O foco da mulher saramaguiana que não cega

para além de um fio condutor na narrativa, um experienciar de resistência

Autores

  • Pâmera Ferreira UERJ – Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Faculdade de Letras – Departamento de Letras – Programa de Pós-Graduação em Literaturas. Rio de Janeiro – RJ – Brasil

DOI:

https://doi.org/10.58943/irl.v1i59.19596

Palavras-chave:

Resistência, Narrativas pandêmicas, José Saramago

Resumo

Este trabalho tem como condução central evidenciar dois prismas na personagem da mulher do médico, Ensaio sobre a cegueira. Entendendo, como primeiro ponto, que o olhar dela permite ao autor uma conexão profícua com a realidade que se intenciona passar para o leitor, visto que as cenas desse romance são intensamente descritivas e, embora haja um narrador em terceira pessoa, haveria uma distância maior entre essas entidades caso todos os personagens fossem cegos. A outra questão, tratase de José Saramago (1995) despertar a possibilidade de um ponto de estranhamento, pois, essa mulher assiste toda decrepitude humana ao presenciar o horror da imposição de poder por quem apenas por ter uma arma, mesmo cego, submeteu os confinados à humilhação e violência, ao ponto do estupro. Momento, esse, de estopim: pois, ver suas companheiras serem estupradas consigo, ao limite do feminicídio, levou-a a usar sua notória potência para assassinar esse líder. Certamente, é uma perspectiva vê-la como uma resistência dentro daquela estrutura quase incorruptível de exploração, portanto, a pergunta impositiva é: para que se manter entre os cegos? As possíveis respostas estão em recusar-se a repetições de padrões de poder impostos pela violência. Matou, mas não para ocupar o lugar institucionalizado do “senhor”.

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Publicado

05/12/2024