fundamental part of human
existence. Food is an instrument for creating bonds between people. As Fischler and Masson
(2010) explain, in French culture, marked by conviviality, good eating, and company, the one
who prepares the Food offers themselves to the other through dedication in preparation.
However, Food doesn't always bring good meaning. Often it expresses memories of
scarcity of restriction:
[...] when we think about the words according to the title of the poem
'Antiguidades,' we think of 'Affection' related to 'Antiguidades,' and when we
read the poem, we saw that affection materialized in the cake, was reserved
for the visitors and denied or given sparingly, in crumbs, to the people of the
house, the children, thirsty for affection" (Journal entry regarding the poem
"Antiguidades" by Cora Coralina, read and discussed in a creative activity in
class, our translation).
Through the activities, the students realized the neglect of orality and "doing together,"
resulting in a loss of culinary knowledge. They related the tradition of the agricultural systems
of Rio Negro and Vale do Ribeira, which are at risk of being lost due to youth disinterest, to
their own experiences, reflecting on the fragility of tradition, transmission. They consider that
there seems to be no more time to cook together with the elders and share traditions and stories:
I keep thinking about how finite it is because we no longer have the tradition
we had before, and our children won't have it either. It's something that won't
last, so we're going to lose the tradition... [...] and we lose history at the same
time [...] (Topázio, Focus Group, our translation).
According to Fischler and Masson (2010), culinary traditions connect to our history,
culture, and heritage, which is lost when not shared with new generations. In cultural realms
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influenced by the United States, to which Brazil belongs, eating loses contact with its convivial,
shared context and becomes individualistic. Thus, eating together, and even more so, cooking
together, is no longer part of our daily habits. Consequently, the transmission of oral knowledge
and culinary gestures learned by imitation during joint food preparation ceases to occur, leading
to the loss of these skills (FISCHLER; MASSON, 2010).
Recipes can be a record of history, both individual and collective. Recipes from other
times can provide clues about the socio-cultural and economic conditions of the people who
prepared and consumed them. The final project of the course, in which each student wrote a
cookbook from their families, opened their eyes to the emotional aspects involved in the habit
of writing and exchanging recipes and the potential to bring people together. Food defines
people, marks moments in their lives, and recipes hold their history:
[...] and I got them from my mom [...] most of the recipes I got from her, and
then I started asking, like the recipes from Grandma [###], that you ate when
you were a child, and it was nice to see, to get to know the history [emphasis]
of our family as well (Turquesa, Focus Group, our translation).
In a classroom activity, texts about the history of recipe books were read and discussed,
helping the students understand the importance of these devices as sources for recording habits,
culture, economy, and even politics. As Monteleone (2021) explains, during the Age of
Exploration, the intensive use of spices, which were expensive and hard to access, in
preparations was a way of demonstrating economic power.
The students also commented that, due to the social position of the authors of the old
recipe books discussed in class, the preserved knowledge often records only the eating habits
of the elite. After all, as Montanari (2013) notes, writing is elitist, and the records are made by
members of the elite for other members of the elite, resulting in a lack of documentation of the
food and culture of the people, which is transmitted through oral tradition.
Recipes prove to be a rich source of knowledge and a valuable tool for understanding
the culture of other societies. According to Pinto e Silva (2005), through food preparation, the
values and habits of each society can be understood, especially considering that the choice and
preparation of food carry something of the person who cooks it, revealing the worldview of
each culture.
In this way, recipes reflect their time, perpetuate knowledge of certain contexts, enhance
the understanding of the lifestyles of previous generations, and provide clues for contemporary
developments.
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4th Category - The care, training, and role of the Nutrition Professional
The students observed that care in food and nutrition goes far beyond physiological and
biochemical aspects, as they have a sociocultural and emotional load, and all these aspects must
be considered in the care process:
[...] you really reconnect with the food, right, it's not just nourishing the
physiological aspect there, what you're feeding in that person is much more
than the food itself, I think that's mainly what the subject addresses all the time
[...] (Moonstone, Focus Group, our translation).
