Corpo imune?
Discursos sobre exercício físico em uma academia de musculação
DOI:
https://doi.org/10.47284/cdc.v24i00.18963Palavras-chave:
Práticas corporais, Academias de ginástica, Imunidade, Medicalização, COVID-19Resumo
Ancorado no debate sobre medicalização, o objetivo deste estudo foi compreender as relações entre exercício físico e imunidade construídas em uma academia de musculação durante a pandemia de COVID-19. Foram trianguladas 12 entrevistas semiestruturadas aos(às) frequentadores(as) do estabelecimento com as publicações da academia em uma rede social. Para o tratamento dos dados, foram articuladas a análise de discurso e de imagens. Os resultados indicaram como os processos de medicalização constituíram, de forma múltipla, grande parte dos discursos êmico-imagéticos sobre exercício físico ante o contexto pandêmico. Conclui-se que aspectos biopsicossociais atravessam a ideia de imunidade e suas relações com o “exercitar-se” na musculação.
Downloads
Referências
BOLTANSKI, Luc. As classes sociais e o corpo. São Paulo: Paz e Terra, 2004.
BRITO, Leandro Teofilo de. “Enfrentar o vírus como homem e não como moleque”: quando a masculinidade tóxica se torna genocida. Revista Docência e Cibercultura, Rio de Janeiro, v. 6, n. 2, p. 150-162, 2022. DOI: 10.12957/redoc.2022.62923. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/re-doc/article/view/62923. Acesso em: 25 jan. 2024.
BUSS, Paulo Marchiori. Uma introdução ao conceito de promoção da saúde. In: CZERESNIA, Dina; FREITAS, Carlos Machado de. (org.). Promoção da Saúde: conceitos, reflexões, tendências. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora da Fiocruz, 2017.
CAMARGO JÚNIOR, Kenneth Rochel. Medicalização, farmacologização e imperialismo sanitário. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 29, n. 5, p. 844-846, 2013. DOI: 10.1590/S0102-311X2013000500002. Disponível em: https://www.scielo.br/j/csp/a/k8VGHm5MtMs9T9PYxRDwFLz/?lang=pt. Acesso em: 25 jan. 2024.
CAPONI, Sandra. Biopolítica e medicalização dos anormais. Physis: Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 19, n. 2, p. 529-549, 2009. DOI: 10.1590/S0103-73312009000200016. Disponível em: https://www.scielo.br/j/physis/a/xHyxtGjNn96bkkSJFbBxGCC/abstract/?lang=pt. Acesso em: 25 jan. 2024.
CARVALHO, Sérgio et al. Medicalização: uma crítica (im)pertinente? Physis: Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 25, n. 4, p. 1251-1269, 2015. DOI: 10.1590/S0103-73312015000400011. Disponível em: https://www.scielo.br/j/physis/a/mW8FpY6CwpWrPGVLPbCxBQq/. Acesso em: 25 jan. 2024.
CASTIEL, Luis David; GUILAM, Maria Cristina Rodrigues; FERREIRA, Marcos Santos. Correndo o risco: uma introdução aos riscos em saúde. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2010.
CASTRO, Ana Lúcia de. Indústria da beleza: uma abordagem sócio-antropológica do culto ao corpo na cultura contemporânea. Latitude, Maceió, v. 4, n. 1, p. 54-73, 2010. DOI: 10.28998/lte.2010.n.1.818. Disponível em: https://www.seer.ufal.br/index.php/latitude/article/view/818. Acesso em: 25 jan. 2024.
CLARKE, Adele et al. Biomedicalization: technoscientific transformation of health, illness and U.S. biomedicine. American Sociological Review, New York, v. 68, n. 2 p. 161-194, 2003. DOI: 10.2307/1519765. Disponível em: https://www.jstor.org/stable/1519765. Acesso em: 25 jan. 2024.
CONRAD, Peter; SCHNEIDER, Joseph. Deviance and medicalization: from badness to sickness. Philadelphia: Temple University Press, 1992.
CONRAD, Peter. The medicalization of society: on the transformation of human conditions into treatable disorders. Baltimore: The Johns Hopkins University Press, 2007.
CORBIN, Alain; COURTINE, Jean-Jacques; VIGARELLO, Georges (org.). História do corpo: da Revolução à Grande Guerra. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.
CZERESNIA, Dina. O conceito de saúde e a diferença entre prevenção e promoção. In: CZERESNIA, Dina; FREITAS, Carlos Machado de. (org.). Promoção da Saúde: conceitos, reflexões, tendências. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora da Fiocruz, 2017.
