EDI
Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 19, n. 00, e023016, 2023. e-ISSN: 2526-3471
DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v19i00.18359 1
A CEGUEIRA À LUZ DA CONSCIÊNCIA CORPORAL: MEMÓRIAS DE
(TRANS)FORMAÇÃO DE UM MÉDICO PROFESSOR
CEGUERA A LA LUZ DE LA CONCIENCIA CORPORAL: MEMORIAS DE
(TRANS)FORMACIÓN DE UN PROFESOR DE MEDICINA
BLINDNESS IN LIGHT OF BODY AWARENESS: MEMORIES OF
(TRANS)FORMATION OF A MEDICAL PROFESSOR
Érico Gurgel AMORIM1
e-mail: ericogur@gmail.com
Como referenciar este artigo:
AMORIM, É. G. A cegueira à luz da consciência corporal:
Memórias de (trans)formação de um médico professor. Temas em
Educ. e Saúde, Araraquara, v. 19, n. 00, e023016, 2023. e-ISSN:
2526-3471. DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v19i00.18359
| Submetido em: 14/08/2023
| Revisões requeridas em: 14/09/2023
| Aprovado em: 05/11/2023
| Publicado em: 30/12/2023
Editoras:
Profa. Dra. Luci Regina Muzzeti
Profa. Dra. Rosangela Sanches da Silveira Gileno
Editor Adjunto Executivo:
Prof. Dr. José Anderson Santos Cruz
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Natal RN Brasil. Doutor em Saúde Coletiva pela
UFRN, Professor da Escola Multicampi de Ciências Médicas do Rio Grande do Norte (EMCM) da UFRN.
A cegueira à luz da consciência corporal: Memórias de (trans)formação de um médico professor
Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 19, n. 00, e023016, 2023. e-ISSN: 2526-3471
DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v19i00.18359 2
RESUMO: O objetivo deste trabalho é traçar uma visão crítica, autocrítica e confessional
dessas experiências enriquecidas por emoções e paixões, apresentando a relevância de minha
escolha profissional como médico e professor de medicina, projetando meu eu interior e futuro,
além de abordar aspectos da infância, adolescência e vida adulta que contribuíram para o
conhecimento de meu corpo, relação com esportes, vida escolar e amizades. Utilizo fontes
autobiográficas, informações do currículo lattes, registros dos módulos concluídos na
especialização, carta de intenções no processo seletivo, memórias pessoais e elementos
projetivos de práticas e leituras. Referências a autores da fenomenologia da percepção
discutidos ao longo do curso auxiliam na compreensão da sinestesia presente em mim e nas
relações comigo mesmo, com os outros e com o mundo, buscando, a partir dessas reflexões,
projetar-me para ações futuras, vivendo com plenitude, intensidade, qualidade de vida e sentido.
PALAVRAS-CHAVE: Pessoas com Deficiência Visual. Memória. Formação. Consciência
corporal.
RESUMEN: El objetivo del Trabajo es trazar una visión crítica, autocrítica y confesional de
estas experiencias enriquecidas por emociones y pasiones, presentando la relevancia de mi
elección profesional como médico y profesor de medicina, proyectando mi yo interior y futuro,
además de abordar aspectos de mi infancia, adolescencia y vida adulta que contribuyeron al
conocimiento de mi cuerpo, mi relación con el deporte, la vida escolar y las amistades. Utilizo
fuentes autobiográficas, información de mi currículum lattes, registros de los módulos
completados en la especialización, carta de intenciones en el proceso de selección, memorias
personales y elementos proyectivos de prácticas y lecturas. Las referencias a autores de la
fenomenología de la percepción discutidos a lo largo del curso ayudan a comprender la
sinestesia presente en y en las relaciones conmigo mismo, con los demás y con el mundo,
buscando, a partir de estas reflexiones, proyectarme hacia acciones futuras, viviendo con
plenitud, intensidad, calidad de vida y sentido.
PALABRAS CLAVE: Personas con Daño Visual. Memoria. Formación. Conciencia corporal.
ABSTRACT: The objective of this paper is to provide a critical, self-critical, and confessional
view of these experiences enriched by emotions and passions, showcasing the significance of
my professional choice as a physician and medical professor, projecting my inner self and
future, as well as addressing aspects of childhood, adolescence, and adulthood that contributed
to my understanding of my body, relationship with sports, school life, and friendships. I employ
autobiographical sources, information from my Lattes curriculum, records of completed
modules in the specialization, a statement of intentions in the selection process, personal
memories, and projective elements of practices and readings. References to authors in the
phenomenology of perception discussed throughout the course aid in understanding the
synesthesia present in myself and in relations with others and the world, seeking, through these
reflections, to project me towards future actions, living with fullness, intensity, quality of life,
and purpose.
KEYWORDS: Visually Impaired Persons. Memory. Formation. Body awareness.
Érico Gurgel AMORIM
Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 19, n. 00, e023016, 2023. e-ISSN: 2526-3471
DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v19i00.18359 3
Introdução
A escrita de natureza autobiográfica sempre constituiu um desafio para mim, pois ao
recordar acontecimentos memoráveis, lições aprendidas e experiências inenarráveis,
inevitavelmente deparo-me com adversidades, erros e angústias. No presente memorial, não me
proponho a selecionar apenas os episódios bem-sucedidos ou com finais satisfatórios, mas sim
a apresentar meu lado humano, repleto de imperfeições, desejos e sonhos, que moldaram minha
identidade como um ser pensante e desejante neste mundo.
Recordo-me de minha experiência no Ensino Fundamental, quando, anualmente, a
professora do primeiro dia de aula nos pedia que escrevêssemos sobre as vivências durante as
férias. Nesse contexto, eu naturalmente compartilhava apenas os eventos mais felizes, como se
tivesse a necessidade de proteger-me dos dias menos auspiciosos para que minha narrativa fosse
bem recebida pela docente.
Com o amadurecimento durante o Ensino Médio e através de leituras mais críticas,
como as obras de Machado de Assis, Graciliano Ramos e Karl Marx, pude compreender que a
vida não é uma jornada sem percalços. Enfrentamos desafios que demandam constante
reinvenção, nos transformando em protagonistas de nossas próprias histórias. Essas
experiências nos moldam e nos modificam, direcionando-nos para novos rumos ou até mesmo
para a retomada dos antigos.
Com base nesse fio condutor, Freire e Guimarães (2002) enfatizam a premissa de que é
imprescindível compreender a história para que possamos extrair lições valiosas dela. Para
alcançar esse conhecimento, é necessário dedicar-se a um estudo sério e aprofundado, adotando
rigor e disciplina como guias. Requer-se, portanto, inúmeras horas de dedicação, além da
vontade sincera de explorar, aprender e assimilar. Essa busca pelo entendimento remonta à
própria trajetória de vida, tornando-se uma fonte inestimável para a transformação pessoal e do
mundo ao nosso redor. Através desse processo, nos tornamos seres em constante sintonia com
as mudanças que nos envolvem e nos impulsionam.
Assim, o objetivo deste memorial é revisitar histórias, positivas ou negativas, que
conferiram sentido e significado aos momentos marcantes de minha trajetória. Compreender
essas experiências auxilia-me a reexaminar minha jornada, reavaliando escolhas, reações,
frustrações e transformações que resultaram em novas visões do mundo.
A cegueira à luz da consciência corporal: Memórias de (trans)formação de um médico professor
Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 19, n. 00, e023016, 2023. e-ISSN: 2526-3471
DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v19i00.18359 4
Metodologia
A escrita autobiográfica implica reconhecê-la como parte integrante da pesquisa sobre
si mesmo. Nesse sentido, as memórias são ferramentas que nos permitem reconectar ao passado,
revivendo a intensidade dos eventos e obtendo lições aparentes e ocultas.