As Montanari (2013) comments, eating behaviors result not only from economic and
nutritional factors, thought out rationally, but also from choices connected to the symbols we
carry with us, of which we are, in a way, prisoners.
Thus, the fragmented view of the individual, focusing only on their physiological
aspects, ignores the sociocultural, historical, and emotional reality to which they belong. This
fragmented perception of the health condition may affect the global treatment of the disease,
consequently reducing the chances of success:
The predominantly biological focus has progressively distanced social issues
from those linked to the body, excluding the human condition from the
organism to support other scientific objectives (FREITAS et al., 2008, p. 211,
our translation).
With this analytical possibility, in seeking to understand the normative orientation of
the professional, it is observed that the diet, within the scope of nutritional care, can be elevated
to the category of a medicinal prescription. With organized nutrients, the dietary prescription
opposes culture, tradition, habits, and values attributed to eating (FREITAS et al., 2008).
Nutrition courses, in general, prepare professionals in a limited way to deal with the
socio-cultural and emotional context of Nutrition, which influences how the individual under
nutritional care receives treatment and its success. As Freitas et al. (2008, p. 208, our
translation), comment, there is a "lack or fragmentation of human content in the training of the
nutrition professional who, in general, is encouraged to think of the individual and society as
disconnected entities."
During discussions with the students, the importance of teaching humanistic and social
aspects of Nutrition to nutritionists and other health professionals was emphasized. This
Eating, food and culture: analysis of the teaching about food in undergraduate in nutrition
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approach emerges as a way to humanize the perspective and expand the ability to respect
differences in the ways individuals approach nutritional care.
The inclusion of Human and Social Sciences in the field of Food and Nutrition promotes
the generation of in-depth and sensitive knowledge about the relationship between the
individual seeking nutritional care and the nutritionist professional. With this focus, economic,
socio-cultural, political, geographical, and historical aspects can stimulate transformative
practices, such as changing unhealthy habits (FREITAS et al., 2008).
Through the activities of the course, the students enhanced their understanding of this
scenario and commented on the need for the discipline to become mandatory both in their
course and in all Nutrition courses:
I think the course was very important because... it showed a side that we
almost never see in the Nutrition program [...] I think it's important to have
this contact, and [...] not all courses have it, ours doesn't even have it, we had
to take an elective course to have more knowledge, you know [...] (Topaz,
Focus Group, our translation).
During the debates, the students discussed stigmas that permeate the field of Nutrition
today, including the perception of the nutritionist not only as a healthcare professional but,
mistakenly, as an exclusive promoter of weight loss, being associated with the realm of
aesthetics. They also reflected on the responsibility they have in deconstructing such a
conception, considering the new perspective gained through their experience in the course.
[....] the importance of us having this type of class, this type of education is
this, "no, guys, sit down because Nutrition has changed," you know, "let's tell
the story of current Nutrition, now," and that's it, you know, like telling...
People don't see Nutrition as a health professional [emphasis], you know... it's
a professional... of aesthetics (Turquoise, Focus Group, our translation).
Another stigma is the prohibition of foods, divided into "good" and "bad," often
propagated by the nutritionists themselves, who are thus seen as "food prohibitions." The
students also commented on how other professionals contribute to maintaining this restrictive
attitude by providing individuals under nutritional care with lists of forbidden foods, without
considering each person's individuality, and encroaching into the field of Nutrition:
They can't [don't feel they can] have autonomy, you know, because Nutrition
is seen as "restricting, what you can and can't do" [emphasis] [hitting the table
while speaking] (Ruby, Focus Group, our translation).
Bianca Martins FABBRI and Julicristie Machado de OLIVEIRA
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But you know what the biggest problem is, the problem is that they probably
have already gone through professionals who treated them like that (Sapphire,
Focus Group, our translation).
The students demonstrated a humanized perspective as healthcare professionals and an
increased awareness of individuals' cultural, historical, and emotional ties to eating. They also
commented on the limitations of educational content related to the sociocultural universe
involved in nutrition courses:
[...] when the patient comes to us with a whole cultural background [...] we
look at it with different eyes [...] we already have a more open mind to
understand what is going on [emphasis] in that patient's head, [...] for me [the
course] has completely changed the way we see food, nutrition, and culture
within nutrition, which is a completely important thing that in college is very
shallow and superficial [...] (Sapphire, Focus Group, our translation).
