Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ., Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e023010, 2023. e-ISSN: 2594-8385
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v24iesp.1.18181 1
OS DESEJOS ADORMECIDOS NAS NOTAS DE CAMPO: ESTUDO SOBRE O
PENSAMENTO BIOLÓGICO EM CURRÍCULOS DO YOUTUBE
DESEOS DORMIDOS EM NOTAS DE CAMPO: UM ESTUDIO DEL PENSAMIENTO
BIOLÓGICO EM LOS CURRÍCULOS DE YOUTUBE
SLEEPING DESIRES IN FIELD NOTES: A STUDY ON BIOLOGICAL THINKING IN
YOUTUBE CURRICULA
Matheus Reis DANTAS1
e-mail: rdantasmatheus@gmail.com
Lívia de Rezende CARDOSO2
e-mail: livinha.bio@gmail.com
Como referenciar este artigo:
DANTAS, Matheus Reis; CARDOSO, Lívia de Rezende.
Os desejos adormecidos nas notas de campo: Estudo sobre
o pensamento biológico em currículos do YouTube. Doxa:
Rev. Bras. Psico. e Educ., Araraquara, v. 24, n. esp. 1,
e023010, 2023. e-ISSN: 2594-8385. DOI:
https://doi.org/10.30715/doxa.v24iesp.1.18181
| Submetido em: 15/02/2023
| Revisões requeridas em: 22/04/2023
| Aprovado em: 11/06/2023
| Publicado em: 01/08/2023
Editor:
Prof. Dr. Paulo Rennes Marçal Ribeiro
Editor Adjunto Executivo:
Prof. Dr. José Anderson Santos Cruz
Universidade Federal de Sergipe (UFS), São Cristóvão SE Brasil. Mestrando no Programa de Pós-graduação
em Educação (PPGED). Professor de Ciências da Natureza na Secretaria de Estado da Educação de Alagoas
(SEDUC/AL).
Universidade Federal de Sergipe (UFS), São Cristóvão SE Brasil. Doutora pelo Programa de Pós-Graduação
em Educação, Conhecimento e Inclusão Social na Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG). Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGED).
Os desejos adormecidos nas notas de campo: Estudo sobre o pensamento biológico em currículos do YouTube
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ., Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e023010, 2023. e-ISSN: 2594-8385
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RESUMO: O objetivo deste artigo é analisar a produção dos desejos da natureza em currículos do
YouTube. Os currículos são práticas discursivas que constroem representações sobre desejos, gêneros,
sexualidades e corpos, afetando formas de existência marcadas por abjetificação e normatização.
Utilizando abordagem netnográfica e análise do discurso inspirada em Foucault, investigo o “Tinder da
Natureza” e os possíveis matchs nessa rede intensificadora de relações. O discurso biológico reforça
coerências e fluxos unidimensionais de desejo, enraizados em uma estrutura governamental
cisheteropatriarcal ou de dominação sexopolítica. A heteronormatividade é identificada nos esforços
contínuos que retratam a natureza como uma tecnologia que engloba apenas performances de machos e
fêmeas, monogamia, competições e consumo excessivo de energia para encontrar um/a parceiro/a
sexual. Portanto, é necessário pensar em composições curriculares que transcendam a
cisheteronormatividade punitiva e culpabilizadora, pois os conhecimentos divulgados nos vídeos
analisados legitimam movimentos conservadores, como a “ideologia de gênero” e o discurso religioso.
PALAVRAS-CHAVE: Desejos da natureza. Pedagogia queer. Currículos do YouTube. Netnografia.
Sexopolítica.
RESUMEN: El objetivo de este artículo es analizar la producción de los deseos de la naturaleza en los
currículos de YouTube. Los currículos son prácticas discursivas que construyen representaciones sobre
deseos, géneros, sexualidades y cuerpos, afectando a formas de existencia marcadas por la abyección
y la normalización. Utilizando un enfoque netnográfico y un análisis del discurso inspirado en Foucault,
investigo el “Tinder de la Naturaleza” y las posibles coincidencias en esta red intensificadora de
relaciones. El discurso biológico refuerza las coherencias y los flujos unidimensionales del deseo,
enraizados en una estructura gubernamental cisheteropatriarcal o en la dominación sexopolítica. La
heteronormatividad se identifica en los esfuerzos continuos que retratan la naturaleza como una
tecnología que abarca sólo las actuaciones masculinas y femeninas, la monogamia, las competiciones
y el consumo excesivo de energía para encontrar una pareja sexual. Por lo tanto, es necesario pensar
en composiciones curriculares que trasciendan la cisheteronormatividad punitiva y culpabilizadora, ya
que los conocimientos difundidos en los videos analizados legitiman movimientos conservadores, como
la “ideología de género” y el discurso religioso.
PALABRAS CLAVE: Deseos de la naturaleza. Pedagogía queer. Planes de estudios en YouTube.
Netnografía. Sexopolítica.
ABSTRACT: The aim of this article is to analyze the production of the desires of nature in YouTube
curricula. Curricula are discursive practices that construct representations about desires, genders,
sexualities and bodies, affecting forms of existence marked by abjectification and normalization. Using
a netnographic approach and discourse analysis inspired by Foucault, I investigate “Nature's Tinder”
and the possible matches in this relationship-enhancing network. The biological discourse reinforces
coherences and one-dimensional flows of desire, rooted in a cisheteropatriarchal governmental
structure or sex-political domination. Heteronormativity is identified in ongoing efforts that portray
nature as a technology encompassing only male and female performances, monogamy, competitions,
and excessive energy consumption to find a sexual partner. Therefore, it is necessary to think of
curricular compositions that transcend the punitive and blaming cisheteronormativity, since the
knowledge disseminated in the analyzed videos legitimizes conservative movements, such as the “gender
ideology” and the religious discourse.
KEYWORDS: Desires of nature. Queer pedagogy. YouTube curricula. Netnography. Sexopolitics.
Matheus Reis DANTAS e Lívia de Rezende CARDOSO
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ., Araraquara, v. 18, n. esp. 1, e023010, 2023. e-ISSN: 2594-8385
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Introdução
[...] a paixão não tem lugar na sala de aula (HOOKS, 2019, p. 146).
Quando adentramos no campo da educação, quase que inflexivelmente somos
incitados/as a seguir o destino de anular nossos corpos e atuarmos como espíritos
descorporificados, sistemáticos e pseudocríticos nas salas de aula e/ou nas pesquisas
acadêmicas. Ao relegarmos o potencial do eros e do erotismo nas práticas pedagógicas a
abordagens pontuais, objetivas e em ambientes formalizados, estaremos abrindo espaços para
racionalidades “que permitem o controle minucioso das operações do corpo” (FOUCAULT,
2014, p. 135) baseadas no “temor de que a presença de sentimentos, de paixão, possa impedir
uma consideração objetiva dos méritos de cada estudante” (HOOKS, 2019, p. 154).
Os processos disciplinares (FOUCAULT, 2014) aprofundam insistentemente as
fatoriais relações de docilidade-utilidade no chão da escola, como também “fabrica modos de
vivenciar, conhecer e compreender as relações de gênero, corpo, nudez e sexualidade” (SILVA;
SALES, 2018, p. 283), produz isolamentos, reforça valores coloniais (epistemicídio) e
estereótipos, a exemplo da visão utilitária dos corpos e dos gêneros pelo biopoder (DUTRA et
al., 2019). Do mesmo modo, os processos disciplinares influenciam na livre circulação de
currículos culturais, com suas sutis pedagogias produtivo-massificadoras de subjetividades e
modos de existência (SILVA; SALES, 2019).
Em outras palavras, reiteramos constantemente uma educação cuja “finalidade de
transformação da alma e do comportamento” se dá a partir do disciplinamento das experiências
(extra)corporais/sensoriais/emocionais (FOUCAULT, 2014, p. 122). As subjetividades
produzidas pelas estratégias coercitivas da educação implementada diariamente em escolas e
outros espaços, em sua maioria, temem sentir desejos e paixões, mais ainda, acreditam que as
“novas” presenças estranhas no contexto escolar e nos ciberespaços invalidam e poluem os
princípios institucionais de neutralidade, estabilidade, objetividade e a racionalidade científico-
pedagógica das mesmas instituições.
Todavia, se existisse um currículo capaz de resumir o que aprendemos na sala de aula e
as consequências de experimentar(-se) no terreno das escolas, uma parte dele não denunciaria
que sempre estivemos longe da hipótese repressiva, isto é, de que foi negada a economia e os
efeitos das paixões, dos sexos, das sexualidades, dos corpos, dos gêneros, das atrações e dos
desejos em nossas vidas, como também temeria o contra efeito resultante da interdição dos
discursos sobre as diferenças (PRECIADO, 2011) no campo escolar, pois a “censura [...]
constitui-se uma aparelhagem para produzir discursos sobre o sexo, cada vez mais discursos,
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susceptíveis de funcionar e de serem efeito da sua própria economia” (FOUCAULT, 2021, p.
26).
Sendo assim, assumir que questões como estas das diferenças não se configuram
como um campo de tensão para alguns setores sociais e/ou ligados a política educacional do
Brasil desde 2003, é não estar a par da existência “de uma avalanche de ideias reacionárias que
buscam inundar a todos e todas com moralismo, divisões naturalizadas, identidades fixas,
generificações hierárquicas, silêncios interessados, ódios destruidores, omissões desastrosas,
retrocessos inaceitáveis” que se faz uma ameaça centralizadora gradativamente popularizada
sob o nome “ideologia de gênero” (DINIS; PAMPLONA, 2014; PARAÍSO, 2018, p. 25). Logo,
vivemos em um tempo que “a vocação normatizadora da educação -se ameaçada” pelo
acirramento dos desafios em lidar, compor e aprender com as “novas” práticas, com os sujeitos,
com as subjetividades e com os modos de vida que adentram nas salas de aula, nos conteúdos
educacionais, nas salas de bate-papo, nas abas de comentários de redes sociais e subvertem as
fronteiras socialmente estabelecidas ou docilmente aceitas (LOURO, 2020, p. 27).