Ricoeur (2007), em sua obra sobre memória, história e esquecimento, enfatiza que a
memória é uma luta contra o esquecimento, onde suas representações são marcadas pela
presença ou ausência do passado, determinando assim a confiabilidade das lembranças.
Segundo Pineau (1999, p. 331), o objetivo da escrita autobiográfica é que a pessoa em
formação efetue um retorno reflexivo sobre o seu “trajeto para construir a partir dele um projeto
de pesquisa-ação-formação. Essa modalidade de escrita proporciona a seus elaboradores
defrontar com vicissitudes, dilemas, êxitos e inquietações, cuja análise reflexiva contribui
significativamente para o aprofundamento da compreensão das suas experiências vivenciadas,
tanto no âmbito pessoal quanto no profissional, bem como para a elucidação dos desafios
intrínsecos a esses domínios”.
Prado e Soligo (2005) esclarecem que o memorial constitui-se como um instrumento
formativo e um gênero textual privilegiado, permitindo ao autor assumir sua voz em um
processo de autoria, tornando públicas suas opiniões, inquietações, experiências e memórias,
contribuindo para a (re)construção da identidade.
De acordo com Bragança (2011), a formação do sujeito é intrinsecamente vinculada à
aprendizagem experiencial e aos processos identitários, proporcionando uma compreensão
sensível da complexidade existencial e a partilha de conhecimentos. A autora enfatiza que a
formação engloba todos os momentos e espaços da vida, possibilitando uma transformação
humana libertadora por meio do conhecimento, autoconstrução e interação com o mundo.
Nesse sentido, divido as consequências de minhas memórias em duas seções. Na
primeira, intitulada Memórias e Formação: Relatos de uma Trajetória Educacional, volto às
minhas origens, destacando minha formação escolar e universitária, minhas pós-graduações e
o início de minha carreira profissional. Na segunda seção, Experiências e (Trans)Formações,
reanaliso momentos de profunda transformação em minha vida, especialmente a deficiência
visual, suas repercussões na trajetória pessoal e profissional, e a influência dessas vivências na
minha especialização em Consciência Corporal, Saúde e Qualidade de Vida, com considerações
finais.
Érico Gurgel AMORIM
Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 19, n. 00, e023016, 2023. e-ISSN: 2526-3471
DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v19i00.18359 5
O curso de especialização em consciência corporal, saúde e qualidade de vida é um
programa de pós-graduação lato sensu promovido pelo departamento de educação física da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), realizado de maio de 2021 a novembro
de 2022, com encontros mensais a distância, na modalidade síncrona e organizada em
componentes curriculares. Essa formação propiciou-me a oportunidade de aprofundar
conhecimentos, práticas, discussões e reflexões que contribuíram tanto para a construção deste
memorial quanto para o meu desenvolvimento humano e profissional.
Espero, dessa forma, apresentar ao leitor as reflexões e sentimentos que emergiram dos
encontros vivenciados, dos aprendizados compartilhados e das emoções despertadas, de
maneira profunda e singela. Utilizando a metáfora do Pequeno Príncipe, aspiro a contemplar
minha biografia, assim como ele contemplava a rosa, com todas as suas nuances, incluindo as
dificuldades. Além disso, desejo analisar minha vida, ressaltando os detalhes que compõem
meu cenário e suas circunstâncias, fortalecendo, assim, meu autoconhecimento e diálogo
constante com o mundo ao meu redor, buscando uma transformação pessoal e coletiva.
Memórias e formação: relatos de uma trajetória educacional
Minha trajetória educacional teve início no Rio de Janeiro, em 1980. A natação logo se
tornou minha atividade esportiva predileta, despertando a admiração dos observadores pela
minha performance corajosa. Logo, comecei a participar de competições e a acumular
medalhas. Cada derrota me motivava a buscar a superação.
Com tenra idade, mudei-me para Natal (RN) devido à transferência de trabalho de meu
pai. Na Escola Nossa Senhora das Neves, cursei todo o Ensino Fundamental e Médio,
envolvendo-me em diversas atividades cívicas, culturais e esportivas. O esporte era valorizado
na escola, e a natação continuava sendo minha paixão, proporcionando uma conexão profunda
comigo mesmo e momentos de tranquilidade e estímulo.
Por razões práticas, precisei temporariamente mudar para a educação física generalista
no Ensino Médio, o que me frustrou por não me identificar com o futsal. Gradualmente, percebi
que meu desejo genuíno era voltar à natação, e meus pais apoiaram a decisão devido ao bom
desempenho acadêmico.
Fui líder de sala por vários anos, representando minha turma em reuniões com
professores e no centro cívico. No entanto, essa participação contrastava com um profundo
A cegueira à luz da consciência corporal: Memórias de (trans)formação de um médico professor
Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 19, n. 00, e023016, 2023. e-ISSN: 2526-3471
DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v19i00.18359 6
sentimento de solidão que quase sempre me acompanhava. O bullying por alguns colegas
devido ao meu sotaque carioca e educação exacerbava esse sentimento. Isolar-me na biblioteca
durante os intervalos tornou-se uma maneira de lidar com essa situação. Segundo Danes-Staples
et al. (2013), o bullying é caracterizado pela exposição repetida a ações físicas ou
comportamentais depreciativas por um período prolongado, causando prejuízos afetivos e
emocionais à vítima e resultando em isolamento social.
Após concluir o Ensino Médio, realizei o sonho de ingressar na Curso de Medicina na
UFRN e prossegui com a Residência em Clínica Médica e Endocrinologia na Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp). Essa fase de estudos e formação profissional me permitiu
desenvolver habilidades para a docência e aprofundar o conhecimento sobre hormônios e
metabolismo.
Na graduação, percebi um viés excessivamente biomédico em detrimento de abordagens
mais humanísticas. A concepção biomédica do corpo apoia-se na biofísica e na dicotomia
normalidade x anormalidade e concebe a doença como resultado de um desvio de elementos
eminentemente morfofisiológicos e psicológicos (disease) (Alves, 2006). Segundo o autor,
esse entendimento consagra à doença como fruto linear e direto de um processo patológico que
confere a institucionalidade da concepção biomédica à medicina e sua profissionalização.
Essa compreensão fundamenta uma visão cartesiana, dualista, frequentemente
objetificada, fragmentada e mecanicista do ser humano, que uma vez desprovida de
subjetividade e de consciência, ocupa o polo passivo e acrítico da “relação médico-paciente”.
Após a formatura, retornei a Natal para iniciar a prática profissional. Atuei como médico
na Estratégia de Saúde da Família (ESF) em Pendências, participando de atividades de
promoção e educação em saúde. Além disso, trabalhei no ambulatório de endocrinologia do
Hospital Luís Antônio e lecionei Semiologia Médica e Endocrinologia na Universidade
Potiguar (UNP).
No entanto, ao retornar, minha jornada tomou um rumo inesperado. Um novo eu
começou a emergir, e minha consciência corporal entrou em um processo de mutação. Essa fase
de transformação foi desafiadora, mas também me permitiu amadurecer e enfrentar novos
encontros comigo mesmo.
Érico Gurgel AMORIM
Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 19, n. 00, e023016, 2023. e-ISSN: 2526-3471
DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v19i00.18359 7
Experiências de transformação: a jornada de um ser com deficiência visual
A experiência, conforme Benjamin (1993), é um fenômeno mobilizador, tocante e
transformador, que nos afeta profundamente. Ela carrega consigo a força do coletivo, a
participação do outro e a riqueza da polifonia, manifestando-se em múltiplos sentidos e
interpretações. O conhecimento adquirido através da experiência emerge da interação entre o
saber e a vida humana, singular e concreta (Larrosa, 2002).
