Identoralidade(s) em Mia Couto
Palavras-chave:
Mia Couto, Identidade, Oralidade, Memória,Resumo
Mia Couto afirma que “a cultura africana não é uma única mas uma rede multicultural em contínua construção” (COUTO, 2005, p. 79). A ideia de uma identidade múltipla e plural relaciona-se com as questões de tradição e de raízes de um povo, com a necessidade de “refabricar” rituais e crenças, elementos fundamentais para a reconstrução identitária dum país marcado pela guerra. Os dezasseis anos de guerra com a desolação da paisagem natural e humana não proporcionaram um contexto cultural adequado à transmissão oral. A necessidade de resgatar “o imaginário ancestral moçambicano profundamente enraizado na oralidade” (MARTINS, 2002), perdido ou esquecido, permanece atual e ligada à questão da definição da identidade, da moçambicanidade. A tradição oral ajuda a reciclar e reavivar a memória coletiva e a cultura tradicional do povo moçambicano, mas a oralidade em si só não chega para combater o esquecimento; é preciso escrever para reforçar e diversificar o processo de recriação dessa tradição. Mia Couto contribui para o resgate da tradição com as suas estórias, criando um espaço “entre lugares”, em que elementos da modernidade, pelo viés da escrita prosaico-ficcional, são utilizados para transformar, atualizar e dinamizar o património cultural tradicional e assim renovar o processo de construção da identidade coletiva de Moçambique. Através de leituras das narrativas curtas e romances de Mia Couto, pretende-se explorar a forma como o autor utiliza a oralidade para a (re)construção da identidade das personagens e consequente revitalização da memória cultural coletiva, analisando textos selecionados em que a identidade e a oralidade se fundem para retratarem a moçambicanidade neles patente. Assim, reinventar ou ouvir vozes esquecidas é colorir e edificar a nova identidade cultural moçambicana, dando oportunidade ao povo anónimo de se expressar, de se identificar com e de fazer viver um projeto cultural para um futuro sempre em construção.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Os manuscritos aceitos e publicados são de propriedade da Revista de Letras. Os originais deverão ser acompanhados de documentos de transferência de direitos autorais contendo assinatura dos autores.
É vedada a submissão integral ou parcial do manuscrito a qualquer outro periódico.
A responsabilidade do conteúdo dos artigos é exclusiva dos autores.
É vedada a tradução para outro idioma sem a autorização escrita do Editor ouvida a Comissão Editorial.