O gradual rompimento com as táticas de vigilância utilizadas minuciosamente para
assegurar o isolamento das “comunicações perigosas” (FOUCAULT, 2014, p. 141), torna cada
vez mais reverberantes as manifestações das diferenças étnico-raciais, de gênero, sexuais, etc.
promovendo, assim, diversas transformações curriculares e, desse modo, as escolas passam
por iniludíveis reordenamentos de suas relações de poder-saber (PRECIADO, 2011; SIBILIA,
2012) que são, muitas vezes, expressas por meio de ações desconfortáveis (COSTA, 2021) ou
de estranhamentos dos currículos (UNGER; CARDOSO, 2021). Mas também podem ser
manifestadas por concepções como o espaço escolar enquanto uma encruzilhada cultural
(CANDAU, 2008), de compromisso político pautado nas transformações longe dos
procedimentos de vigilância e dominação (HOOKS, 2013), de espaço germinativo de rupturas
com a normatização (ROCHA; DIAS, 2022), de escuta e aproximação com a natureza
(PAGAN, 2018), de acolhimento (PARAÍSO, 2018), etc.
Marcos como estes modificam agendas educacionais, roteiros, currículos e fazem
despertar diariamente alguns desejos estranhos
, (des)identidades de resistência a
uniformização cultural (CANDAU, 2008) ou contracondutas (“no sentido de luta contra os
“Desejos estranhos” é uma expressão que se refere aos “modos de vida” que foram inassimilados pelos processos
educacionais e biológicos tradicionais (SIBILIA, 2012, p. 15). Esses desejos estranhos são muitas vezes ocultos
das descrições da natureza e reforçam a cultura dominantes na busca para reiterar a cisheterossexualidade como o
regime político dos corpos, dos sexos (PRECIADO, 2011). Esses desejos também são os “desejos adormecidos”
presente no título do trabalho, que se refere as performances, transições, expressões de animais, vegetais e
microrganismos escondidos ao longo do tempo por cientistas em suas notas de campo.
Matheus Reis DANTAS e Lívia de Rezende CARDOSO
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procedimentos postos em prática para conduzir os outros” (FOUCAULT, 2008, p. 266)), seja
nos convencionais ambientes de educação ou nos mais diferentes espaços que tenham a
finalidade de produzir sujeitos e posicionamentos, a exemplo do Youtube. Portanto, iremos
discutir sobre algumas necessidades que se configuram como armas lentamente forjadas em um
campo específico da educação, que operam no entorpecimento das paixões ou desejos em seus
discursos e assim encobrem as manifestações das diferenças nas chamadas Histórias Naturais,
constituindo, assim, uma “zona perigosa” dentro da política geral do conhecimento biológico e
dos ideários classicista e civilizatório das escolas (FOUCAULT, 2021; SIBILIA, 2012), desse
modo, apresentamos um impasse bastante contemporâneo acerca dos regimes de verdade em
que anormalidades se encontram rodeadas na cibercultura.
Assim, os conhecimentos advindos do campo da biologia, em especial os discursos
ligados ao estudo dos comportamentos sexuais na natureza, de modo geral são produzidos e
fundamentados nas observações e detalhamentos em notas de campo. Muitas dessas notas de
campo demostram o caráter ficcional das normas sociais binárias sendo aplicadas as descrições
da natureza, o que Preciado (2011) consideraria como integrante do cálculo da sexopolítica.
Segundo Milam (2021), temos um passado científico que ritualiza e usa táticas de encobrimento
para neutralizar ou manter adormecidas as manifestações queer na natureza e assim assumir a
heterossexualidade não como uma prática, mas como um regime político (PRECIADO, 2011).
Posto isso, trazemos também a noção de Ferraro (2020) quanto a questões da
instrumentalização negativa e da ingenuidade no que se diz respeito a compreensão discursiva
das ciências para problematizar uma razão, por exemplo, que considera a homossexualidade,
“os drag kings, as gouines garous, as mulheres de barba, os transbichas sem paus, os deficientes
ciborgues...” como uma mutação degenerativa nas populações ou algo que levaria o
desaparecimento das espécies (MILAM, 2021; PRECIADO, 2011, p. 16). Por compreendemos
que tal abordagem rememora um passado teológico naturalístico que insiste em deixar suas
marcas na contemporaneidade, principalmente quanto a desqualificação do que de mais
material na natureza, a biodiversidade (FIRMINO; ECHEVERRIA, 2021), no sentido da
Pedagogia queer (COSTA, 2021), as potencialidades da vida ou diferenças, trazemos a presente
noção para desafiar o dispositivo da identidade, os binarismos e apontar as coerências forjadas
num tecido governamental cisheteropatriarcal, que coloca as diferenças sexuais e de gênero em
termos codificados, espacializados e impõe um certo direcionamento do que, onde e como
ensinamos/aprendemos sobre os desejos na natureza.
Os desejos adormecidos nas notas de campo: Estudo sobre o pensamento biológico em currículos do YouTube
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Todas essas inquietações ganham mais potencialidade quando manifestamos a
necessidade de problematizar o conhecimento biológico que é (re)produzido nos currículos de
vídeos do Youtube a partir da perspectiva pós-crítica e assim compor, incitar ou imaginar
modos de ser, estar e agir longe das dinâmicas punitivas, cisheterossexuais ou da culpa
Pedagogia queer. A vista disso, consideramos o currículo como espaços políticos, de
agenciamento ou “um artefato cultural que produz modos de existência e é capaz de multiplicar
sentidos, saberes e resistências criativas” (COSTA, 2021; PARAÍSO, 2012; SILVA; SALES,
2019, p. 1480). Logo, e fazendo jus a perspectiva, compreendemos que os currículos que
escapam da formalização educacional, isso inclui os currículos de vídeos do Youtube, também
são potencialmente capazes de nos ensinar formas de como viver e pensar, muitas vezes
alinhadas ao regime de cisheterogovernamentalidade. Em outros termos, o conhecimento não
está mais restrito às tradicionais salas de aula ou às falas docentes (SILVA; SALES, 2019), com
as tecnologias digitais na chamada cibercultura (LÉVY, 1999), as relações tornaram-se mais
produtivas e desempenham um papel central nas sociedades atualmente.
Os ciberespaços e as experiências deles advindas amalgamam-se com outras possíveis
conexões para construir diferentes subjetividades e modos de vida, ou como assume Sibília
(2012, p. 127), produzir corpos que apesar de “criativos, autônomos e extraordinários” estão
vigorando em uma dinâmica coaching ou de adestramento para “formação integral” do/a
futuro/a cidadão. Com isso, chegamos a uma importante pergunta de pesquisa: Como os desejos
da natureza são representados no currículo de vídeos do Youtube? Para tanto, usaremos como
guia autores e autoras que, com base nos seus problemas chaves de pesquisa, buscam
possibilidades de devir na educação e no pensamento biológico, na qual podemos destacar Joan
Roughgarden, Catriona Mortimer-Sandilands, Judith Butler, Paul Preciado e Michel Foucault.
Ao falar sobre educação ou as relações de poder que ocorrem nos vídeos da plataforma
Youtube, semelhante ao que é realizado por Silva e Sales (2019), somos guiados/as a
compreender as dinâmicas ali expostas com base na noção de currículo cultural, devido ao seu
potencial de estabelecer significados, valores e formas de ver e compreender a vida
desarticuladas, em partes, das instituições escolares. Portanto, os currículos analisados no
presente trabalho constituem igualmente a indústria cultural, pois nestes locais os saberes ali
acionados são constituídos pelas demandas por modos de subjetivação padronizados, pelo
favorecimento de determinados tipos de conhecimentos/culturas e pela autorização de pontuais
condutas e discursos. Após notar que esses currículos do Youtube são progressivamente
requeridos na sociedade de forma geral, seja com interesses educacionais ou não, então fomos
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motivados/as a questionar esse espaço e, de acordo com Karat e Giraldi (2019), muitas desses
vídeos que trazem conteúdos de biologia contribuem para reiterar as perspectivas dominantes
e acríticas de ciência, além de não contribuírem com as inovações tanto teóricas, quanto práticas
esperadas para o espaço em que está sendo veiculado essas informações.
Tais afirmativas estabelecem um espaço de possibilidades de contato entre autores/as,
pensamentos e correntes epistemológicas insurgentes ou de uma composição que se faz queer
para o presente momento, a fim de viabilizar ou manifestar as táticas de ocultação das diferenças
nos currículos de vídeos acerca da biologia e de fazer acordar aquelas formas de vida aberrantes,
ou seja, formas de vida animais, vegetais ou microrganismos, que tiveram suas existências
abjetificadas
e suas possibilidades de existência tomadas por discursos que encobrem a
materialidade dos gêneros, corpos e sexualidades na natureza, e todo esse percurso nos coloca
em consonância com o pensamento de Ferraro (2020, p. 172, grifo do autor) pois toda a
Biologia é queer.