A nova trajetória se iniciou com o diagnóstico de retinose pigmentar, uma degeneração
na retina que resultou em visão tubular e progressiva perda da acuidade visual. Desde os 20
anos, enfrentei dificuldades na visão noturna, em ambientes com pouca luz e, gradualmente, na
leitura. Realizei consultas com diversos especialistas e exames até obter a confirmação, cerca
de 10 anos após o início dos sintomas, por meio de um mapeamento genético que revelou a
mutação no gene Cerkl, característica da retinose pigmentar.
Os primeiros indícios da condição provavelmente surgiram anos antes, quando a pessoa
sentia desconforto ao acompanhar jogos noturnos de futebol de salão ou vôlei, enquanto seus
amigos prosseguiam a atividade sem dificuldades visuais. Naquela ocasião, optava por se
recolher ao banco e observar à distância.
Após o diagnóstico, enfrentei uma série de reações emocionais, incluindo dúvidas e
angústias. No entanto, optei por prosseguir, confiante nas estatísticas que indicavam que
aproximadamente 20 a 30% dos casos não evoluíam para formas mais graves. Entretanto, ao
retornar para Natal, minha condição visual agravou-se, adicionando novas dificuldades, como
problemas na leitura e colisões com objetos.
Durante esse período, experimentei momentos de negação, raiva, tristeza e medo, e
ocasionalmente direcionei esses sentimentos para meus pais e avós, considerando a natureza
genética da condição visual. Esses ciclos emocionais também se manifestaram em meus pais,
prevalecendo a negação durante muitos anos, o que gerava incertezas sobre a aceitação da
minha nova realidade.
A vivência da deficiência visual evidencia o fenômeno do capacitismo, definido como
uma postura preconceituosa que hierarquiza indivíduos com base na conformidade de seus
corpos à corponormatividade (Mello, 2016). Tal preconceito pode manifestar-se internamente,
como auto capacitismo, ou ser direcionado a outras pessoas com deficiência, impactando
negativamente as interações sociais e a inclusão.
A cegueira à luz da consciência corporal: Memórias de (trans)formação de um médico professor
Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 19, n. 00, e023016, 2023. e-ISSN: 2526-3471
DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v19i00.18359 8
Enquanto atuava como médico da ESF em Pendências (RN), deparei-me com um novo
mundo de desafios, enfrentando claridade e ofuscamento nas manhãs, nebulosidade nas tardes
e escuridão nas noites. As pessoas não sabiam como ajudar, e eu estava aprendendo a me
adaptar ao novo cenário, buscando formas de locomoção e tecnologias assistivas.
O discurso médico reabilitador permeava minha vida nesse período, sendo reforçado no
trabalho, nas visitas domiciliares e até mesmo na família. Muitas vezes, fui questionado sobre
a possibilidade de cirurgias para melhorar a visão, algo que eu sabia ser inviável, mas que acabei
nutrindo como uma esperança ilusória.
As tentativas de encontrar tratamentos levaram-me a procurar médicos em diversas
cidades e até mesmo a viajar pelo país em busca de protocolos de pesquisa com células-tronco.
Entretanto, meu quadro visual estava muito comprometido para ser incluído em testes
experimentais, o que levou à desilusão e à depressão.
Como Schilder (1980, p. 11) nos apresenta: “A imagem do corpo humano é a figuração
de nosso corpo formada em mente, ou seja, o modo pelo qual o corpo se apresenta para nós”.
Esse modo de apropriação quando não confrontado e trabalhado a contento, é muitas vezes
dominante e pode nos impor uma série de auto penalidades, perspectivas punitivas ou de
apartações sociais.
Após um período de reflexão, percebi que precisava encarar minha situação com mais
segurança e decidi iniciar o processo de reabilitação em 2012. No Instituto de Educação e
Reabilitação de Cegos do Rio Grande do Norte (IERC), familiarizei-me com a bengala branca,
o assinador e a escrita em Braille. Ainda resistia internamente e externamente a esse processo
de aprendizado, mas encontrei apoio em pessoas com deficiência visual, especialmente no
Grupo Esperança Viva, um programa de educação musical para cegos na UFRN.
Minha esposa também desempenhou um papel fundamental nesse caminho de
aprendizado, perseverança e autoconfiança. Aprendi com Valter Hugo Mae sobre a importância
do toque e como a sensibilidade e empatia em relação ao sofrimento dos outros podem tornar-
nos mais humanos.
Merlau-Ponty (1999) nos apresenta a concepção ampliada do corpo como uma forma
de expressão do nosso ser no mundo, não apenas como simples objeto, mas como presença viva
em movimento, que considera os aspectos da subjetividade e a relação consigo mesmo, com os
semelhantes e com o nosso entorno.
Com o tempo, retomei minha paixão pela natação e descobri a biodança, que trouxe
vida, coragem e uma nova perspectiva de interação com o mundo. Ao longo dessas
Érico Gurgel AMORIM
Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 19, n. 00, e023016, 2023. e-ISSN: 2526-3471
DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v19i00.18359 9
experiências, busquei aprofundar meu autoconhecimento e conhecimento sobre a saúde das
pessoas com deficiência. Cursei especializações, graduação e mestrado, enfrentando desafios e
sendo acolhido no corpo docente da UFRN, onde pude contribuir para a inclusão e
acessibilidade, proporcionando um ambiente acolhedor e acessível.
De acordo com a Lei Brasileira de Inclusão (Brasil, 2015), é responsabilidade coletiva
da sociedade, do governo e das famílias salvaguardar os direitos das pessoas com deficiência.
Esses direitos abrangem a acessibilidade, a comunicação efetiva, o acesso à informação, a
assistência à saúde, a reabilitação, a dignidade, o respeito, a liberdade e a participação na vida
comunitária, entre outros. Consequentemente, é obrigação de cada membro da sociedade,
independentemente de possuir ou não uma deficiência, assegurar um ambiente inclusivo e livre
de obstáculos que permita a participação plena de todos em interações sociais significativas.
Assim, “Pelo movimento da inclusão, os sujeitos se aproximam de si mesmos e de suas
comunidades e, nesse movimento tático, porém, não determinado ou previsível, (re)únem e
potencializam forças para a criação e (re)criação de articulações sociais promissoras da
permanente constituição de seus modos de ser e estar no mundo, com o mundo e com os outros
enquanto sujeitos protagonistas de sua própria história em coletividade” (Orrú, 2020, p. 27).
Atualmente, compreendo que a reabilitação transcende a mera recuperação da
funcionalidade física; ela envolve uma transformação profunda do corpo, da mente e do
espírito. Por meio desta experiência, aprende-se a perceber o mundo de maneiras diversas,
utilizando ferramentas como leitores de tela, digitalizadores de texto, aplicativos de
smartphones e, fundamentalmente, a própria sensibilidade.
Ao longo da especialização, pude notar grande evolução em minha compreensão do
mundo e de minha própria existência. Meu olhar sobre o corpo se transformou em algo mais
abrangente, cósmico, dinâmico, sensível e reflexivo. Essa transformação me permitiu sentir a
expressão dessa integração e reafirmar minha própria existência como algo que transcende o
óbvio, o estático e o visível, alcançando o plano do imaterial, do invisível, do além e do sublime.
Segundo Merleau-Ponty (1999), o corpo é um ser ativo e essencial na nossa compreensão do
mundo, envolvendo-se constantemente nas experiências sensoriais e movimentos, ou seja,
corpo estesiológico, corpo que se move e que deseja.
Deste modo, Delors (1996) nos ensina que entre os aprendizados essenciais para o
desenvolvimento cognitivo e social está o preparo para lidar com as adversidades da vida, a
justiça, a empatia, o preparo para o trabalho e o conviver em sociedade. Esses pilares são
fundamentais em meu encontro com o mundo após a perda da visão, impulsionando-me a
A cegueira à luz da consciência corporal: Memórias de (trans)formação de um médico professor
Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 19, n. 00, e023016, 2023. e-ISSN: 2526-3471
DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v19i00.18359 10
desbravar novos caminhos, reconstruir-me como pessoa, estabelecer novas conexões e lançar-
me ao mar da infinitude da vida, com perseverança e dedicação.
