CHAMADA DE ARTIGOS PARA DOSSIÊ: Democracia, redes sociais e Inteligência Artificial
Democracia também é comunicação. Apesar desta se constituir numa assertiva poderosa, o fato é que regimes democráticos precisam se comunicar. Quando pensamos nos discursos proferidos na Ágora, no Senado Romano, e passamos à era moderna com o surgimento dos jornais impressos, do rádio, da televisão e agora na era contemporânea das redes sociais digitais e início da inteligência artificial (IA), o que existe em comum é que, paulatinamente, houve uma ampliação considerável na criação, no fluxo e no acesso à informação. Hoje, um dos dilemas centrais não está em acessar a informação, mas em selecionar suas fontes de acordo com a integridade de produção jornalística dos fatos.
A ascensão das redes sociais vem transformando rapidamente a comunicação política, alterando lógicas de conflito, modificando o comportamento dos atores e instituições. Uma nova cultura informacional vem ganhando preponderância nas democracias contemporâneas, desconstruindo e deixando para trás a lógica do fluxo tradicional de comunicação. E se os desafios já eram crescentes para as democracias liberais com a transformação provocada pela circulação da informação através das novas ferramentas das redes sociais digitais, com os impactos das fake news e o excesso de informação, eles agora se tornam substanciais com o emprego crescente da inteligência artificial.
Desde o surgimento do rádio e o roubo do protagonismo pela televisão na segunda metade do século XX, nenhuma outra transformação tem impactado de forma tão decisiva o processo de comunicação política quanto às redes sociais digitais — e agora a IA. Diferentemente dos canais tradicionais por onde fluía uma narrativa política coerente, histórias a serem contadas com finais felizes ou tristes, toques dramáticos e até humorísticos, os engajamentos das novas mídias são atraídos exatamente pelo oposto: imediatismo, incoerência, confusão e agressividade, um tipo de comunicação que agencia o excesso, embaralhando a informação e atuando na divisão polarizadora.
Com o poder cada vez maior da cadeia de algoritmos, somos muitas vezes levados ao acesso de conteúdos os quais não eram objeto inicial de interesse. Isso se deve, segundo Deibert (2020), devido ao modelo de negócios das grandes empresas, que fornecem tais ferramentas de busca e de entretenimento nas redes sociais, mas que estão na verdade em busca de mais dados privados e informação individualizada otimizada. Uma transformação que a inteligência artificial, no seu alvorecer, apenas começa a desbravar e promete transformar toda a lógica de circulação da informação.
Objetivo
Publicar artigos inéditos que contemplem agendas de pesquisas no campo da Ciência Política (cultura política), Sociologia (política) e Antropologia (política), relacionando democracia com comunicação, o uso das redes sociais em sistemas políticos e o os desafios da Inteligência Artificial para os regimes contemporâneos.
Diante das transformações que ocorreram, principalmente nas últimas duas décadas, nas ferramentas de comunicação, com a ascensão das redes sociais digitais e a remodelagem dos meios de comunicação tradicionais, é de suma importância que haja um canal pelo qual estas mudanças, e os desafios à elas relacionadas com os regimes democráticos, sejam objeto de estudo e análises mais aprofundadas. Ainda mais agora com o início do uso da Inteligência Artificial, que promete transformar ainda mais a lógica da comunicação política nas democracias contemporâneas.
Temas de artigos que podem ser enquadrados
Democracia: comunicação política; democracia e fake news; campanhas políticas e eleitorais.
Redes Sociais: democracia e redes sociais; discurso político nas redes sociais; redes sociais como ferramenta do populismo autoritário; redes sociais e polarização política e social.
Inteligência Artificial: inteligência artificial e democracia; ferramentas de inteligência artificial que propulsionam a democracia; os perigos da inteligência artificial para a democracia; uso da inteligência artificial em regimes autoritários e híbridos.
Organizadores,
Luis Gustavo Mello Grohmann e Fábio Hoffmann.
Submissões até 31 de agosto de 2024.
Previsão de publicação: 1º semestre de 2025.