Os currículos de biologia presentes nos vídeos do Youtube, partindo da perspectiva
queer de Ferraro (2020), constituem-se por uma problemática operacional referente à
complexidade para adentrar na temática da construção das identidades de gênero e sexual longe
da perspectiva de uma sociedade patriarcal, colonialista, cisheteronormativa e binária. Assim,
boa parte da chamada instrumentalização negativa e da ingenuidade discursiva corroboram para
a abjetificação de corpos humanos e não humanos e para a proliferação discursiva de crenças
fundamentadas no determinismo biológico e na teologia natural. Por fim, a presente proposta é
uma abordagem Frankensteiniana (MORTON, 2010) e contraprodutiva (CANDIOTTO, 2021)
para reivindicar por um currículo de biologia que leve em consideração as variações que foram
escondidas em inúmeras notas de campo e colocar o pensamento biológico em um campo
pedagógico queer. Em outros termos, pretendemos tencionar um currículo de biologia em livre
circulação que vigora nas ininterruptas engrenagens da normatização cisheterocentrada.
Esse artigo é constituído de uma sessão Introdutória, na qual vocês acabaram de ler, nela
mostramos um pouco do concatenamento de pensamentos que nos levaram a pesquisar sobre
Os desejos adormecidos nas notas de campo e suas relações com a cibercultura. Em seguida, a
Na perspectiva queer, o abjeto refere-se a tudo aquilo que é marginalizado, excluído ou considerado socialmente
repugnante devido a sua divergência das normas e padrões dominantes de gênero, sexualidade e identidade. Isso
pode incluir corpos e identidades não normativas, expressões de gênero e sexuais não binárias e outras formas de
existência que desafiam as normas estabelecidas. O abjeto é frequentemente associado a sentimentos de repulsa,
medo ou aversão que são socialmente construídos e perpetuados. Essa compreensão do abjeto é essencial para a
análise crítica das estruturas de poder e a luta por uma sociedade mais inclusiva e respeitadora da diversidade
(BUTLER, 2020; LOURO, 2020).
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sessão II, será apresentado uma pequena abordagem metodológica dos estudos netnográficos.
A sessão III está dedicada ao desenvolvimento dos questionamentos de alguns vídeos do
Youtube, mais conhecidos como Tinder da Natureza. Para concluir, a sessão IV se com o
objetivo de (des)educar por meio dos currículos de biologia, seja no Youtube, nas salas de aula
ou em qualquer outro local.
Abordagem Metodológica
“Considero que o currículo deve ser um território para hospedar as diferenças, afirmar
a vida e multiplicar os encontros que nos fazem desejar e expandir” (PARAÍSO, 2018, p. 24),
no entanto, como expressar forças tão produtivas em termos tradicionais de pesquisa? Se “o
tempo presente é comporto por elementos diversos, advindos de diferentes matrizes, em que a
cibercultura produzida no ciberespaço exerce um papel importante na constituição de modos de
existência juvenis” (SALES, 2012, p. 111).
A vista disso, para realização da presente pesquisa, compusemos um caminho próprio
de investigação, inspirado principalmente nos trabalhos netnográficos de Sales (2012), Silva e
Sales (2018, 2019) e na pesquisa sobre currículos de sites de relacionamentos realizado por
Ribeiro e Fonseca (2018). Esses trabalhos estão reunidos dentro do que se chama de “terreno
das pesquisas pós-crítica” e das suas fortes tendências a “transgressão de alguns cânones
metodológicos” (SALES, 2012, p. 111).
A netnografia deriva diretamente dos métodos antropológicos modernos de investigação
sobre o conhecimento humano (cultura e comunidades), a etnografia. A netnografia surgiu
como uma forma de acompanhar a velocidade da socialização humana potencializadas pelo uso
de tecnologias e da internet. Subversiva desde sua origem, essa metodologia considera
significativas as experiências sociais que acontecem nos ciberespaços e potencializa nossa
“capacidade de aplicar determinados instrumentos e técnicas analíticas” (KOZINETS, 2014, p.
13).
Dessa forma, a presente pesquisa se faz uma contraconduta, ou seja, resistência à
governamentalidade (CANDIOTTO, 2018) no pensamento biológico e atravessa diversas
questões éticas para queerlizar (OLIVEIRA, 2016) nas pesquisas em educação e assim expor
um caráter normatizador que pode emergir em vídeos do Youtube. Foi selecionado, então, três
vídeos que discutem sobre os desejos na natureza, uma vez que esse(s) artefato(s) cultural(is)
“é constituído por regimes de verdade, ordens discursivas, constituição dos sujeitos e relações
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de poder” (SILVA; SALES, 2018, p. 282) que torna possível analisar como é produzido e
divulgado esses desejos nos currículos de vídeos do Youtube.
A investigação está baseada na observação de vídeos e na análise das falas e conteúdos,
isso inclui imagens e outros recursos utilizados para expressar os pensamentos, capturas de tela,
leitura de comentários, direcionamentos para outros vídeos relacionados e número de
visualizações de três vídeos chamados de Tinder da Natureza (Figura 1), publicados pela canal
Meteoro Brasil.
Este canal apresenta mais de 1,60 milhões de inscritos e em média 60 mil espectadores
acompanharam a trilogia de vídeos sobre os desejos na natureza. Quando comparado às taxas
de acesso e recorrência de brasileiros/as a plataforma Youtube, conseguimos compreender a
potencialidade que as informações conseguem alcançar em tempos de fluidez como o que
vivemos. Nesse cenário, o Brasil é um dos países que se destaca em número de acessos ao site
em todo mundo diariamente, e seu público, considerado jovem, está numa faixa de idade de 18
a 35 anos.
Figura 1 Conjunto de vídeos intitulados “O Tinder da Natureza” do canal Meteoro Brasil,
neles são veiculadas informações acerca dos desejos e possíveis matchs em ambientes
naturais.
Fonte: Captura de tela do autor (2023)
O tratamento dos dados coletados através da netnografia envolveu a análise discursiva
baseada nas ideias de Michel Foucault e de outros pensadores e pensadoras que se relacionam
com o objetivo da pesquisa. O discurso, por sua vez, é entendido como uma prática produtiva
que fabrica verdades, saberes e subjetividades. Assim, o trabalho analítico e descritivo dos
Os desejos adormecidos nas notas de campo: Estudo sobre o pensamento biológico em currículos do YouTube
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dados tem a intenção de “atentar para os mecanismos e efeitos de poder em diferentes domínios
e extensões” (SALES, 2012, p. 126).
Na pesquisa em questão, o objetivo é descrever
as condições de existência dos desejos
nos currículos do Youtube e compor possibilidades para enxergar outras perspectivas distante
daquelas cisheterocentradas presentes nas descrições da natureza. O tratamento dos dados
coletados pela netnografia, portanto, envolve uma análise crítica e reflexiva dos discursos
presentes nos vídeos do Youtube para entender como são construídas as verdades, saberes e
subjetividades que se relacionam com os desejos na natureza.
Sobre O Tinder da Natureza
Para você vai esta mensagem
E não é por mim
Eu estou velho
E sua utopia é para as futuras gerações
tantas crianças que nascerão
com uma asinha quebrada
E eu quero que elas voem, companheiro
Que sua revolução
Lhes dê um pedaço de céu vermelho
Para que possam voar.
(LEMEBEL, 1986)
Uma pedagogia queer (COSTA, 2021) também se faz uma pedagogia engajada
(HOOKS, 2013, p. 15), em razão do compromisso político que é pensar possibilidades para
uma educação longe do reforço a estereótipos, da exclusão ou das inúmeras formas de
dominação governamentais e biopolíticas, em outras palavras, “o ensino e a experiência de
aprendizado poderiam ser diferentes” e compor fluxos outros de pensamentos sobre os desejos,
corpos, gêneros e sexualidades na natureza. Logo, quando nos perguntamos como os dados
coletados em vídeos do Youtube mostram os pontos de contribuição do pensamento biológico
para (re)produção da cisheternormatividade, podemos perceber que, como um dispositivo, sua
função está longe de possibilitar uma mera reiteração dos discursos dominantes, “mas o
proliferar, inovar, anexar, inventar, penetrar nos corpos de maneira cada vez mais detalhada e
controlar as populações de modo cada vez mais global” (FOUCAULT, 2021, p. 116).
Assim, nos currículos do Tinder da Natureza são acionadas diferentes tecnologias de
controle que nos fazem insistentemente conceber a produção do sexo, sexualidades, gêneros,
Será descrito apenas os resultados principais de maneira concatenada ao pensamento de Michel Foucault e outro
autores e autoras devido ao espaço permitido para publicação no evento e ao fato do presente artigo ser um recorte
de uma pesquisa maior que iniciou em agosto de 2021 e está em processo de finalização (escrita).
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desejos, diferenças corporais, reprodução sexuada, possibilidades de reprodução, monogamia,
comportamentos femininos como “dado da natureza que o poder é tentado a pôr em xeque”
(FOUCAULT, 2021, p. 115). Contudo, “como em todo currículo, o que se ensina é aprendido
de diferentes formas, pois nos constituímos de diferentes maneiras por meio dos processos de
subjetivação” (RIBEIRO; FONSECA, 2018, p. 301). Desse modo, queremos dizer que,
semelhante a Jan Zita Grover em “AIDS e outros desmatamentos”, focamos nas dimensões das
sensações e das experiências que nos fazem perceber, mesmo em histórias sobre a natureza, a
aplicação da cisheteronormatividade binária, da violência, dos desafios e abjetificações. Desse
modo, não cabe apenas demostrar como as experiências individuais, no entanto contingenciais,
de uma POC
do agreste sergipano, estudantes e professores/as de Ciências e Biologia
culminaram em um “tipo bastante particular de percepções sobre vida, morte, corpo e natureza”,
trata de expressar e assim manifestar uma “escrita que intensifica o agora” (YORK;
OLIVEIRA; BENEVIDES, 2020, p. 2) e o que Mortimer-Sandilands (2011, p. 176) chama de
sensibilidade ecológica queer.