Em síntese, a consciência corporal representa o conhecimento e a prática que nos
permitem compreender e perceber a integralidade do ser, resgatando sentimentos, identidade e
expressão no mundo. É a interação entre a percepção do corpo como essência e aparência,
integrando a experiência sensível e o conhecimento adquirido ao longo de minha jornada.
Assim, planejo continuar buscando novos cursos de práticas terapêuticas corporais,
meditativas e humanísticas ao longo da vida, em busca de aprimoramento, atualização e
ressignificação de minha existência. Pretendo, também, refletir continuamente sobre minha
relação com o corpo e o mundo, escrevendo novas cartas com novas leituras de mundo e
experiências, sempre reafirmando a vida, a alegria, a saúde, o equilíbrio, o amor, a paz e a luz.
Considerações finais: reabilitar para (trans)formar
Nesta seção conclusiva, retomo a epístola ao corpo, construída como instrumento para
a seleção no curso de especialização em consciência corporal, saúde e qualidade de vida.
Minhas percepções iniciais acerca do corpo foram fortemente influenciadas pela perspectiva
biomédica, fruto de minha formação em medicina, embora abrangessem elementos básicos
de compreensão humanística, relacionais e holísticos.
A experiência de dez anos como pessoa com deficiência e o aprofundamento na temática
da inclusão e da reabilitação, sob uma perspectiva mais ampla, durante minha pós-graduação
em Saúde Coletiva, me proporcionaram o conhecimento para ir além da materialidade do corpo.
No entanto, reconheço que essas primeiras tentativas de integrar a essência ao corpo
aparente eram limitadas e pouco reflexivas. O viés excessivamente medicalizante da formação
médica sempre me incomodou profundamente, e considero, hoje, insuficiente a compreensão
unicausal, fragmentada e unidirecional do ser humano.
Hoje, compreendo a consciência corporal como um conjunto de conhecimentos e
práticas direcionadas à compreensão e à percepção do ser humano em sua totalidade, resgatando
os aspectos dos sentimentos, da identidade e da expressão no mundo. Para alcançar tal intento,
foram aprofundados elementos teóricos, metodológicos e epistemológicos para, com base na
plenitude do ser, unir a intercepção e a exterocepção, o ser sentido e o ser significado, os afetos,
as sensações e a ação no mundo. Concordando com Nóbrega (2009), a consciência corporal é
Érico Gurgel AMORIM
Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 19, n. 00, e023016, 2023. e-ISSN: 2526-3471
DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v19i00.18359 11
a percepção que o ser humano possui de sua realidade existencial como corpo em movimento,
como corporeidade.
Esse novo olhar sobre o eu-corpo e o mundo fornece alicerces para uma prática
profissional mais sensível e atenta à dinâmica da vida humana em sua completude, onde o ser
humano é integrado e atuante no mundo. Nesse contexto, posso, com determinação, auxiliar na
concretização da proposta contida em meu memorial de entrada como professor, incentivando
nos estudantes, nos usuários aos quais presto cuidado, nos familiares com quem me relaciono,
nos colegas de trabalho e em meus próprios familiares e amigos, a descoberta de si mesmos, a
valorização do autocuidado, a expressão cotidiana e a transformação enquanto sujeitos.
No âmbito da medicina, a consciência corporal possui um vasto potencial de atuação e
integração, desde a percepção do corpo como sujeito atuante e protagonista de seu próprio
cuidado até o empoderamento para ação multidimensional, embasado na completude do ser.
Isso impulsiona a prática de saúde humanizada, que acolhe e se relaciona horizontalmente, livre
de julgamentos e desrespeitos. Esses pilares constituem a base para o cuidado consigo mesmo,
com o outro e com o mundo, fundamentais para os trabalhadores de saúde, os familiares e toda
a comunidade. Além disso, implica em uma perspectiva ampliada de cura, que transcende a
matéria física e envolve as dimensões mental, espiritual e biopsicossocial. Também
compreende a interpretação dos sinais físicos e do sofrimento psíquico como vocalização do
inconsciente, do não dito e do interdito, entre outros importantes contributos.
A partir da formação em consciência corporal, saúde e qualidade de vida, anseio
aprofundar e incorporar diariamente o autoconhecimento, a relação entre o eu e o mundo, as
múltiplas formas de expressar vontades e desejos, a sensação de pertencer ao todo, ao cosmo,
e a intercorporeidade, que me conecta aos meus semelhantes e mais sentido e significado à
minha existência. Pretendo praticar e incorporar em minha rotina muitas das experiências
vivenciadas no curso, como meditação, relaxamento, alongamento, respiração profunda e
consciente, automassagem, silenciamento, canto, dança e o compartilhamento de impressões,
frustrações e curiosidades do mundo com meus semelhantes, perpetuando tais vivências em
meu coração.
Por fim, encerro este estudo com o sentimento de gratidão por esta jornada
transformadora, que ampliou meu entendimento do mundo e do ser. Comprometo-me, como
profissional e ser humano, a disseminar e aplicar os conhecimentos adquiridos, buscando
contribuir para uma sociedade mais empática, acolhedora e consciente, onde a reabilitação
A cegueira à luz da consciência corporal: Memórias de (trans)formação de um médico professor
Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 19, n. 00, e023016, 2023. e-ISSN: 2526-3471
DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v19i00.18359 12
possa (trans)formar vidas, promovendo a plenitude e o bem-estar de cada indivíduo e da
coletividade como um todo.
REFERÊNCIAS
ALVES, P. C. A fenomenologia e as abordagens sistêmicas nos estudos sócio-antropológicos
da doença: breve revisão crítica. Cadernos de Saúde Pública, [S.I.], v. 22, p. 1547-1554,
2006. DOI: 10.1590/S0102-311X2006000800003. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/csp/a/yZJWqGtsJZWmnsSzxyKTDcy . Disponível em: 10 ago. 2023.
BENJAMIN, W. Obras escolhidas: magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense,
1993.
BRAGANÇA, I. F. S. Sobre o conceito de formação na abordagem (auto) biográfica.
Educação, [S.I.], v. 34, n. 2, 2011. Disponível em:
https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/faced/article/view/8700. Acesso em: 05 ago.
2023.
BRASIL. Lei n.º 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa
com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Diário Oficial da União: Brasília,
DF, 2015.
DANES-STAPLES, E.; LIEBERMAN, L. J.; RATCLIFF, J.; ROUNDS, K. Bullying
experiences of individuals with visual impairment: The mitigating role of sport participation.
Journal of Sport Behavior, [S.I.], v. 36, n. 4, 2013. Disponível em:
https://core.ac.uk/download/pdf/233576199.pdf . Acesso em: 05 ago. 2023.
DELORS, J. Educação: um tesouro a descobrir. São Paulo: Cortez; Brasília: Unesco, 1996.
FREIRE, P.; GUIMARÃES, S. Aprendendo com a própria história. 2. ed. São Paulo: Paz e
Terra, 2002.
LARROSA, J. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Revista
Brasileira de Educação, [S.I.], n. 19, p. 20-28, 2002. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/rbedu/a/Ycc5QDzZKcYVspCNspZVDxC/?format=pdf&lang=pt .
Acesso em: 05 ago. 2023.
MELLO, A. G. Deficiência, Incapacidade e Vulnerabilidade: do capacitismo ou a
preeminência capacitista e biomédica do Comitê de Ética em Pesquisa da UFSC. Ciência &
Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 21, n. 10, p. 3265-3276, 2016. DOI: 10.1590/1413-
812320152110.07792016. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/csc/a/J959p5hgv5TYZgWbKvspRtF/abstract/?lang=pt . Acesso em:
05 ago. 2023.
MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da percepção. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes,
1999.
