As carreiras da cloroquina e da hidroxicloroquina como medicamentos “milagrosos” contra a Covid-19
narrativas da França e do Brasil
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v29i2.18976Palavras-chave:
Hidroxicloroquina, Estudos Sociais da Ciência, Controvérsias científicas, Trajetória de medicamentos, COVID-19Resumo
No início de janeiro de 2024, um artigo amplamente divulgado na revista Biomedicine and Pharmacology estimou que aproximadamente 17.000 pacientes com COVID-19 na França, Itália, Espanha, Turquia e EUA morreram como resultado do tratamento com hidroxicloroquina. A publicação deste artigo é um desfecho adequado para quase três anos de controvérsia sobre o possível uso de cloroquina e hidroxicloroquina para tratar a COVID-19. Reposicionados no início de 2020 como resposta milagrosa à pandemia de COVID-19, esses medicamenos tiveram um breve momento de celebridade mundial, apesar de dúvidas expressas por muitos especialistas quanto à sua eficácia e segurança. A carreira da hidroxicloroquina se encerraria na França em setembro de 2020, quando uma série de ensaios clínicos mostraram não apenas a ineficácia no tratamento da COVID-19, mas também reações adversas. No entanto, o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina continuou no Brasil, onde o governo continuou a promovê-lo como a primeira opção terapêutica contra a COVID-19. Com base na metodologia desenvolvida pelos estudos sociais da ciência, nosso artigo reconstrói as trajetórias da hidroxicloroquina na França e no Brasil. O objetivo é elucidar as razões para a exceção brasileira, iluminando as consequências desastrosas do exercício de um poder político monolítico e de práticas antidemocráticas na regulação de medicamentos. Propõem-se novas reflexões sobre um tópico que tem sido visível na mídia e amplamente discutido na sociedade, mas que atraiu muito menos atenção na esfera acadêmica.
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