Gostaríamos, antes de aprofundar as discussões sobre os vídeos em si, falar sobre o canal
Meteoro Brasil e assim compor soluções éticas e contemporâneas necessárias para pesquisas
Netnográficas. O objetivo deste texto não é culpar os materiais produzidos e divulgados pelo
canal por produzir sozinhos mais normalização e conduzir as formas de subjetivação a um
determinado fim (PRECIADO, 2011), mas sim apresentar uma crítica aos mesmos materiais e
perceber que o poder emana de qualquer situação relacional (FOUCAULT, 2021). Nesse
sentido, nosso objetivo é tornar conhecido um tipo de racionalidade biológica outra, que divide
opiniões, dilacera tradições científica e possibilita as condições para existência de tantas
crianças com asas quebradas, assim como eu fui, nos currículos educacionais e culturais. Para
isso, buscamos analisar o que Foucault (2021) considera como discurso:
Os discursos, como os silêncios, nem são submetidos de uma vez de uma vez
por todas ao poder, nem oposto a ele. É preciso admitir um jogo complexo e
instável em que o discurso pode ser, ao mesmo tempo, instrumento e efeito de
poder, e também obstáculo, escora, ponto de resistência e ponto de partida de
uma estratégia oposta. O discurso veicula e produz poder; reforça-o mas
também o mina, expõe, debilita e permite barra-lo” (FOUCAULT, 2021, p.
110).
Então preocupa-nos
Em uma linguagem de rua ou baseada na minha regionalidade como uma pessoa nordestina, “POC” significa
Bicha Pão com Ovo, ou seja, comum e afeminada.
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o que admite em coisas ditas e ocultas, em enunciações exigidas e interditas;
com o que supõe de variantes e de efeitos diferentes segundo quem fala, sua
posição de poder, o contexto institucional em que se encontra; com o que
comporta de deslocamentos e de reutilização de formulas idênticas para
objetivos opostos” (FOUCAULT, 2021, p. 110).
Baseado nas ideias de Joan Roughgarden (2013) e na sua contestação pública ou
manifestação em 2003 contra a teoria da seleção sexual e suas limitações teóricas e práticas,
procuramos nos vídeos do currículo do Tinder da Natureza uma diversidade de expressões de
desejo, gêneros, sexualidades e possibilidades de conexões como aqueles descritos em
Evolution’s Rainbow e em tantas outras obras. Por se tratar também de um currículo do Tinder,
que pode ser definido como site ou aplicativo que possibilita o contato a partir do desejo, o
estabelecimento de relações ou encontros que atualmente permite compor diversos tipos de
conexões dentro da cisgêneridade compulsória, era esperado uma múltipla “possibilidade de
fuga ao enquadramento, mesmo quando pareciam encerradas nele”, “forma de experimentação,
de ruptura com o instituído, de invenção insubordinada à heteronormatividade” (RIBEIRO;
FONSECA, 2018, p. 320), no entanto, as “normas são divulgadas, posições de sujeito são
demandadas” (p. 300), “sendo a ‘identidade’ assegurada por conceitos estabilizadores” que
“instituem e mantem relações de coerência e continuidade entre sexo, gênero, práticas sexual e
desejo” (BUTLER, 2020, p. 43).
Assim, quando indagamos sobre o que os currículos do Tinder da Natureza nos ensinam,
podemos assim compreender alguns desses movimentos ou relações de poder e saber que
levaram, por exemplo, as homossexualidades, lesbianidades, intersexualidades, travestilidades,
transexualidades, comportamentos sexuais e performativos não heterossexuais a face do
desaparecimento nos relatos sobre a natureza. Os vídeos, por si só, oferecem dados bastante
valiosos sobre a percepção dos/as produtores/as sobre o regime de verdade que instauram e
reproduzem sobre o pensamento biológico, todavia, os comentários dos/as inscritos que
mostram como o currículo é entendido e demostra quais sujeitos e posicionamento são
construídos a partir do aprendizado de casos científicos, como a seleção sexual e a possibilidade
de reprodução no Reino Animal. Desse modo, o currículo do Tinder da Natureza apresenta
modos para resistir a sexopolítica empregada no roteiro dos vídeos, não sem embates e
enfrentamentos, como também permitem expressar que “os organismos fluem além dos limites
de qualquer categoria que construímos. Em biologia, a natureza abomina categorias”
(ROUGHGARDEN, 2013, p. 32, tradução nossa) (Figura 2).
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Figura 2 Reivindicações identitárias de reconhecimento acionam tecnologias de controle e
moralização sobre a seleção sexual para estabelecer um não lugar aos desejos homossexuais
Fonte: Captura de tela do autor (2023)
As tecnologias de controle acionadas pelos usuários/as, com base no pensamento
biológico, criam um não lugar para performances homossexuais dentro do que se chama de
História Natural e evolução. No embate acima, um usuário assume que é “triste” a maioria das
referências sobre seleção sexual são serem destinadas aos casais heterossexuais. O que
chamamos de estratégia assimilacionista, uma vez que ele busca espaços de reconhecimento
(LOURO, 2020). No entanto, as tecnologias da moralização (SILVA; SALES, 2018) são
acionadas sutilmente como respostas do primeiro comentário, sendo explicitado que apesar de
ser importante haver representatividade das diferenças em diversos ambientes, inclusive em
vídeos do YouTube, não existe espaço para homossexuais nas teorias evolutivas, o que é
evidenciado no trabalho de Milam (2021). No caso mostrado, homossexuais ou espécies que
praticam relações sexuais com o mesmo sexo, como Tityus serrulatus (escorpiões), não podem
reproduzir de acordo com a ingenuidade discursiva (FERRARO, 2020) dos usuários que de
alguma forma é somado ao que é passado no currículo em questão. Diante disso, a culpa “pode
ser acionada como uma técnica de poder quando as prescrições da moral não são seguidas pelo
sujeito” (SILVA; SALES, 2018, p. 285).
Desse modo, a verdade sobre as expressões ou efeitos do desejo no currículo do Tinder
da Natureza “é produzida precisamente pelas práticas reguladoras que geram identidades
coerentes por via de uma matriz de normas de gênero coerentes” (BUTLER, 2020, p. 44).
Assim, os desejos e comportamentos produzidos e divulgados no currículo analisado fazem
acreditar que a heterossexualidade é algo dado. Apesar dos/as narradores/as falarem sobre um
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recorte para os seres multicelulares, especialmente animais vertebrados, todos os casos
retratados demonstram um limitado número de matchs que são possíveis na natureza, como
assumido também na Figura 2, contribuindo para a naturalização dos comportamentos sexuais
somente na esfera binária da heterossexualidade, pois “a categoria do sexo, tanto masculino
como feminino, é produto de uma economia reguladora difusa da sexualidade” (BUTLER,
2020, p. 45).
Segundo Mendenhall et al. (2020), existem na natureza cerca de 700 espécies
conhecidas de vertebrados que se transicionam dentro das categorias do sexo biológico ou
identidade de gênero. Desse modo, se faz necessário uma reestruturação dos conhecimentos
expostos, trazendo casos e aberturas para performances que fogem dos pressupostos da cis-
hetero-governamentalidade e manifestem a subversão queer (YORK; OLIVEIRA;
BENEVIDES, 2020).
A reprodução sexual, o sexo e o corpo sexuado de forma geral, segundo alguns escritos
sobre Darwin e no currículo do Tinder da Natureza, foram negociadas a preços muitos altos,
gerando um referencial para a regulação da sexualidade em humanos e principalmente dos
corpos das fêmeas, de modo que somente a união monogâmica e o acoplamento machos/fêmeas
encaminhava a espécie ao sucesso reprodutivo e evolutivo. Desse modo, Darwin acabou
moldando sua teoria para atender as demandas morais de uma sociedade burguesa e vitoriana,
submetendo aquelas performances longe da cisheteronormativadade a uma condição de não
lugar ou como “desajustes de desenvolvimento, falhas reprodutivas e retrocessos sexuais
evolutivos” (BROOKS, 2021, p. 326).
Os reflexos das formulações de Darwin são sentidos sutilmente na contemporaneidade,
por exemplo, quando Mendenhall et al. (2020) dizem que em exposições em museus de História
Natural, animais machos são mostrados em posições de destaque em relação as fêmeas, mesmo
apresentando performances naturais em vida que não são condizentes com os comportamentos
retratados, isso demostra uma intensa (re)inscrição das categorias de gênero e sexo nas antigas
formulações da heterossexualidade normativa e todos esses posicionamentos, de alguma forma,
contribuem para naturalizar a violência contra mulher ou misoginia. Os mesmo autores e
autoras dizem que essas representações, mesmo dentro dos museus e seus papéis na divulgação
da biodiversidade, obscurecem histórias naturais sobre não-binaridades e assexualidades, por
exemplo, os dinossauros (os fósseis não conservam características sexuais).
Formular hipóteses sobre o porquê da “maioria das sociedades vem estabelecendo a
divisão masculino e feminino como uma divisão primordial” (LOURO, 2020, p. 70), nos faz
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recorrer a processos bem mais antigos que a própria cultura humana. A natureza como algo
primordial e que, na atualidade, é tida como referência para questões sociais, na verdade está
impregnada pelo que Butler (2020, p. 43) chama de “normas de inteligibilidade socialmente
instituída e mantida”. Sendo assim, muitas pessoas, inclusive aquelas de demonstram conhecer
conceitos importantes como gênero, não percebem que até mesmo a natureza é materializada
segundo as regras contingenciais e históricas nas diferentes sociedades (Figura 3).