Érico Gurgel AMORIM
Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 19, n. 00, e023016, 2023. e-ISSN: 2526-3471
DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v19i00.18359 13
NÓBREGA, T. P. Corporeidade e educação física: do corpo-objeto ao corpo sujeito. 3. ed.
Natal: EDUFRN Editora da UFRN, 2009.
ORRÚ, S. E. A diferença como valor humano: Ensaio sobre as contribuições do pensamento
de Boaventura Sousa Santos, Gilles Deleuze e Homi Bhabha para o Paradigma da Inclusão.
Educação e Filosofia, [S.I.], v. 34, n. 71, p. 735-773, 2020. DOI:
10.14393/REVEDFIL.v34n71a2020-50642. Disponível em:
https://seer.ufu.br/index.php/EducacaoFilosofia/article/view/50642. Acesso em 10 set. 2023.
PINEAU, G. Experiências de Aprendizagem e Histórias de vida. In: CARRÉ, P.; CASPAR,
P. Tratado das Ciências e das Técnicas da Formação. Lisboa: Instituto Piaget, 1999.
PRADO, G. V. T.; SOLIGO, R. Memorial de formação: quando as memórias narram a
história da formação. Porque escrever é fazer história: revelações, subversões, superações.
Campinas: Graf, 2005.
RICOEUR, P. A memória, a história e o esquecimento. Campinas: Editora da UNICAMP,
2007.
SCHILDER, P. A imagem do corpo: as energias construtivas da psique. São Paulo: M.
Fontes, 1980.
A cegueira à luz da consciência corporal: Memórias de (trans)formação de um médico professor
Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 19, n. 00, e023016, 2023. e-ISSN: 2526-3471
DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v19i00.18359 14
CRediT Author Statement
Reconhecimentos: Gostaria de agradecer a Prof.a. Dra. Ana Zélia Alves Vieira Belo pelos
diálogos, a coordenação do curso de Especialista em Consciência Corporal, Saúde e
Qualidade de Vida da Universidade Federal do Rio Grande do Norte pelos aprendizados e
a Prof.a. Dra. Olivia Morais de Medeiros Neta pelo estímulo.
Financiamento: Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Conflitos de interesse: Não há conflitos de interesse.
Aprovação ética: O trabalho respeita princípios da ética na análise das fontes.
Disponibilidade de dados e material: Os dados e materiais utilizados no trabalho são de
acervo pessoal e podem ser compartilhados, caso necessário.
Contribuições dos autores: A concepção, a análise e a redação final do trabalho.
Processamento e editoração: Editora Ibero-Americana de Educação.
Revisão, formatação, normalização e tradução.
EDI
Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 19, n. 00, e023016, 2023. e-ISSN: 2526-3471
DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v19i00.18359 1
BLINDNESS IN LIGHT OF BODY AWARENESS: MEMORIES OF
(TRANS)FORMATION OF A MEDICAL PROFESSOR
A CEGUEIRA À LUZ DA CONSCIÊNCIA CORPORAL: MEMÓRIAS DE
(TRANS)FORMAÇÃO DE UM MÉDICO PROFESSOR
CEGUERA A LA LUZ DE LA CONCIENCIA CORPORAL: MEMORIAS DE
(TRANS)FORMACIÓN DE UN PROFESOR DE MEDICINA
Érico Gurgel AMORIM1
e-mail: ericogur@gmail.com
How to reference this paper:
AMORIM, É. G. Blindness in light of body awareness: Memories
of (trans)formation of a medical professor. Temas em Educ. e
Saúde, Araraquara, v. 19, n. 00, e023016, 2023. e-ISSN: 2526-
3471. DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v19i00.18359
| Submitted: 14/08/2023
| Revisions required: 14/09/2023
| Approved: 05/11/2023
| Published: 30/12/2023
Editors:
Prof. Dr. Luci Regina Muzzeti
Prof. Dr. Rosangela Sanches da Silveira Gileno
Deputy Executive Editor:
Prof. Dr. José Anderson Santos Cruz
Federal University of Rio Grande do Norte (UFRN), Natal Rio Grande do Norte (RN) Brazil. Doctoral degree
in Public Health from UFRN, Professor at the Multicampi School of Medical Sciences of Rio Grande do Norte
(EMCM) at UFRN.
Blindness in light of body awareness: Memories of (trans)formation of a medical professor
Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 19, n. 00, e023016, 2023. e-ISSN: 2526-3471
DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v19i00.18359 2
ABSTRACT: The objective of this paper is to provide a critical, self-critical, and confessional
view of these experiences enriched by emotions and passions, showcasing the significance of
my professional choice as a physician and medical professor, projecting my inner self and
future, as well as addressing aspects of childhood, adolescence, and adulthood that contributed
to my understanding of my body, relationship with sports, school life, and friendships. I employ
autobiographical sources, information from my Lattes curriculum, records of completed
modules in the specialization, a statement of intentions in the selection process, personal
memories, and projective elements of practices and readings. References to authors in the
phenomenology of perception discussed throughout the course aid in understanding the
synesthesia present in myself and in relations with others and the world, seeking, through these
reflections, to project me towards future actions, living with fullness, intensity, quality of life,
and purpose.
KEYWORDS: Visually Impaired Persons. Memory. Formation. Body awareness.
RESUMO: O objetivo deste trabalho é traçar uma visão crítica, autocrítica e confessional
dessas experiências enriquecidas por emoções e paixões, apresentando a relevância de minha
escolha profissional como médico e professor de medicina, projetando meu eu interior e futuro,
além de abordar aspectos da infância, adolescência e vida adulta que contribuíram para o
conhecimento de meu corpo, relação com esportes, vida escolar e amizades. Utilizo fontes
autobiográficas, informações do currículo lattes, registros dos módulos concluídos na
especialização, carta de intenções no processo seletivo, memórias pessoais e elementos
projetivos de práticas e leituras. Referências a autores da fenomenologia da percepção
discutidos ao longo do curso auxiliam na compreensão da sinestesia presente em mim e nas
relações comigo mesmo, com os outros e com o mundo, buscando, a partir dessas reflexões,
projetar-me para ações futuras, vivendo com plenitude, intensidade, qualidade de vida e
sentido.
PALAVRAS-CHAVE: Pessoas com Deficiência Visual. Memória. Formação. Consciência
corporal.
RESUMEN: El objetivo del Trabajo es trazar una visión crítica, autocrítica y confesional de
estas experiencias enriquecidas por emociones y pasiones, presentando la relevancia de mi
elección profesional como médico y profesor de medicina, proyectando mi yo interior y futuro,
además de abordar aspectos de mi infancia, adolescencia y vida adulta que contribuyeron al
conocimiento de mi cuerpo, mi relación con el deporte, la vida escolar y las amistades. Utilizo
fuentes autobiográficas, información de mi currículum lattes, registros de los módulos
completados en la especialización, carta de intenciones en el proceso de selección, memorias
personales y elementos proyectivos de prácticas y lecturas. Las referencias a autores de la
fenomenología de la percepción discutidos a lo largo del curso ayudan a comprender la
sinestesia presente en y en las relaciones conmigo mismo, con los demás y con el mundo,
buscando, a partir de estas reflexiones, proyectarme hacia acciones futuras, viviendo con
plenitud, intensidad, calidad de vida y sentido.
PALABRAS CLAVE: Personas con Daño Visual. Memoria. Formación. Conciencia corporal.
Érico Gurgel AMORIM
Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 19, n. 00, e023016, 2023. e-ISSN: 2526-3471
DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v19i00.18359 3
Introduction
Autobiographical writing has always been a challenge for me, as recalling memorable
events, lessons learned, and indescribable experiences inevitably brings me face-to-face with
adversities, errors, and anxieties. In this memoir, I do not intend to select only the successful
episodes or those with satisfying endings, but rather to present my human side, full of
imperfections, desires, and dreams, which have shaped my identity as thinking and desiring to
be in this world.
