O espaço social da dúvida
Negacionismo, ceticismo e a construção do conhecimento
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.17300Palavras-chave:
Negacionismo, Ceticismo, Dúvida, Epistemologia, ConstrutivismoResumo
À primeira vista, pode-se pensar que toda restrição à dúvida é contrária à progressão do conhecimento e antidemocrática. Este argumento é utilizado por diferentes sabores de negacionismo. No entanto, um exame do modo como funcionam dúvidas nos mostra que existem exigências epistêmicas para a legitimidade da dúvida que não são satisfeitas pelos negacionismos. Uma consequência deste argumento é que a normatividade epistêmica não é absorvida pela normatividade política. A especificidade da normatividade epistêmica, que explica porque a dúvida de negacionistas não é legítima, desaparece em teorias construtivistas. Teses construtivistas resultam de uma confusão entre o fato de teorias serem construtos sociais e a tese que elas constroem os fatos sobre os quais portam a teoria ela mesma. A legitimidade da dúvida depende de processos sociais de filtragem epistêmica. Os filtros epistêmicos socialmente construídos refletem um fato profundo da evolução da cultura humana: a produção cumulativa, social e assimétrica do conhecimento.
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