A representação lingüística nas concepções de Luhmann, Habermas e Brandom e as conseqüências para o <i>status</i> do discurso testemunhal
Resumo
O gênero do testemunho converteu-se em uma das fontes mais importantes para a memória coletiva do século XX e, ao mesmo tempo, segue fornecendo conceitos importantes para o pensamento filosófico, sociológico e político. Operando nas fronteiras entre história, autobiografia e ficção, o testemunho também é uma pedra de toque importante para verificar as conseqüências dos modelos da representação lingüística que se desenvolveram depois do linguistic turn e dos avanços nas neurociências. Na Alemanha, as teorias mais influentes que buscaram integrar a impossibilidade de um realismo lingüístico (que presume uma correspondência entre palavras e coisas) foram a Systemtheorie de Luhmann e a Theorie des kommunikativen Handelns de Habermas. Enquanto Luhmann oferece um modelo de comunicação como sistema fechado em si, que não permite laços entre realidade e texto, Habermas propõe uma aproximação à realidade objetiva através de um processo discursivo não hegemônico que privilegia falantes competentes. As duas abordagens parecem insatisfatórias frente ao status referencial da historiografia, particularmente das atrocidades do holocausto. Integrando os resultados de Habermas com a tradição norte-americana do pragmatismo e da analítica, a filosofia da linguagem de Brandom abre uma nova perspectiva que deriva a referencialidade da prática social dos falantes e que permite pensar num conceito moderado de “realidade objetiva”. O artigo analisa quais as implicações dos três conceitos de referência para o testemunho, testando a validez para nossa realidade comunicativa.
Palavras-chave: Testemunho; representação lingüística; pragmatismo; inferencialismo; teoria dos sistemas; pacto autobiográfico.
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