I remember my elementary school days when, on the first day of each school year, the
teacher would ask us to write about our holiday experiences. In this context, I naturally shared
only the happiest events, as if I needed to shield myself from the less fortunate days so that the
teacher would well receive my narrative.
As I matured during high school and through more critical readings, such as the works
of Machado de Assis, Graciliano Ramos, and Karl Marx, I came to understand that life is not a
journey without obstacles. We face challenges that require constant reinvention, turning us into
the protagonists of our own stories. These experiences shape and change us, directing us toward
new paths or even a return to old ones.
Building on this narrative thread, Freire and Guimarães (2002) emphasize the premise
that it is imperative to understand history so that we can extract valuable lessons from it. To
achieve this knowledge, one must commit to serious and in-depth study, adopting rigor and
discipline as guides. This requires countless hours of dedication, along with a sincere
willingness to explore, learn, and assimilate. This quest for understanding harks back to one's
life journey, becoming an invaluable source for personal and global transformation. Through
this process, we become beings in constant harmony with the changes that surround and propel
us.
Thus, this memoir aims to revisit stories, whether positive or negative, that have given
meaning and significance to the defining moments of my trajectory. Understanding these
experiences helps me reexamine my journey, reassessing choices, reactions, frustrations, and
transformations resulting in new worldviews.
Blindness in light of body awareness: Memories of (trans)formation of a medical professor
Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 19, n. 00, e023016, 2023. e-ISSN: 2526-3471
DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v19i00.18359 4
Methodology
Autobiographical writing necessitates recognizing it as an integral part of self-research.
In this context, memories serve as tools that allow us to reconnect with the past, relive the
intensity of events, and extract both apparent and hidden lessons.
Ricoeur (2007), in his work on memory, history, and forgetting, emphasizes that
memory is a struggle against oblivion, where its representations are marked by the presence or
absence of the past, thus determining the reliability of recollections.
According to Pineau (1999, p. 331, our translation), the aim of autobiographical writing
is for the individual in training to engage in a reflective return on their "trajectory to construct
from it a project of research-action-training. This mode of writing enables its practitioners to
confront vicissitudes, dilemmas, successes, and concerns, whose reflective analysis
significantly contributes to the deepening understanding of their lived experiences, both in
personal and professional realms, and to the elucidation of the challenges intrinsic to these
domains".
Prado and Soligo (2005) clarify that the memoir constitutes both a formative tool and a
privileged textual genre, allowing the author to assert their voice in the process of authorship,
making public their opinions, anxieties, experiences, and memories, contributing to the
(re)construction of identity.
According to Bragança (2011), the formation of the subject is intrinsically linked to
experiential learning and identity processes, providing a sensitive understanding of existential
complexity and the sharing of knowledge. The author emphasizes that formation encompasses
all moments and spaces of life, enabling a liberating human transformation through knowledge,
self-construction, and interaction with the world.
In this light, I divide the consequences of my memories into two sections. In the first,
titled Memórias e Formação: Relatos de uma Trajetória Educacional
, I return to my origins,
highlighting my school and university education, my postgraduate studies, and the beginning
of my professional career. In the second section, Experiências e (Trans)Formações
, I
reanalyze moments of profound transformation in my life, especially visual impairment, its
repercussions on my personal and professional trajectory, and the influence of these experiences
on my specialization in Body Awareness, Health, and Quality of Life, with concluding remarks.
Memories and Formation: Accounts of an Educational Journey.
Experiences and (Trans)Formations.
Érico Gurgel AMORIM
Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 19, n. 00, e023016, 2023. e-ISSN: 2526-3471
DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v19i00.18359 5
The specialization course in body awareness, health, and quality of life is a lato sensu
postgraduate program offered by the Department of Physical Education at the Federal
University of Rio Grande do Norte (UFRN), conducted from May 2021 to November 2022.
The course featured monthly meetings held remotely in a synchronous format and was
organized into curricular components. This training provided me the opportunity to deepen my
knowledge, practices, discussions, and reflections that contributed both to the creation of this
memoir and my personal and professional development.
I hope, in this way, to present to the reader the reflections and feelings that emerged
from the experiences lived, the learnings shared, and the emotions awakened, in a profound and
genuine manner. Using the metaphor of The Little Prince, I aspire to contemplate my biography,
just as he contemplated the rose, with all its nuances, including the challenges. Moreover, I
wish to analyze my life, emphasizing the details that compose my scenery and its circumstances,
thereby strengthening my self-knowledge and ongoing dialogue with the world around me, in
search of personal and collective transformation.
Memories and Formation: Accounts of an Educational Journey
My educational journey began in Rio de Janeiro in 1980. Swimming soon became my
favorite sporting activity, earning the admiration of onlookers for my courageous performance.
I quickly began to participate in competitions and accumulate medals. Each defeat motivated
me to strive for improvement.
At a young age, I moved to Natal (RN) due to my father's job transfer. I attended Escola
Nossa Senhora das Neves, where I completed all my elementary and high school education,
participating in various civic, cultural, and sports activities. Sports were valued at the school,
and swimming continued to be my passion, providing a deep connection with myself and
moments of tranquility and stimulation.
For practical reasons, I temporarily switched to generalist physical education in high
school, which frustrated me as I did not identify with playing futsal. Gradually, I realized that
my genuine desire was to return to swimming, and my parents supported this decision due to
my good academic performance.
I was the class leader for several years, representing my class in meetings with teachers
and at the civic center. However, this involvement contrasted with a deep feeling of loneliness
Blindness in light of body awareness: Memories of (trans)formation of a medical professor
Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 19, n. 00, e023016, 2023. e-ISSN: 2526-3471
DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v19i00.18359 6
that almost always accompanied me. Bullying by some classmates due to my Carioca accent
and mannerisms exacerbated this feeling. Isolating myself in the library during breaks became
a way to cope with this situation. According to et al. (2013), bullying is characterized by
repeated exposure to physical or behavioral depreciation actions over a prolonged period,
causing emotional and affective harm to the victim and resulting in social isolation.
After completing high school, I achieved my dream of entering the Medical School at
UFRN and continued with a Residency in Internal Medicine and Endocrinology at the State
University of Campinas (UNICAMP). This phase of studies and professional training allowed
me to develop teaching skills and deepen my knowledge of hormones and metabolism.
During my undergraduate studies, I noticed an excessive biomedical bias at the expense
of more humanistic approaches. The biomedical conception of the body relies on biophysics
and the dichotomy of normality vs. abnormality, conceiving "disease as the result of a deviation
from elements primarily morphophysiological and psychological (disease)" (Alves, 2006, our
translation). According to the author, this understanding enshrines disease as the linear and
direct result of a pathological process that bestows the institutionality of the biomedical
conception of medicine and its professionalization.
This understanding underpins a Cartesian, dualist vision that is often objectified,
fragmented, and mechanistic of the human being, who, devoid of subjectivity and
consciousness, occupies the passive and uncritical pole of the “doctor-patient relationship.
After graduation, I returned to Natal to begin my professional practice. I worked as a
doctor in the Family Health Strategy (ESF) in Pendências, engaging in health promotion and
education activities. Additionally, I worked in the endocrinology outpatient clinic of Luís
Antônio Hospital and taught Medical Semiology and Endocrinology at Universidade Potiguar
(UNP).
However, upon returning, my journey took an unexpected turn. A new self began to
emerge, and my body awareness entered a process of mutation. This phase of transformation
was challenging but also allowed me to mature and face new encounters with myself.
Érico Gurgel AMORIM
Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 19, n. 00, e023016, 2023. e-ISSN: 2526-3471
DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v19i00.18359 7
Experiences of Transformation: The Journey of a Being with Visual Impairment
Experience, as Benjamin (1993) suggests, is a mobilizing, touching, and transformative
phenomenon that profoundly affects us. It carries the strength of the collective, the participation
of others, and the richness of polyphony, manifesting itself in multiple meanings and
interpretations. The knowledge gained through experience emerges from the interaction
between knowledge and human life, singular and concrete (Larrosa, 2002).