DIAS, Graziany Penna; COIMBRA, Tatiane Carneiro; RAPOSO, Bruno Martins. ACAD e o sistema CONFEF/CREFS: a burguesia do fitness e a pandemia da COVID-19 no Brasil. Arquivos em Movimento, Rio de Janeiro, v. 17, n. 1, p. 454-469, 2021. Disponível em: https://revistas.ufrj.br/index.php/am/article/view/39575. Acesso em: 25 jan. 2024.
FELDMAN, Zeena; GOODMAN, Michael. Cultura alimentar digital, poder e a vida cotidiana. Cadernos de Campo: Revista de Ciências Sociais, Araraquara, v. 23, n. esp. 1, e023007, 2023. DOI: 10.47284/cdc.v23iesp.1.18358. Disponível em: https://periodicos.fclar.unesp.br/cadernos/article/view/18358. Acesso em: 25 jan. 2024.
FERREIRA, Jaqueline. Necropolítica, poder e significados da pandemia do coronavírus: uma abordagem antropológica. Revista Sociedade e Cultura, Goiânia, v. 24, e66274, 2021. DOI: 10.5216/sec.v24.66274. Disponível em: https://revistas.ufg.br/fcs/article/view/66274. Acesso em: 25 jan. 2024.
FERREIRA, Marcos Santos; CASTIEL, Luis David; CARDOSO, Maria Helena Cabral de Almeida. A patologização do sedentarismo. Saúde e Sociedade, São Paulo, v. 21, n. 4, p. 836-847, 2012. DOI: 10.1590/S0104-12902012000400004. Disponível em: https://www.scielo.br/j/sausoc/a/6Q55wRpd9mzzwXN9TqQFyXt/abstract/?lang=pt. Acesso em: 25 jan. 2024.
FLECK, Steven; KRAEMER, William. Fundamentos do treinamento de forca muscular. 4 ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.
FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. 5 ed. São Paulo: Edições Loyola, 1999a.
FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas. 8 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999b.
FOUCAULT, Michel. História da sexualidade 2: a vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal, 1984.
FOUCAULT, Michel. Historia de la medicalización. Educación Médica y Salud, Washington, v. 11, n. 1, p. 3-25, 1977.
FOUCAULT, Michel. O nascimento da clínica. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1986.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. 29 ed., Petrópolis: Vozes, 2004.
FOUCAULT, Michel. Nascimento da biopolítica. São Paulo: Martins Fontes, 2008.
FRAGA, Alex Branco et al. Significados de atividade física e saúde em caminhantes: das camadas metodológicas à construção de uma agenda analítica. In: FRAGA, Alex Branco; WACHS, Felipe (org.). Educação Física e saúde coletiva: políticas de formação e perspectivas de intervenção. Porto Alegre: Editora da UFGRS, 2007.
GAUDENZI, Paula; ORTEGA, Francisco. O estatuto da medicalização e as interpretações de Ivan Illich e Michel Foucault como ferramentas conceituais para o estudo da desmedicalização. Interface – Comunicação, Saúde e Educação, Botucatu, v. 16, n. 40, p. 21-34, 2012. DOI: 10.1590/S1414-32832012005000020. Disponível em: https://www.scielo.br/j/icse/a/XjXvsdynqRSNX8XdZWGbVRv/?lang=pt. Acesso em: 25 jan. 2024.
GILL, Rosalind. Análise de discurso. In: BAUER, Martin; GASKELL, George (org.). Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. 8 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.
ILLICH, Ivan. A expropriação da saúde: nêmesis da Medicina. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1975.
JOLY, Martine. Introdução à análise da imagem. Lisboa: Ed. 70, 1996.
LE BRETON, David. La sociologie du corps. Paris: Puf, 2016.
LUPTON, Deborah. Risk as moral danger: the social and political functions of risk discourse in public health. International Journal of Health Services, Westport, v. 23, n. 3, p. 425-435, 1993. DOI: 10.2190/16AY-E2GC-DFLD-51X2. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/8375947/. Acesso em: 25 jan. 2024.
MENDONÇA, André Luis Oliveira; CAMARGO JÚNIOR, Kenneth Rochel. Complexo médico-industrial/financeiro: os lados epistemológico e axiológico da balança. Physis: Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 22, n. 1, p. 215-238, 2012. DOI: 10.1590/S0103-73312012000100012. Disponível em: https://www.scielo.br/j/physis/a/7gJmtgzjNBykpL9hvV3Q6pj/abstract/?lang=pt. Acesso em: 25 jan. 2024.
MOULIN, Anne Marie. O corpo diante da medicina. In: CORBIN, Alain; COURTINE, Jean-Jacques; VIGARELLO, Georges (org.). História do corpo. As mutações do olhar: o século XX. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.