Figura 3 - O gênero é tido como um conceito que somente apresenta possibilidades de
explicação dentro da esfera cultural, consequentemente Biologia fica encarregada de produzir
os discursos sobre o sexo e as explicações sobre os desejos na natureza
Fonte: Captura de tela do autor (2023)
Não que os diferentes seres vivos não possam ser referência para nós humanos, no
entanto, nossa proposta é a (des)identificação estratégica que permite fugir das práticas
reguladoras que conduzem a uma matriz de normas não apenas de gênero, como retratado
acima, mas nos fazem perceber a
heterossexualização do desejo [...] institui a produção de oposições
discriminatórias e assimétricas entre ‘feminino’ e ‘masculino’, em que esses
são compreendidos como atributos expressivos de ‘macho’ e ‘fêmea’. A
matriz cultural por meio da qual a identidade de gênero se torna inteligível
exige que certos tipos de ‘identidades’ não possam ‘existir’ (BUTLER, 2020,
p. 44).
Em suma, a discussão sobre a identificação com seres não humanos e a possibilidade de
(des)identificação estratégica traz à tona a importância de se questionar as relações de poder e
regulação presentes em nossa sociedade. A heterossexualização do desejo e a matriz cultural
que define a inteligibilidade da identidade de gênero são exemplos de como certos tipos de
identidades são reprimidos e excluídos. Nesse sentido, é fundamental buscar uma compreensão
crítica e reflexiva sobre as normas e padrões que nos são impostos, a fim de promover aberturas
curriculares e a proliferação das diferenças. Como argumentado por Foucault (2014), a
resistência pode se manifestar de diferentes maneiras, inclusive por meio da (des)identificação
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estratégica, que desafia as normas e abre espaços para a expressão de outras formas de ser e de
existir.
Considerações finais
A partir da análise no ciberespaço dos currículos do Tinder da Natureza e das discussões
teóricas de Joan Roughgarden, Michel Foucault e Judith Butler, torna-se evidente a necessidade
de abrir espaços curriculares dentro do conhecimento biológico que não sejam regidos pelas
dinâmicas punitivas e culpabilizantes da cisheteronormatividade. Os conhecimentos divulgados
nos currículos analisados reforçam a heterossexualização do desejo e a matriz cultural que exige
que certos tipos de identidades não possam existir. Desse modo, esses currículos acabam por
credibilizar movimentos conservadores, como o discurso religioso e a “ideologia de gênero”,
que buscam restringir de diversas formas as possibilidades de expressão e de (des)identificação
de gênero e sexualidade, como também os desejos. Portanto, é importante experimentar outras
possibilidades de desejos na natureza, fazendo assim acordar aqueles desejos que foram
deixados adormecer na temporalidade das notas de campo e no medo pelo que de mais
material na natureza: as diferenças.
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CRediT Author Statement
Reconhecimentos: Não.
Financiamento: Não.
Conflitos de interesse: Não.
Aprovação ética: Sim. O trabalho não apresenta necessidade de autorização e análise por
um comitê de ética, pois faz uso de dados públicos.
Disponibilidade de dados e material: Tinder da Natureza 1: (428) O TINDER DA
NATUREZA: PARTE 1 - YouTube; Tinder da Natureza 2: (428) O TINDER DA
NATUREZA: PARTE 2 - YouTube; Tinder da Natureza 3: (428) O TINDER DA
NATUREZA: PARTE 3 - YouTube; Matéria:
https://www.tecmundo.com.br/internet/119776-youtube-insights-brasil.htm
Contribuições dos autores: Artigo escrito por Matheus Reis Dantas como parte da sua
pesquisa de Pós-graduação e orientada por Lívia de Rezende Cardos.
Processamento e editoração: Editora Ibero-Americana de Educação.
Revisão, formatação, normalização e tradução.
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ., Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e023010, 2023. e-ISSN: 2594-8385
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v24iesp.1.18181 1
SLEEPING DESIRES IN FIELD NOTES: A STUDY ON BIOLOGICAL THINKING
IN YOUTUBE CURRICULA
OS DESEJOS ADORMECIDOS NAS NOTAS DE CAMPO: ESTUDO SOBRE O
PENSAMENTO BIOLÓGICO EM CURRÍCULOS DO YOUTUBE
DESEOS DORMIDOS EM NOTAS DE CAMPO: UM ESTUDIO DEL PENSAMIENTO
BIOLÓGICO EM LOS CURRÍCULOS DE YOUTUBE
Matheus Reis DANTAS1
e-mail: rdantasmatheus@gmail.com
Lívia de Rezende CARDOSO2
e-mail: livinha.bio@gmail.com
How to reference this article:
DANTAS, Matheus Reis; CARDOSO, Lívia de Rezende.
Sleeping desires in field notes: A study on biological
thinking in YouTube curricula. Doxa: Rev. Bras. Psico. e
Educ., Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e023010, 2023. e-ISSN:
2594-8385. DOI:
https://doi.org/10.30715/doxa.v24iesp.1.18181
| Submitted: 15/02/2023
| Revisions required: 22/04/2023
| Approved: 11/06/2023
| Published: 01/08/2023
Editor:
Prof. Dr. Paulo Rennes Marçal Ribeiro
Deputy Executive Editor:
Prof. Dr. José Anderson Santos Cruz
Federal University of Sergipe (UFS), São Cristóvão SE Brazil. Master's student in the Graduate Program in
Education (PPGED). Teacher of Natural Sciences at the State Department of Education of Alagoas (SEDUC/AL).
Federal University of Sergipe (UFS), São Cristóvão SE Brazil. PhD by the Graduate Program in Education,
Knowledge and Social Inclusion at the School of Education of the Federal University of Minas Gerais (UFMG).
Professor of the Graduate Program in Education (PPGED).
Sleeping desires in field notes: A study on biological thinking in YouTube curricula
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DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v24iesp.1.18181 2
ABSTRACT: The aim of this article is to analyze the production of the desires of nature in YouTube
curricula. Curricula are discursive practices that construct representations about desires, genders,
sexualities and bodies, affecting forms of existence marked by abjectification and normalization. Using
a netnographic approach and discourse analysis inspired by Foucault, I investigate “Nature's Tinder”
and the possible matches in this relationship-enhancing network. The biological discourse reinforces
coherences and one-dimensional flows of desire, rooted in a cisheteropatriarchal governmental structure
or sex-political domination. Heteronormativity is identified in ongoing efforts that portray nature as a
technology encompassing only male and female performances, monogamy, competitions, and excessive
energy consumption to find a sexual partner. Therefore, it is necessary to think of curricular
compositions that transcend the punitive and blaming cisheteronormativity, since the knowledge
disseminated in the analyzed videos legitimizes conservative movements, such as the “gender ideology”
and the religious discourse.
KEYWORDS: Desires of nature. Queer pedagogy. YouTube curricula. Netnography. Sexopolitics.
RESUMO: O objetivo deste artigo é analisar a produção dos desejos da natureza em currículos do
YouTube. Os currículos são práticas discursivas que constroem representações sobre desejos, gêneros,
sexualidades e corpos, afetando formas de existência marcadas por abjetificação e normatização.
Utilizando abordagem netnográfica e análise do discurso inspirada em Foucault, investigo o “Tinder
da Natureza” e os possíveis matchs nessa rede intensificadora de relações. O discurso biológico reforça
coerências e fluxos unidimensionais de desejo, enraizados em uma estrutura governamental
cisheteropatriarcal ou de dominação sexopolítica. A heteronormatividade é identificada nos esforços
contínuos que retratam a natureza como uma tecnologia que engloba apenas performances de machos
e fêmeas, monogamia, competições e consumo excessivo de energia para encontrar um/a parceiro/a
sexual. Portanto, é necessário pensar em composições curriculares que transcendam a
cisheteronormatividade punitiva e culpabilizadora, pois os conhecimentos divulgados nos vídeos
analisados legitimam movimentos conservadores, como a “ideologia de gênero” e o discurso religioso.
PALAVRAS-CHAVE: Desejos da natureza. Pedagogia queer. Currículos do YouTube. Netnografia.
Sexopolítica.
RESUMEN: El objetivo de este artículo es analizar la producción de los deseos de la naturaleza en los
currículos de YouTube. Los currículos son prácticas discursivas que construyen representaciones sobre
deseos, géneros, sexualidades y cuerpos, afectando a formas de existencia marcadas por la abyección
y la normalización. Utilizando un enfoque netnográfico y un análisis del discurso inspirado en Foucault,
investigo el “Tinder de la Naturaleza” y las posibles coincidencias en esta red intensificadora de
relaciones. El discurso biológico refuerza las coherencias y los flujos unidimensionales del deseo,
enraizados en una estructura gubernamental cisheteropatriarcal o en la dominación sexopolítica. La
heteronormatividad se identifica en los esfuerzos continuos que retratan la naturaleza como una
tecnología que abarca sólo las actuaciones masculinas y femeninas, la monogamia, las competiciones
y el consumo excesivo de energía para encontrar una pareja sexual. Por lo tanto, es necesario pensar
en composiciones curriculares que trasciendan la cisheteronormatividad punitiva y culpabilizadora, ya
que los conocimientos difundidos en los videos analizados legitiman movimientos conservadores, como
la “ideología de género” y el discurso religioso.
PALABRAS CLAVE: Deseos de la naturaleza. Pedagogía queer. Planes de estudios en YouTube.
Netnografía. Sexopolítica.
Matheus Reis DANTAS and Lívia de Rezende CARDOSO
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ., Araraquara, v. 18, n. esp. 1, e023010, 2023. e-ISSN: 2594-8385
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Introduction
[...] passion has no place in the classroom (HOOKS, 2019, p. 146,
our translation).