My new trajectory began with the diagnosis of retinitis pigmentosa, a degeneration of
the retina that resulted in tunnel vision and progressive loss of visual acuity. Since my 20s, I
have faced difficulties with night vision, in low-light environments, and gradually, with
reading. I consulted various specialists and underwent tests until confirmation came about 10
years after the symptoms began, through genetic mapping that revealed a mutation in the Cerkl
gene, characteristic of retinitis pigmentosa.
The initial signs of the condition likely appeared years earlier when the individual
experienced discomfort while following night-time indoor soccer or volleyball games, while
their friends continued the activity without visual difficulties. On those occasions, they would
choose to sit on the bench and watch from a distance.
After the diagnosis, I faced a series of emotional reactions, including doubts and
anxieties. However, I chose to continue, buoyed by statistics indicating that approximately 20
to 30% of cases do not progress to more severe forms. However, upon returning to Natal, my
visual condition worsened, adding new challenges such as difficulties in reading and collisions
with objects.
During this period, I experienced moments of denial, anger, sadness, and fear, and I
occasionally directed these feelings toward my parents and grandparents, considering the
genetic nature of the visual condition. These emotional cycles also manifested in my parents,
with denial prevailing for many years, which generated uncertainties about accepting my new
reality.
Living with visual impairment highlights the phenomenon of ableism, defined as a
prejudicial attitude that ranks individuals based on the conformity of their bodies to corporeality
norms (Mello, 2016). Such prejudice can manifest internally, as self-ableism, or be directed
towards other people with disabilities, negatively impacting social interactions and inclusion.
While working as a doctor for the Family Health Strategy in Pendências (RN), I
encountered a new world of challenges, facing glare and brightness in the mornings, haziness
Blindness in light of body awareness: Memories of (trans)formation of a medical professor
Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 19, n. 00, e023016, 2023. e-ISSN: 2526-3471
DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v19i00.18359 8
in the afternoons, and darkness at night. People did not know how to help, and I was learning
to adapt to the new scenario, seeking ways to move and assistive technologies.
During this period, the discourse of medical rehabilitation permeated my life, being
reinforced at work, during home visits, and even within the family. Often, I was questioned
about the possibility of surgeries to improve my vision, something I knew to be unfeasible, but
which I nonetheless nurtured as an illusory hope.
My attempts to find treatments led me to consult doctors in various cities and even to
travel across the country in search of research protocols involving stem cells. However, my
visual condition was too compromised to be included in experimental trials, leading to
disillusionment and depression.
As Schilder (1980, p. 11, our translation) presents: "The image of the human body is the
figuration of our body formed in the mind, that is, the way in which the body presents itself to
us." This mode of appropriation, when not confronted and satisfactorily addressed, is often
dominant and can impose a series of self-punishments, punitive perspectives, or social
separations.
After a period of reflection, I realized that I needed to face my situation with more
confidence and decided to begin the rehabilitation process in 2012. At the Institute for
Education and Rehabilitation of the Blind in Rio Grande do Norte (IERC), I familiarized myself
with the white cane, the signature guide, and Braille writing. I still resisted internally and
externally to this learning process, but I found support in individuals with visual impairments,
especially in the Hope Alive Group, a music education program for the blind at UFRN.
My wife also played a crucial role in this journey of learning, perseverance, and self-
confidence. I learned from Valter Hugo Mae about the importance of touch and how sensitivity
and empathy towards others' suffering can make us more humane.
Merleau-Ponty (1999) introduces us to the expanded conception of the body as a form
of expression of our being in the world, not merely as a simple object, but as a living presence
in motion, encompassing aspects of subjectivity and the relationship with oneself, with others,
and with our environment.
Over time, I rekindled my passion for swimming and discovered biodance, which
brought life, courage, and a new perspective of interaction with the world. Throughout these
experiences, I sought to deepen my self-awareness and understanding of the health of people
with disabilities. I pursued further specializations, undergraduate and master’s degrees, facing
Érico Gurgel AMORIM
Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 19, n. 00, e023016, 2023. e-ISSN: 2526-3471
DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v19i00.18359 9
challenges and being welcomed into the faculty at UFRN, where I could contribute to inclusion
and accessibility, fostering a welcoming and accessible environment.
According to the Brazilian Inclusion Law (Brasil, 2015), it is the collective
responsibility of society, the government, and families to safeguard the rights of people with
disabilities. These rights include accessibility, effective communication, access to information,
health care, rehabilitation, dignity, respect, freedom, and participation in community life,
among others. Consequently, it is the duty of every member of society, whether or not they
have a disability, to ensure an inclusive environment free from barriers that allow the full
participation of everyone in meaningful social interactions.
Thus, “Through the movement of inclusion, individuals come closer to themselves and
their communities, and in this tactical but not predetermined or predictable movement, they
(re)unite and strengthen forces for the creation and (re)creation of social connections promising
the continuous constitution of their ways of being and existing in the world, with the world, and
with others as protagonists of their history in collectivity” (Orrú, 2020, p. 27, our translation).
Currently, I understand that rehabilitation transcends mere recovery of physical
functionality; it involves a profound transformation of the body, mind, and spirit. Through this
experience, one learns to perceive the world in various ways, using tools such as screen readers,
text scanners, smartphone apps, and fundamentally, one's sensitivity.
I noticed a significant evolution in my understanding of the world and my existence
during my specialization. My view of the body transformed into something more expansive,
cosmic, dynamic, sensitive, and reflective. This transformation allowed me to feel the
expression of this integration and reaffirm my existence as something that transcends the
obvious, the static, and the visible, reaching the plane of the immaterial, the invisible, the
beyond, and the sublime. According to Merleau-Ponty (1999), the body is an active being
essential in our understanding of the world, constantly involved in sensory experiences and
movements, i.e., the esthesiological body, a body that moves and desires.
Thus, Delors (1996) teaches us that among the essential learnings for cognitive and
social development is the preparation to deal with life's adversities, justice, empathy,
preparation for work, and living in society. These pillars are fundamental in my encounter with
the world after the loss of vision, propelling me to explore new paths, rebuild myself as a person,
establish new connections, and launch into the sea of the infinitude of life, with perseverance
and dedication.
Blindness in light of body awareness: Memories of (trans)formation of a medical professor
Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 19, n. 00, e023016, 2023. e-ISSN: 2526-3471
DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v19i00.18359 10
In summary, body awareness represents the knowledge and practice that allow us to
understand and perceive the wholeness of being, rescuing feelings, identity, and expression in
the world. It is the interaction between the perception of the body as both essence and
appearance, integrating sensible experience and the knowledge acquired throughout my
journey.
Thus, I plan to continue seeking new courses in body therapeutic practices and
meditative and humanistic techniques throughout life, aiming for improvement, updating, and
redefining my existence. I also intend to continuously reflect on my relationship with the body
and the world, writing new letters with new worldviews and experiences, always reaffirming
life, joy, health, balance, love, peace, and light.
Final Considerations: Rehabilitating to Transform
In this concluding section, I return to the letter to the body, constructed as a tool for the
selection process in the specialization course in body awareness, health, and quality of life. My
initial perceptions of the body were strongly influenced by the biomedical perspective, a result
of my medical training, although they already included essential elements of humanistic,
relational, and holistic understanding.
My ten-year experience as a person with a disability and the deepening of themes related
to inclusion and rehabilitation, from a broader perspective, during my postgraduate studies in
Public Health, provided me with the knowledge to go beyond the materiality of the body.
However, these initial attempts to integrate the essence into the apparent body were
limited and not very reflective. The excessively medicalizing bias of medical training has
always deeply bothered me, and today, I consider the unicausal, fragmented, and unidirectional
understanding of the human being to be insufficient.
