Heterogeneidade burguesa, democratização e sociedade civil em Fernando Henrique Cardoso

Autores

  • Katia Aparecida Baptista UNESP – Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Ciências e Letras – Departamento de Antropologia, Política e Filosofia. Araraquara – São Paulo – Brasil

Palavras-chave:

Fernando Henrique Cardoso, Empresário industrial, Dependência, Autoritarismo, Democratização, Sociedade Civil,

Resumo

Em sua tese de livre docência, Empresário industrial e desenvolvimento econômico no Brasil (1963), Fernando Henrique Cardoso discute a participação do empresariado industrial no desenvolvimento econômico do país e fornece elementos para a análise de sua mentalidade, de sua ideologia e de seu comportamento. Procura mostrar que, com raras exceções, não há entre os componentes dessa classe social a propensão de cumprir o papel de uma “burguesia nacional”, capaz de comandar um projeto de desenvolvimento e de disputar a hegemonia política da sociedade. Pelo contrário, em sua atuação haveria quase sempre uma tendência de associação com o capital estrangeiro. Como consequência dessa percepção e de sua experiência na CEPAL depois do golpe militar de 1964, Cardoso efetiva uma mudança de foco acerca das possibilidades do desenvolvimento econômico na América Latina, abrindo-se à consideração de outras dimensões da realidade social e política. Na CEPAL, defronta-se com um acirrado debate e manifesta posição crítica com relação à tese da estagnação econômica, segundo a qual os países periféricos estariam fadados à “pastorização” e ao subdesenvolvimento. Para se contrapor à visão estagnacionista, formula, em parceria com Enzo Faletto e utilizando-se de uma metodologia inovadora, a “teoria da dependência”, que, diferentemente da concepção cepalina e também daquelas representadas por autores como Theotônio dos Santos, Ruy Mauro Marini e André Gunder Frank, afirmava que não havia estagnação, mas sim desenvolvimento, ainda que dependente e associado. Com base nessa leitura do real, além de reivindicar a necessidade da análise da situação concreta de cada país da América Latina, Cardoso desenvolvia o argumento apresentado anteriormente, centrado na ideia de inexistência de uma burguesia nacional empreendedora e portadora de um projeto político hegemônico, para mostrar que; em seu lugar, teria se constituído um tipo de empresário industrial propenso a desenvolver um conjunto de “reações adaptativas” face à dinâmica do capitalismo mundial. Tal percepção amplia seu ângulo de visão, deslocando-o do foco exclusivo nas questões estruturais para uma valorização da dimensão política, o que lhe permite elaborar uma compreensão do Estado, da sociedade civil e dos movimentos sociais, que terá forte impacto na transição democrática. O texto procura acompanhar essa sua ampliação de perspectiva através das obras O modelo político brasileiro, de 1972, e Autoritarismo e democratização, de 1975, e no conjunto de artigos escritos no jornal Opinião.

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Publicado

05/07/2017

Edição

Seção

Desenvolvimento e mudança social