When we enter the field of education, we are almost inflexibly incited to follow the
destiny of annulling our bodies and acting as disembodied, systematic and pseudo-critical
spirits in classrooms and/or in academic research. By relegating the potential of eros and
eroticism in pedagogical practices to punctual, objective approaches and in formalized
environments, we will be opening spaces for rationalities “that allow meticulous control of the
body’s operations” (FOUCAULT, 2014, p. 135, our translation) based on “fear that the
presence of feelings, of passion, might prevent an objective consideration of the merits of each
student” (HOOKS, 2019, p. 154, our translation).
Disciplinary processes (FOUCAULT, 2014) insistently deepen the factorial relations of
docility-utility on the school floor, as well as “manufacture ways of experiencing, knowing and
understanding relations of gender, body, nudity and sexuality” (SILVA; SALES, 2018, p. 283,
our translation), it produces isolations, reinforces colonial values (epistemicide), and
stereotypes, as exemplified by the utilitarian view of bodies and genders through biopower
(DUTRA et al., 2019). Similarly, disciplinary processes influence the free circulation of cultural
curricula with their subtle productive-massifying pedagogies of subjectivities and modes of
existence (SILVA; SALES, 2019).
In other words, we constantly reiterate an education whose “purpose of transforming the
soul and behavior” comes from disciplining (extra)corporeal/sensory/emotional experiences
(FOUCAULT, 2014, p. 122, our translation). The subjectivities produced by the coercive
strategies of education implemented daily in schools and other spaces, for the most part, fear
feeling desires and passions, even more, they believe that the "new" strange presences in the
school context and cyberspaces invalidate and pollute the institutional principles of neutrality,
stability, objectivity, and scientific-pedagogical rationality of these same institutions.
However, if there were a curriculum capable of summarizing what we learn in the
classroom and the consequences of experimenting (oneself) in the field of schools, a part of it
would not only denounce that we have always been far from the repressive hypothesis, that is,
that it was economy and the effects of passions, sexes, sexualities, bodies, genders, attractions
and desires in our lives are denied, as well as the counter-effect resulting from the interdiction
of discourses on differences (PRECIADO, 2011) in the school field, because “censorship [...]
constitutes a device to produce discourses on sex, increasingly discourses, capable of
Sleeping desires in field notes: A study on biological thinking in YouTube curricula
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functioning and being the effect of its own economy” (FOUCAULT, 2021, p. 26, our
translation).
Therefore, to assume that issues like these of differences do not constitute a field of
tension for some social sectors and/or those linked to educational policy in Brazil since 2003,
is not to be aware of the existence “of an avalanche of reactionary ideas that seek to flood
everyone with moralism, naturalized divisions, fixed identities, hierarchical genders, interested
silences, destructive hatred, disastrous omissions, unacceptable setbacks” that becomes a
centralizing threat gradually popularized under the name “gender ideology” (DINIS;
PAMPLONA, 2014; PARAÍSO, 2018, p. 25, our translation). Therefore, we live in a time when
“the normative vocation of education is threatened” by the intensification of the challenges in
dealing, composing and learning with the “new” practices, with the subjects, with the
subjectivities and with the ways of life that enter in classrooms, educational content, chat rooms,
comment tabs on social networks and subvert socially established or docilely accepted
boundaries (LOURO, 2020, p. 27).
The gradual break with the surveillance tactics meticulously used to ensure the isolation
of “dangerous communications” (FOUCAULT, 2014, p. 141, our translation), makes the
manifestations of differences ethnic-racial, gender, sexual, etc. increasingly reverberant.
thus, promoting several curricular transformations and, in this way, schools undergo
inescapable rearrangements of their power-knowledge relations (PRECIADO, 2011; SIBILIA,
2012) which are often expressed through uncomfortable actions (COSTA, 2021) or strangeness
of the curricula (UNGER; CARDOSO, 2021). But they can also be manifested by concepts
such as the school space as a cultural crossroads (CANDAU, 2008), a political commitment
based on transformations away from surveillance and domination procedures (HOOKS, 2013),
a germinal space for ruptures with normalization (ROCHA; DIAS, 2022), listening and getting
closer to nature (PAGAN, 2018), welcoming (PARAÍSO, 2018), etc.
Milestones such as these modify educational agendas, scripts, curricula and awaken on
a daily basis some strange desires
, identities of resistance to cultural uniformity (CANDAU,
2008) or counter-conducts (“in the sense of fighting against the procedures put in place to lead
others” (FOUCAULT, 2008)), whether in conventional education environments or in the most
“Strange desires” is an expression that refers to “ways of life” that were unassimilated by traditional educational
and biological processes (SIBILIA, 2012, p. 15, our translation). These strange desires are often hidden from
descriptions of nature and reinforce the dominant culture in the quest to reiterate cisgender-heterosexuality as the
political regime of bodies, of the sexes (PRECIADO, 2011). These desires are also the “sleeping desires” present
in the title of the work, which refers to the performances, transitions, expressions of animals, plants and
microorganisms hidden over time by scientists in their field notes.
Matheus Reis DANTAS and Lívia de Rezende CARDOSO
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different spaces that have the purpose of producing subjects and positions, such as YouTube.
Therefore, we will discuss some needs that are configured as weapons slowly forged in a
specific field of education, which operate in the numbing of passions or desires in their speeches
and thus cover up the manifestations of differences in the so-called Natural Stories, thus
constituting a “dangerous zone” within the general policy of biological knowledge and the
classicist and civilizing ideals of schools (FOUCAULT, 2021; SIBILIA, 2012), thus, we
present a very contemporary impasse about the regimes of truth in which abnormalities are
surrounded in cyberculture.
Thus, the knowledge arising from the field of biology, especially the discourses related
to the study of sexual behavior in nature, are generally produced and based on observations and
details in field notes. Many of these field notes demonstrate the fictional character of binary
social norms being applied to descriptions of nature, which Preciado (2011) would consider as
part of the calculation of sexpolitics. According to Milam (2021), we have a scientific past that
ritualizes and uses cover-up tactics to neutralize or keep queer manifestations in nature dormant
and thus assume heterosexuality not as a practice, but as a political regime (PRECIADO, 2011).
That said, we also bring the notion of Ferraro (2020) regarding issues of negative
instrumentalization and naivety with regard to the discursive understanding of the sciences to
problematize a reason, for example, that considers homosexuality, “the drag kings, the gouines
garous, the women with beards, the transbichas without dicks, the disabled cyborgs...”as a
degenerative mutation in populations or something that would lead to the disappearance of
species (MILAM, 2021; PRECIADO, 2011, p. 16, our translation). Because we understand that
such an approach recalls a naturalistic theological past that insists on leaving its marks in
contemporaneity, mainly regarding the disqualification of what is most material in nature,
biodiversity (FIRMINO; ECHEVERRIA, 2021), in the sense of queer Pedagogy (COSTA,
2021), the potentialities of life or differences, we bring the present notion to challenge the
device of identity, the binarism and point out the coherences forged in a cisgender-
heteropatriarchal governmental fabric, which places sexual and gender differences in codified,
spatialized and imposes a certain direction of what, where and how we teach/learn about desires
in nature.
All of these concerns gain more potential when we manifest the need to problematize
the biological knowledge that is (re)produced in YouTube video curricula from a post-critical
perspective and thus compose, incite or imagine ways of being, being and acting far from the
punitive, cisheterosexual or guilt dynamics queer pedagogy. In view of this, we consider the
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curriculum as political spaces, of agency or “a cultural artifact that produces modes of existence
and is capable of multiplying senses, knowledge and creative resistance” (COSTA, 2021;
PARAÍSO, 2012; SILVA; SALES, 2019, p. 1480, our translation). Therefore, and living up to
the perspective, we understand that curricula that escape educational formalization, this
includes YouTube video curricula, are also potentially capable of teaching us ways of living
and thinking, often aligned with the regime of cisgender-heterogovernmentality. In other words,
knowledge is no longer restricted to traditional classrooms or teaching speeches (SILVA;
SALES, 2019), with digital technologies in the so-called cyberculture (LÉVY, 1999),
relationships have become more productive and play a central role in today's societies.
Cyberspaces and the experiences arising from them amalgamate with other possible
connections to build different subjectivities and ways of life, or as Sibília (2012, p. 127, our
translation) assumes, produce bodies that despite being “creative, autonomous and
extraordinary” are in force in a coaching or training dynamic for “comprehensive training” of
the future citizen. With that, we arrive at an important research question: How are the desires
of nature represented in the curriculum of YouTube videos? To do so, we will use guide authors
who, based on their key research problems, seek possibilities of becoming in education and
biological thinking, in which we can highlight Joan Roughgarden, Catriona Mortimer-
Sandilands, Judith Butler, Paul Preciado and Michel Foucault.
When talking about education or the power relations that occur in videos on the
YouTube platform, similar to what is done by Silva and Sales (2019), we are guided to
understand the dynamics exposed there based on the notion of cultural curriculum, due to the
its potential to establish meanings, values and ways of seeing and understanding life that are
disjointed, in parts, from school institutions. Therefore, the curricula analyzed in this work also
constitute the cultural industry, since in these places the knowledge activated there is constituted
by the demands for standardized modes of subjectivation, by favoring certain types of
knowledge/cultures and by the authorization of specific conducts and discourses. After noticing
that these YouTube curricula are progressively required in society in general, whether with
educational interests or not, then we were motivated s/as to question this space and, according
to Karat and Giraldi (2019), many of these videos that bring Biology content contributes to
reiterate the dominant and uncritical perspectives of science, in addition to not contributing to
both theoretical and practical innovations expected for the space in which this information is
being disseminated.