It is essential to listen to the individual under nutritional care in order to know and
understand their reality and perspectives, which are determinants in how they deal with their
health condition, after all, "a humanizing proposal for nutrition is the nutritionist's
understanding of the meaning of food for the diner, the interpretation of the subject about their
diet, their body in their world" (FREITAS et al., 2008, p. 211, our translation).
The students also emphasize the importance of not imposing guidance on individuals
under nutritional care but explaining it, empowering them to understand and gain autonomy
and responsibility for themselves. Respect for the individual, their culture, and their way of life,
learned during the course, emerges as a fundamental part of the nutritionist's role, which, as
they mention, should always be guided by health in any area of action, including aesthetics:
[...] it doesn't mean that Nutrition can't work in aesthetics, [...] it's just that it's
not only [emphasis] aesthetics, and involving aesthetics doesn't mean that you
shouldn't involve cultural, social, health aspects, etc. It's something that has to
be linked to everything [...] it has to be related to health [emphasis], always
[emphasis], right, whether mental or physical (Ruby, Focus Group, our
translation).
Freitas et al. (2008, p 213, our translation) mention that many symbolic conceptions are
part of eating and individual social relationships, and the prescription of diets causes discomfort
"due to the disruption of eating habits" and "interferes with the social identity of the individual."
Thus, respect for the individual and their life context is essential in nutritional treatment so that
Eating, food and culture: analysis of the teaching about food in undergraduate in nutrition
Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 19, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 2526-3471
DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v19i00.17655 16
the proposition of dietary changes is included in the individual's reality and does not promote
the rupture of the ties they already have with food.
Similarly, the students reflected on the role of the nutritionist in having a comprehensive
view of food, considering it as part of a broader sociocultural and affective context. They also
discussed the importance of developing this new perspective alongside the individual, moving
away from the fragmented view of food that reduces it exclusively to its nutritional components.
Final considerations
The teaching process conducted in the "Food and Culture" course fostered the
humanization of the professional perspective among nutrition students, who demonstrated
increased sensitivity to food's sociocultural, historical, and affective contexts. Current anxieties
and alimentary difficulties, prevalent in today's society, were given prominence. The
discussions, however, constructed pathways that can alleviate such feelings, such as
strengthening food traditions and reconnecting with the cultivation and production of food.
From a cultural perspective, stigmas surrounding Nutrition and the role of the
Nutritionist were explored and debated, often still perceived as solely focused on "weight loss"
and as the "professional who prohibits foods." Such perceptions disrupt human connections
with food, generating anxieties for the professional and the individual receiving nutritional
attention. The latter is encouraged to abstain from consuming foods that are part of their history
and culture, classified as "inappropriate."
The students gained a deeper understanding of this scenario through classes and
proposed activities. Therefore, it is concluded that the course's objective was achieved by
providing nutrition students with opportunities to build knowledge and discuss relevant topics,
enabling them to become professionals capable of understanding the humanistic and social
aspects of Nutrition.
Bianca Martins FABBRI and Julicristie Machado de OLIVEIRA
Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 19, n. 00, e023014, 2023. e-ISSN: 1519-9029
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DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v19i00.17655 19
CRediT Author Statement
Acknowledgments: Acknowledgment to the Office of the Vice Provost for Research,
PRP/Unicamp, for awarding the PIBIC/CNPq Scholarship.
Funding: The first author received a PIBIC/CNPq scholarship.
Conflicts of interest: The second author is the professor responsible for the evaluated
course.
Ethical approval: The research project was submitted, reviewed, and approved by the
Ethics Committee.
Availability of the data and material: The data and materials used in the research are
stored in electronic files and available for access upon request.
Contributions of the authors: Both authors contributed to the project's conception, data
analysis, and the writing of the article's final version. The first author was responsible for
field diary entries and conducting, recording, and transcribing the audio from focus group
sessions.
Processing and editing: Editora Ibero-Americana de Educação.
Proofreading, formatting, normalization and translation.