O naturalismo como pornografia e a herança libertina em O homem, A carne e O aborto

Autores

  • Thales Sant’Ana Ferreira Mendes Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Centro de Educação e Humanidades – Instituto de Letras – Programa de Pós-graduação stricto sensu em Letras. Rio de Janeiro – RJ – Brasil. https://orcid.org/0000-0003-2306-013X

DOI:

https://doi.org/10.58943/irl.v1i56.17753

Palavras-chave:

Naturalismo, Histeria, Pornografia, Libertinismo, Livros para homens

Resumo

Desde seu lançamento, é recorrente a comparação de A carne (1888), de Júlio Ribeiro, com O homem (1887), de Aluísio Azevedo. No século XX, Miguel Pereira, assimilando o discurso de críticos oitocentistas, como Pujol e Veríssimo, esquematizou a influência do romance de Aluísio sobre outros, que foi perpetrado pela historiografia literária. Já O aborto (1893), de Figueiredo Pimentel (que cita A carne e O homem como obras pornográficas), seria acusado de copiar o primeiro. Claramente, essas aproximações entre os romances têm o intuito de depreciá-los: os três foram recriminados pelo falseamento de personagens e até do Naturalismo, mas, principalmente, por terem exagerado as representações sexuais, sendo acoimados de pornográficos. Com efeito, antes de tudo, os três foram lidos e vendidos como “livros para homens” no século XIX. Isso, no entanto, não os desqualifica. Ao transparecerem diversos pontos de contato entre si (não apenas textuais) e um vínculo com o libertinismo setecentista, esses livros apontam para o funcionamento do Naturalismo como uma das manifestações da pornografia no Brasil e avultam seu potencial libertário. Afinal, a maior causa de desconforto dos detratores foi a liberdade sexual das protagonistas Magdá, Lenita e Maricota. Essas, mais do que meras histéricas, remontam à figura da libertina, tipicamente pornográfica, tendo sido comparadas com prostitutas. Propomos que ao se redimensionarem esses “romances científicos” como literatura popular e pornográfica – tomando, para isso, justamente o que neles foi considerado malogro ou excesso – é revelado seu caráter inovador.

Biografia do Autor

Thales Sant’Ana Ferreira Mendes, Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Centro de Educação e Humanidades – Instituto de Letras – Programa de Pós-graduação stricto sensu em Letras. Rio de Janeiro – RJ – Brasil.

Doutorando em Letras (Teoria da Literatura/ Literatura Comparada) pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), desenvolvendo tese sobre a formação da literatura pornográfica no Brasil. Mestre em Letras (Literatura Brasileira) pela mesma instituição, tendo defendido dissertação sobre a sensualidade de "Hespérides", de Carvalho Júnior. É, ainda, licenciado em Letras (Português, Inglês e Literaturas) pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Seu foco e interesse de pesquisas se concentram nas diversas formas de manifestação da literatura erótico-pornográfica brasileira, com atenção especial para o período compreendido entre o último quartel do século XIX e as primeiras décadas do século XX.

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Publicado

07/08/2023