Matheus Reis DANTAS and Lívia de Rezende CARDOSO
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ., Araraquara, v. 18, n. esp. 1, e023010, 2023. e-ISSN: 2594-8385
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Such statements establish a space of possibilities for contact between authors, thoughts
and insurgent epistemological currents or a composition that makes itself queer for the present
moment, in order to make viable or manifest the tactics of hiding differences in the curricula of
videos about the biology and to wake up those aberrant life forms, that is, animal, vegetable or
microorganism forms of life, which had their existence abjectified
and their possibilities of
existence taken over by discourses that cover up the materiality of genders, bodies and
sexualities in nature, and this whole path puts us in line with Ferraro's thinking (2020, p. 172,
emphasis added, our translation) because “all Biology is queer.
The biology curricula present in the YouTube videos, based on the queer perspective of
Ferraro (2020), are constituted by an operational problem related to the complexity to enter the
theme of the construction of gender and sexual identities far from the perspective of a
patriarchal society, colonialist, cisgender-heteronormative and binary. Thus, much of the so-
called negative instrumentalization and discursive naivety corroborate the abjectification of
human and non-human bodies and the discursive proliferation of beliefs based on biological
determinism and natural theology. Finally, this proposal is an approach Frankensteinian
(MORTON, 2010) and counterproductive (CANDIOTTO, 2021) to claim for a biology
curriculum that takes into account the variations that have been hidden in countless field notes
and places biological thinking in a queer pedagogical field. In other words, we intend to create
a biology curriculum in free circulation that operates in the uninterrupted gears of cisgender-
heterocentric normatization.
This article consists of an introductory section, which you have just read, in which we
show some of the concatenation of thoughts that led us to research on Sleeping Desires in Field
Notes and their relationships with cyberculture. Then, in session II, a small methodological
approach to netnographic studies will be presented. Section III is dedicated to the development
of questions for some YouTube videos, better known as Nature's Tinder. To conclude, section
IV takes place with the aim of (de)educating through biology curricula, whether on YouTube,
in classrooms or anywhere else.
In the queer perspective, the abject refers to everything that is marginalized, excluded or considered socially
repugnant due to its divergence from dominant norms and standards of gender, sexuality and identity. This can
include non-normative bodies and identities, non-binary gender and sexual expressions and other forms of
existence that challenge established norms. The abject is often associated with feelings of disgust, fear or aversion
that are socially constructed and perpetuated. This understanding of the abject is essential for the critical analysis
of power structures and the struggle for a more inclusive society that respects diversity (BUTLER, 2020; LOURO,
2020).
Sleeping desires in field notes: A study on biological thinking in YouTube curricula
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Methodological Approach
“I consider that the curriculum should be a territory to host differences, affirm life and
multiply the encounters that make us desire and expand” (PARAÍSO, 2018, p. 24, our
translation), however, how to express such productive forces in traditional terms of search? If
“the present time is composed of diverse elements, arising from different matrices, in which the
cyberculture produced in cyberspace plays an important role in the constitution of juvenile
modes of existence” (SALES, 2012, p. 111, our translation).
In view of this, to carry out this research, we composed our own path of investigation,
inspired mainly by the netnographic works of Sales (2012), Silva and Sales (2018, 2019) and
the research on curricula of dating sites carried out by Ribeiro and Fonseca (2018). These works
are gathered within what is called the “terrain of post-critical research” and its strong tendencies
to “transgression of some methodological canons” (SALES, 2012, p. 111, our translation).
Netnography derives directly from modern anthropological methods of investigating
human knowledge (culture and communities), ethnography. Netnography emerged as a way to
keep up with the speed of human socialization enhanced by the use of technologies and the
internet. Subversive since its origin, this methodology considers the social experiences that take
place in cyberspace to be significant and enhances our “ability to apply certain instruments and
analytical techniques” (KOZINETS, 2014, p. 13, our translation).
In this way, the present research is a counter-conduct, that is, resistance to
governmentality (CANDIOTTO, 2018) in biological thinking and crosses several ethical issues
to queerize (OLIVEIRA, 2016) in education research and thus expose a normative character
that can emerge on YouTube videos. Three videos were then selected that discuss desires in
nature, since this cultural artifact(s)” consists of regimes of truth, discursive orders, constitution
of subjects and power relations” (SILVA; SALES, 2018, p. 282, our translation) which makes
it possible to analyze how these desires are produced and disseminated in YouTube video
curricula.
The investigation is based on watching videos and analyzing speeches and content, this
includes images and other resources used to express thoughts, screenshots, reading comments,
directions to other related videos and the number of views of three videos called Nature's Tinder
(Figure 1), published by Meteoro Brasil channel.
This channel has more than 1.60 million subscribers and an average of 60,000 viewers
followed the trilogy of videos about desires in nature. When compared to the access and
recurrence rates of Brazilians on the YouTube platform, we are able to understand the potential
Matheus Reis DANTAS and Lívia de Rezende CARDOSO
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that information can reach in times of fluidity like the one we are experiencing. In this scenario,
Brazil is one of the countries that stands out in terms of the number of hits to the website on a
daily basis, and its public, considered young, is in the age range of 18 to 35 years.
Figure 1 Set of videos entitled “O Nature’s Tinder” from the Meteoro Brasil channel, which
convey information about desires and possible matches in natural environments.
Source: Author's screenshot (2023)
The treatment of data collected through netnography involved discursive analysis based
on the ideas of Michel Foucault and other thinkers who are related to the objective of the
research. Discourse, in turn, is understood as a productive practice that manufactures truths,
knowledge and subjectivities. Thus, the analytical and descriptive work of the data intends to
“attend to the mechanisms and effects of power in different domains and extensions” (SALES,
2012, p. 126, our translation).
In the research in question, the objective is to describe
the conditions of existence of
desires in the curricula of YouTube and to compose possibilities to see other perspectives far
from those cisheterocentric present in the descriptions of nature. The treatment of data collected
by netnography, therefore, involves a critical and reflective analysis of the discourses present
in the YouTube videos to understand how the truths, knowledge and subjectivities that relate to
desires in nature are constructed.
Only the main results will be described in a concatenated way with the thought of Michel Foucault and other
authors due to the space allowed for publication at the event and the fact that this article is a part of a larger research
that started in August 2021 and is in the process finalization (writing).
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About Nature's Tinder
For you goes this message
And it's not for me
I'm old
And your utopia is for future generations
There are so many children that will be born
with a broken wing
And I want them to fly, mate
that your revolution
Give them a piece of red sky
So that they can fly.
(LEMEBEL, 1986, our translation)
A queer pedagogy (COSTA, 2021) also becomes an engaged pedagogy (HOOKS, 2013,
p. 15), due to the political commitment that is to think about possibilities for an education far
from reinforcing stereotypes, exclusion or the countless forms of domination governmental and
biopolitical, in other words, “the teaching and learning experience could be different” and
compose other streams of thoughts about desires, bodies, genders and sexualities in nature.
Therefore, when we ask ourselves how the data collected from YouTube videos show the points
of contribution of biological thinking to the (re)production of cisheternormativity, we can see
that, as a device, its function is far from enabling a mere reiteration of dominant discourses,
“but proliferating, innovating, annexing, inventing, penetrating bodies in an increasingly
detailed way and controlling populations in an increasingly global way” (FOUCAULT, 2021,
p. 116, our translation).
Thus, in the curricula of Nature’s Tinder, different technologies of control are activated
that make us insistently conceive the production of sex, sexualities, genders, desires, bodily
differences, sexual reproduction, possibilities of reproduction, monogamy, female behaviors as
“given of nature that power is tempted to put it in check” (FOUCAULT, 2021, p. 115, our
translation). However, “as in every curriculum, what is taught is learned in different ways, as
we constitute ourselves in different ways through the processes of subjectivation” (RIBEIRO;
FONSECA, 2018, p. 301, our translation). In this way, we mean that, similar to Jan Zita Grover
in AIDS and other deforestation”, we focus on the dimensions of sensations and experiences
that make us perceive, even in stories about nature, the application of binary
cisheteronormativity, violence, challenges and abjectifications. In this way, it is not only
necessary to demonstrate how the individual experiences, however contingent, of a POC
in the
Sergipe countryside, students and professors of Science and Biology culminated in a “very
In a street language or based on my regionality as a northeastern person, “POC” means Bicha Pão com Ovo,
that is, common and effeminate.
Matheus Reis DANTAS and Lívia de Rezende CARDOSO
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particular type of perceptions about life, death, body and nature”, tries to express and thus
manifest a “writing that intensifies the now” (YORK; OLIVEIRA; BENEVIDES, 2020, p. 2,
our translation) and what Mortimer- Sandilands (2011, p. 176) calls queer ecological
sensibility.
Before deepening the discussions about the videos, themselves, we would like to talk
about the Meteoro Brasil channel and thus compose ethical and contemporary solutions
necessary for Netnographic research. The objective of this text is not to blame the materials
produced and disseminated by the channel for producing more normalization alone and leading
the forms of subjectivation to a certain end (PRECIADO, 2011), but rather to present a critique
of the same materials and to realize that the power emanates from any relational situation
(FOUCAULT, 2021). In this sense, our objective is to make known a different type of biological
rationality, one that divides opinions, tears apart scientific traditions and makes possible the
conditions for the existence of so many children with broken wings, just like I was, in
educational and cultural curricula. For this, we seek to analyze what Foucault (2021) considers
as discourse:
Discourses, like silences, are neither subjected once and for all to power nor
opposed to it. It is necessary to admit a complex and unstable game in which
discourse can be, at the same time, an instrument and an effect of power, and
also an obstacle, a prop, a point of resistance and the starting point of an
opposing strategy. Discourse conveys and produces power; reinforces it but
also undermines it, exposes it, weakens it and allows it to be barred”
(FOUCAULT, 2021, p. 110, our translation).