Today, I understand body awareness as a set of knowledge and practices aimed at
comprehending and perceiving human beings in their totality, rescuing aspects of feelings,
identity, and expression in the world. To achieve this goal, theoretical, methodological, and
epistemological elements were deepened to, based on the fullness of being, unite interception
and exteroception, the being sensed and the being signified, affections, sensations, and action
in the world. Agreeing with Nóbrega (2009), body awareness is the perception that human
beings have of their existential reality as a body in motion, as corporeality.
Érico Gurgel AMORIM
Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 19, n. 00, e023016, 2023. e-ISSN: 2526-3471
DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v19i00.18359 11
This new perspective on the self-body and the world provides a foundation for a more
sensitive professional practice attentive to the dynamics of human life in its completeness,
where the human being is integrated and active in the world. In this context, I can, with
determination, assist in realizing the proposal contained in my entry memorial as a professor,
encouraging students, the clients to whom I provide care, the family members with whom I
interact, colleagues at work, and in my own family and friends, the discovery of themselves,
the valorization of self-care, daily expression, and transformation as subjects.
In the field of medicine, body awareness holds vast potential for action and integration,
from perceiving the body as an active subject and protagonist of its care to empowerment for
multidimensional action, based on the completeness of being. This drives the practice of
humanized health care, which is welcoming and relates on a horizontal level, free from
judgments and disrespect. These pillars constitute the foundation for self-care, care for others,
and care for the world, essential for health workers, family members, and the entire community.
Moreover, it involves an expanded perspective of healing that transcends physical matter and
encompasses mental, spiritual, and biopsychosocial dimensions. It also includes interpreting
physical signs and psychological suffering as vocalizations of the unconscious, the unsaid, and
the forbidden, among other significant contributions.
From my training in body awareness, health, and quality of life, I aspire to deepen and
incorporate daily self-knowledge, the relationship between the self and the world, the multiple
ways of expressing desires and needs, the feeling of belonging to the whole, to the cosmos, and
intercorporeality, which connects me to my peers and gives more meaning and significance to
my existence. I intend to practice and incorporate into my routine many of the experiences from
the course, such as meditation, relaxation, stretching, deep and conscious breathing, self-
massage, silence, singing, dancing, and sharing impressions, frustrations, and curiosities about
the world with my peers, perpetuating such experiences in my heart.
Finally, I conclude this study with a feeling of gratitude for this transformative journey,
which has broadened my understanding of the world and being. I commit, as both a professional
and a human being, to disseminate and apply the knowledge acquired, aiming to contribute to
a more empathetic, welcoming, and conscious society, where rehabilitation can (trans)form
lives, promoting the fulfillment and well-being of each individual and the community as a
whole.
Blindness in light of body awareness: Memories of (trans)formation of a medical professor
Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 19, n. 00, e023016, 2023. e-ISSN: 2526-3471
DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v19i00.18359 12
REFERENCES
ALVES, P. C. A fenomenologia e as abordagens sistêmicas nos estudos sócio-antropológicos
da doença: breve revisão crítica. Cadernos de Saúde Pública, [S.I.], v. 22, p. 1547-1554,
2006. DOI: 10.1590/S0102-311X2006000800003. Available at:
https://www.scielo.br/j/csp/a/yZJWqGtsJZWmnsSzxyKTDcy. Accessed in: 10 Aug. 2023.
BENJAMIN, W. Obras escolhidas: magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense,
1993.
BRAGANÇA, I. F. S. Sobre o conceito de formação na abordagem (auto) biográfica.
Educação, [S.I.], v. 34, n. 2, 2011. Available at:
https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/faced/article/view/8700. Accessed in: 05
Aug. 2023.
BRASIL. Lei n.º 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa
com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Diário Oficial da União: Brasília,
DF, 2015.
DANES-STAPLES, E.; LIEBERMAN, L. J.; RATCLIFF, J.; ROUNDS, K. Bullying
experiences of individuals with visual impairment: The mitigating role of sport participation.
Journal of Sport Behavior, [S.I.], v. 36, n. 4, 2013. Available at:
https://core.ac.uk/download/pdf/233576199.pdf . Accessed in: 05 Aug. 2023.
DELORS, J. Educação: um tesouro a descobrir. São Paulo: Cortez; Brasília: Unesco, 1996.
FREIRE, P.; GUIMARÃES, S. Aprendendo com a própria história. 2. ed. São Paulo: Paz e
Terra, 2002.
LARROSA, J. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Revista
Brasileira de Educação, [S.I.], n. 19, p. 20-28, 2002. Available at:
https://www.scielo.br/j/rbedu/a/Ycc5QDzZKcYVspCNspZVDxC/?format=pdf&lang=pt .
Accessed in: 05 Aug. 2023.
MELLO, A. G. Deficiência, Incapacidade e Vulnerabilidade: do capacitismo ou a
preeminência capacitista e biomédica do Comitê de Ética em Pesquisa da UFSC. Ciência &
Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 21, n. 10, p. 3265-3276, 2016. DOI: 10.1590/1413-
812320152110.07792016. Available at:
https://www.scielo.br/j/csc/a/J959p5hgv5TYZgWbKvspRtF/abstract/?lang=pt . Accessed in:
05 Aug. 2023.
MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da percepção. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes,
1999.
NÓBREGA, T. P. Corporeidade e educação física: do corpo-objeto ao corpo sujeito. 3. ed.
Natal: EDUFRN Editora da UFRN, 2009.
ORRÚ, S. E. A diferença como valor humano: Ensaio sobre as contribuições do pensamento
de Boaventura Sousa Santos, Gilles Deleuze e Homi Bhabha para o Paradigma da Inclusão.
Érico Gurgel AMORIM
Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 19, n. 00, e023016, 2023. e-ISSN: 2526-3471
DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v19i00.18359 13
Educação e Filosofia, [S.I.], v. 34, n. 71, p. 735-773, 2020. DOI:
10.14393/REVEDFIL.v34n71a2020-50642. Available at:
https://seer.ufu.br/index.php/EducacaoFilosofia/article/view/50642. Accessed in 10 Sept.
2023.
PINEAU, G. Experiências de Aprendizagem e Histórias de vida. In: CARRÉ, P.; CASPAR,
P. Tratado das Ciências e das Técnicas da Formação. Lisboa: Instituto Piaget, 1999.
PRADO, G. V. T.; SOLIGO, R. Memorial de formação: quando as memórias narram a
história da formação. Porque escrever é fazer história: revelações, subversões, superações.
Campinas: Graf, 2005.
RICOEUR, P. A memória, a história e o esquecimento. Campinas: Editora da UNICAMP,
2007.
SCHILDER, P. A imagem do corpo: as energias construtivas da psique. São Paulo: M.
Fontes, 1980.
Blindness in light of body awareness: Memories of (trans)formation of a medical professor
Temas em Educ. e Saúde, Araraquara, v. 19, n. 00, e023016, 2023. e-ISSN: 2526-3471
DOI: https://doi.org/10.26673/tes.v19i00.18359 14
CRediT Author Statement
Acknowledgements: I would like to thank Prof. Dr. Ana Zélia Alves Vieira Belo for the
dialogues, the coordination of the Specialist in Body Awareness, Health, and Quality of
Life course at the Federal University of Rio Grande do Norte for the learnings, and Prof.
Dr. Olivia Morais de Medeiros Neta for the encouragement.
Funding: Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Conflicts of interest: There are no conflicts of interest.
Ethical approval: The work adheres to ethical principles in the analysis of sources.
Data and material availability: The data and materials used in the work are from
personal archives and can be shared if necessary.
Author’s contributions: The conception, analysis, and final writing of the work.
Processing and editing: Editora Ibero-Americana de Educação.
Proofreading, formatting, normalization and translation.