O naturalismo como pornografia e a herança libertina em O homem, A carne e O aborto
DOI:
https://doi.org/10.58943/irl.v1i56.17753Palavras-chave:
Naturalismo, Histeria, Pornografia, Libertinismo, Livros para homensResumo
Desde seu lançamento, é recorrente a comparação de A carne (1888), de Júlio Ribeiro, com O homem (1887), de Aluísio Azevedo. No século XX, Miguel Pereira, assimilando o discurso de críticos oitocentistas, como Pujol e Veríssimo, esquematizou a influência do romance de Aluísio sobre outros, que foi perpetrado pela historiografia literária. Já O aborto (1893), de Figueiredo Pimentel (que cita A carne e O homem como obras pornográficas), seria acusado de copiar o primeiro. Claramente, essas aproximações entre os romances têm o intuito de depreciá-los: os três foram recriminados pelo falseamento de personagens e até do Naturalismo, mas, principalmente, por terem exagerado as representações sexuais, sendo acoimados de pornográficos. Com efeito, antes de tudo, os três foram lidos e vendidos como “livros para homens” no século XIX. Isso, no entanto, não os desqualifica. Ao transparecerem diversos pontos de contato entre si (não apenas textuais) e um vínculo com o libertinismo setecentista, esses livros apontam para o funcionamento do Naturalismo como uma das manifestações da pornografia no Brasil e avultam seu potencial libertário. Afinal, a maior causa de desconforto dos detratores foi a liberdade sexual das protagonistas Magdá, Lenita e Maricota. Essas, mais do que meras histéricas, remontam à figura da libertina, tipicamente pornográfica, tendo sido comparadas com prostitutas. Propomos que ao se redimensionarem esses “romances científicos” como literatura popular e pornográfica – tomando, para isso, justamente o que neles foi considerado malogro ou excesso – é revelado seu caráter inovador.
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