So, worry us
what he admits in things said and hidden, in enunciations required and
prohibited; with what it supposes of variants and different effects depending
on who speaks, their position of power, the institutional context in which they
find themselves; with what it entails of displacements and reuse of identical
formulas for opposite objectives” (FOUCAULT, 2021, p. 110, our
translation).
Based on the ideas of Joan Roughgarden (2013) and her public challenge or
demonstration in 2003 against the theory of sexual selection and its theoretical and practical
limitations, we searched in the videos of the Tinder curriculum of Nature a diversity of
expressions of desire, genders, sexualities and possibilities of connections like those described
in Evolution's Rainbow and in many other works. As it is also a Tinder curriculum, which can
be defined as a website or application that enables contact based on desire, the establishment of
relationships or encounters that currently allows composing different types of connections
Sleeping desires in field notes: A study on biological thinking in YouTube curricula
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within compulsory cisgenderity, a multiple “possibility of escape from the framework, even
when they seemed to be enclosed in it”, “a form of experimentation, of breaking with the
established, of invention insubordinate to heteronormativity”(RIBEIRO; FONSECA, 2018, p.
320, our translation), however, “norms are disclosed, subject positions are demanded”(p. 300,
our translation),”being the 'identity' ensured by stabilizing concepts” that “establish and
maintain relations of coherence and continuity between sex, gender, sexual practices and
desire”(BUTLER, 2020, p. 43, our translation).
Thus, when we inquire about what the Curricula of Nature's Tinder teach us, we can
thus understand some of these movements or power relations and know that they led, for
example, to homosexuality, lesbianism, intersexuality, transvestitism, transsexuality, sexual
and nonperformative behavior. heterosexuals the face of disappearance in reports about nature.
The videos, by themselves, offer very valuable data on the perception of the producers about
the regime of truth that they establish and reproduce about biological thinking, however, the
comments of the subscribers that show how the curriculum is understood and demonstrates
which subjects and positioning are constructed from the learning of scientific cases, such as
sexual selection and the possibility of reproduction in the Animal Kingdom. In this way, the
Nature’s Tinder curriculum presents ways to resist the sexpolitics employed in the videos’
script, not without clashes and confrontations, but also allows expressing that “organisms flow
beyond the limits of any category that we build. In biology, nature abhors categories”
(ROUGHGARDEN, 2013, p. 32, our translation) (Figure 2).
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Figure 2 Identity claims of recognition trigger technologies of control and moralization
over sexual selection to establish a no place for homosexual desires
Source: Author's screenshot (2023)
Control technologies driven by users, based on biological thinking, create a non-place
for homosexual performances within what is called Natural History and evolution. In the clash
above, one user assumes that it is “sad” that most references to sexual selection are aimed at
heterosexual couples. What we call an assimilationist strategy, since it seeks spaces of
recognition (LOURO, 2020). However, the technologies of moralization (SILVA; SALES,
2018) are subtly triggered as responses to the first comment, making it clear that although it is
important to represent differences in different environments, including YouTube videos, there
is no space for homosexuals in social media. evolutionary theories, which is evidenced in the
work of Milam (2021). In the case shown, homosexuals or species that practice same-sex
intercourse, such as Tityus serrulatus (scorpions), cannot reproduce according to the discursive
naivety (FERRARO, 2020) of the users that is somehow added to what is passed in the
curriculum in question. In view of this, guilt “can be triggered as a technique of power when
the prescriptions of morality are not followed by the subject” (SILVA; SALES, 2018, p. 285,
our translation).
Thus, the truth about the expressions or effects of desire in Nature's Tinder curriculum
“is produced precisely by regulatory practices that generate coherent identities via a matrix of
coherent gender norms” (BUTLER, 2020, p. 44, our translation). Thus, the desires and
behaviors produced and disseminated in the analyzed curriculum led us to believe that
heterosexuality is something given. Despite the narrators talking about a focus on multicellular
beings, especially vertebrate animals, all portrayed cases demonstrate a limited number of
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matches that are possible in nature, as also assumed in Figure 2, contributing to the
naturalization of sexual behaviors only in the binary sphere of heterosexuality, since “the
category of sex, both male and female, is the product of a diffuse regulatory economy of
sexuality” (BUTLER, 2020, p. 45, our translation).
According to Mendenhall et al. (2020), there are about 700 known species of vertebrates
in nature that transition within the categories of biological sex or gender identity. Thus, it is
necessary to restructure the exposed knowledge, bringing cases and openings for performances
that flee from the assumptions of cis-hetero- governmentality and manifest queer subversion
(YORK; OLIVEIRA; BENEVIDES, 2020).
Sexual reproduction, sex and the sexed body in general, according to some writings
about Darwin and in Nature's Tinder curriculum, were negotiated at very high prices, generating
a reference for the regulation of sexuality in humans and especially in female bodies., so that
only the monogamous union and the male/female coupling forwarded the species to
reproductive and evolutionary success. In this way, Darwin ended up shaping his theory to meet
the moral demands of a bourgeois and Victorian society, subjecting those performances far
from cisheteronormativeness to a condition of non-place or as “developmental mismatches,
reproductive failures and evolutionary sexual setbacks” (BROOKS, 2021, p. 326, our
translation).
The reflexes of Darwin's formulations are subtly felt in contemporaneity, for example,
when Mendenhall et al. (2020) say that in exhibitions in Natural History museums, male
animals are shown in prominent positions in relation to females, even presenting natural
performances in life that are not consistent with the portrayed behaviors, this demonstrates an
intense (re)inscription of the categories of gender and sex in the old formulations of normative
heterosexuality and all these positions, in some way, contribute to naturalize violence against
women or misogyny. The same authors say that these representations, even within museums
and their role in disseminating biodiversity, obscure natural stories about non-binaries and
asexualities, for example, dinosaurs (fossils do not retain sexual characteristics).
Formulating hypotheses about why “most societies have been establishing the male and
female division as a primordial division” (LOURO, 2020, p. 70, our translation), makes us
resort to processes much older than human culture itself. Nature as something primordial and
which, nowadays, is considered a reference for social issues, is actually impregnated by what
Butler (2020, p. 43, our translation) calls “norms of socially instituted and maintained
intelligibility”. Therefore, many people, including those who demonstrate knowledge of
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important concepts such as gender, do not realize that even nature is materialized according to
contingent and historical rules in different societies (Figure 3).
Figure 3 Gender is seen as a concept that only presents possibilities of explanation within
the cultural sphere, consequently Biology is in charge of producing discourses about sex and
explanations about desires in nature
Source: Author's screenshot (2023)
Not that the different living beings cannot be a reference for us humans, however, our
proposal is the strategic (dis) identification that allows us to escape from regulatory practices
that lead to a matrix of norms not only of gender, as portrayed above, but in make realize the
heterosexualization of desire [...] institutes the production of discriminatory
and asymmetrical oppositions between 'feminine' and 'masculine', in which
these are understood as expressive attributes of 'male' and 'female'. The
cultural matrix through which gender identity becomes intelligible requires
that certain types of 'identities' cannot 'exist' (BUTLER, 2020, p. 44, our
translation).
In short, the discussion about identification with non-human beings and the possibility
of strategic (dis)identification brings to light the importance of questioning the power and
regulation relations present in our society. The heterosexualization of desire and the cultural
matrix that defines the intelligibility of gender identity are examples of how certain types of
identities are repressed and excluded. In this sense, it is essential to seek a critical and reflective
understanding of the norms and standards that are imposed on us, in order to promote curricular
openings and the proliferation of differences. As argued by Foucault (2014), resistance can
manifest itself in different ways, including through strategic (dis)identification, which
challenges norms and opens spaces for the expression of other ways of being and existing.
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Final remarks
From the analysis in cyberspace of the curricula of Nature's Tinder and the theoretical
discussions of Joan Roughgarden, Michel Foucault and Judith Butler, it becomes evident the
need to open curricular spaces within biological knowledge that are not governed by the
punitive and blaming dynamics of nature cisheteronormativity. The knowledge disseminated in
the analyzed curricula reinforces the heterosexualization of desire and the cultural matrix that
demands that certain types of identities cannot exist. In this way, these curricula end up giving
credibility to conservative movements, such as religious discourse and “gender ideology”,
which seek to restrict in different ways the possibilities of expression and (dis)identification of
gender and sexuality, as well as desires. Therefore, it is important to experience other
possibilities of desires in nature, thus awakening those desires that were left to fall asleep in the
temporality of field notes and in the fear of what is most material in nature: differences.
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CRediT Author Statement
Acknowledgments: No.
Funding: No.
Conflicts of interest: No.
Ethical approval: Yes. The study does not require authorization and analysis by an ethics
committee, since it makes use of public data.
Availability of data and material: Nature's Tinder 1: (428) NATURE'S TINDER: PART 1 -
YouTube; Nature's Tinder 2: (428) NATURE'S TINDER: PART 2 - YouTube; Nature's Tinder
3: (428) NATURE'S TINDER: PART 3 - YouTube; Feature:
https://www.tecmundo.com.br/internet/119776-youtube-insights-brasil.htm
Authors' contributions: Article written by Matheus Reis Dantas as part of his graduate
research and supervised by Lívia de Rezende Cardos.
Processing and editing: Editora Ibero-Americana de Educação.
Proofreading, formatting, standardization and translation.