Estereótipo e alteridade: a construção ideológica do <i>Outro</i> nas 'investigações jornalísticas' de João do Rio
Resumo
A série dos “mistérios da cidade” despontou por volta de meados do século XIX como uma rubrica literária de sucesso na Europa e nos Estados Unidos. As metrópoles (com seus contrastes sociais, suas novas formas de deliqüescência) eram as protagonistas desses romances que endossavam e traduziam os saberes das disciplinas científicas emergentes. Inspirado pela tremenda popularidade de Les mystères de Paris (1843), de Eugène Sue, e seus epígonos, João do Rio adaptou o estilo e a temática do gênero às condições locais. A alma encantadora das ruas (1908) descreve o novo Rio de Janeiro polarizado entre os esnobes de classe alta e os pobres degradados e, em regra, viciosos. O lado sombrio da cidade dos despossuídos é representado como um continente negro, povoado por primitivos nativos, capaz de despertar, ao mesmo tempo, desejo e asco. Por esse motivo, argumento, neste ensaio, em contraste com as opiniões canônicas, que as “investigações jornalísticas” do autor carioca devem ser encaradas pelos historiadores culturais não como um retrato acurado e solidário da vida social e cultural das classes baixas, mas como uma valiosa fonte de informação sobre ideologias e ansiedades, conflitos morais e ambigüidades sexuais do novo leitor urbano.
Palavras-chave: João do Rio; história cultural; representação literária; estereótipo; alteridade; classes baixas; leitor burguês.
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