Leitura e experiência de poesia em tempos de indigência
DOI:
https://doi.org/10.58943/irl.v1i57.18742Palabras clave:
Poesia, Pandemia de Covid-19, Surrealismo, Ensino de poesiaResumen
E por que poesia em tempos de indigência? Sugerimos uma torção na questão originalmente proposta num verso de “Pão e vinho”, poema de Hölderlin, e um deslocamento da Alemanha oitocentista à universidade pública brasileira de 2023. O sentimento de crise que atingiu dimensões imprevistas a partir de março de 2020 não é novo, tampouco resultado apenas da pandemia num dos países mais afetados pelo coronavírus. Neste artigo, apresentamos pressupostos da pesquisa “Experiência de poesia: um projeto poético para tempos de indigência”, refletindo sobre a perda progressiva do sentido do mundo nos últimos anos, provocada pela combinação indigente da pandemia de Covid-19 com desemprego, luto, solidão e ensimesmamento e seus impactos no trabalho com poesia em sala de aula com alunos da graduação em Letras. Partimos da concepção de Poesia depreendida do nosso trabalho com a obravida de Mário Cesariny, em seu diálogo surrealista e romântico: uma afirmação – não necessariamente vinculada à escrita de versos – de um modo de vida revoltado e apaixonado, erguido cotidianamente contra o cotidiano de modo a lançar luz sobre uma produção incessante de imagens do desejo. Será possível, então, operar um retorno à produção escrita para perceber os poemas como potências disruptivas e perturbadoras dos limites imaginativos instaurados pela retórica da crise permanente e seus efeitos cotidianos. Parece-nos urgente a adoção de outras estratégias didáticas para o acesso a uma experiência com a poesia num cenário de crescente miséria e violência, que incidem diretamente sobre as possibilidades de realização libertadora da imagem poética.
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