A vida política e social das máscaras preventivas em São paulo (Brasil, 2020)

Resumo

Este artigo trata do uso de máscaras preventivas à disseminação de COVID-19, em São Paulo, o maior estado do Brasil, durante o ano de 2020. Sustentando uma abordagem compreensiva e não normativa desta prática, colocamse em relevo algumas de suas dimensões simbólicas, sociológicas e políticas. Num primeiro momento, propõe uma caracterização típico-ideal do “modo de vida pandêmico”, oriundo da repentina ineficácia das práticas rotineiras de higiene e da exigência de incorporação de outras, a fim de cumprir os cuidados não farmacológicos e preventivos à difusão e à contaminação pelo “novo coronavírus”. Destacam-se os desajustes sofridos pelos esquemas cognitivos e corporais, e, particularmente, as novas maneiras de controlar a “apresentação de si”, por meio do “conjunto rosto-cabeça” – parte do corpo que foi submetida a um regime contraditório de exibição virtual e de encobrimento presencial. Em seguida, trata-se das tensões entre as demandas de apresentação de si (em sua dimensão simbólica) e o uso obrigatório das máscaras – de caráter sanitário (recomendado pela expertise médica) e político (imposto pelo Estado e sujeito à punição). Finalmente, caracterizam-se algumas atitudes em relação ao uso das máscaras – voluntarismo “precoce”, resistência, negociação e estilização. A partir delas, discute-se a rotinização do “modo de vida pandêmico”. Circunscrevendo a demonstração a São Paulo, articula-se esse processo à condução política da pandemia, exercida pelo governo do estado.