MOYSÉS, Maria Aparecida Affonso; COLLARES, Cecilia Azevedo Lima. Diferenças, desigualdades e direitos: raízes da medicalização/patologização da vida e na escola. In: CECCIM, Ricardo Burg; FREITAS, Cláudia Rodrigues de (org.). Fármacos, remédios, medicamentos: o que a Educação tem com isso? Porto Alegre: Rede Unida, 2021.
NEGRÃO, Carlos Eduardo; BARRETTO, Antônio Carlos Pereira; RONDON, Maria Urbana Pinto Brandão. Cardiologia do exercício: do atleta ao cardiopata. 4. ed. Barueri, SP: Manole, 2019.
NOGUEIRA, Quéfren Weld Cardozo. Além das próprias forças: origens e caminhos das ciências do esporte no Brasil entre as décadas de 1930 e 1980. Curitiba: CRV, 2023.
ORTEGA, Francisco. Biopolíticas da saúde: reflexões a partir de Michel Foucault, Agnes Heller e Hannah Arendt. Interface – Comunicação, Saúde e Educação, Botucatu, v. 8, n. 14, p. 9-20, 2004. DOI: 10.1590/S1414-32832004000100002. Disponível em: https://www.scielo.br/j/icse/a/KRqrqqJGqK6vshf4KKrkCbw/. Acesso em: 25 jan. 2024.
PITANGA, Francisco José Gondim; BECK, Carmem Cristina; PITANGA, Cristiano Penas Seara. Inatividade física, obesidade e COVID-19: perspectivas entre múltiplas pandemias. Revista Brasileira de Atividade Física & Saúde, Pelotas, v. 25, e0114, 2020. DOI: 10.12820/rbafs.25e0114. Disponível em: https://rbafs.org.br/RBAFS/article/view/14262. Acesso em: 25 jan. 2024.
PITANGA, Francisco José Gondim et al. Atividade física e mortalidade por COVID-19 nas capitais brasileiras: uma análise ecológica. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, São Paulo, v. 27, n. 6, p. 573-577, 2021. DOI: 10.1590/1517-8692202127062021_0071. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbme/a/mZVjDXRbN8J5wwVB7GbgsWz/abstract/?lang=pt. Acesso em: 25 jan. 2024.
ROCHA, Vera Maria da; CENTURIÃO, Carla Haas. Profissionais da saúde: formação, competência e responsabilidade social. In: FRAGA, Alex Branco; WACHS, Felipe (org.). Educação Física e saúde coletiva: políticas de formação e perspectivas de intervenção. Porto Alegre: Editora da UFGRS, 2007.
ROHDEN, Fabíola. Vida saudável versus vida aprimorada: tecnologias biomédicas, processos de subjetivação e aprimoramento. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, v. 23, n. 47, p. 29-60, 2017. DOI: 10.1590/S0104-71832017000100002. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ha/a/NHHX5NcL4yFYXNX88msZyXh/abstract/?lang=pt. Acesso em: 25 jan. 2024.
SABINO, César. O peso da forma: cotidiano e uso de drogas entre fisiculturistas. 2004, 366 f. Tese (doutorado em Sociologia e Antropologia) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
SILVA, Alan Camargo. Apresentação. In: SILVA, Alan Camargo (org.). Corpo e práticas corporais em academias de ginástica. Curitiba: Bagai, 2022.
SILVA, Alan Camargo. Corpos no limite: suplementos alimentares e anabolizantes em academias de ginástica. Jundiaí: Paco Editorial, 2017.
SILVA, Alan Camargo; FERREIRA, Jaqueline. Entre remediar e prevenir: uma etnografia sobre o manejo da dor e dos “limites” corporais em academias de ginástica do Rio de Janeiro. Pensar a Prática, Goiânia, v. 21, n. 1, p. 107-118, 2018. DOI: 10.5216/rpp.v21i1.39631. Disponível em: https://revistas.ufg.br/fef/article/view/39631. Acesso em: 24 abr. 2024.
SILVA, Alan Camargo; FERREIRA, Jaqueline. Corpo “educado”: atuação pedagógica de professores de Educação Física em academias de ginástica. Motrivivência, Florianópolis, v. 32, n. 63, p. 1-16, 2020. DOI: 10.5007/2175-8042.2020e76554. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/motrivivencia/article/view/76554. Acesso em: 07 abr. 2024.
SILVA, Alan Camargo; FERREIRA, Jaqueline. Evolução das academias de ginástica no Brasil e sua relação com a saúde. Lecturas: Educación Física y Deportes, Buenos Aires, v. 24, n. 262, 2020. DOI: 10.46642/efd.v24i262.1897. Disponível em: https://www.efdeportes.com/efdeportes/index.php/EFDeportes/article/view/1897. Acesso em: 24 abr. 2024.
SILVA, Alan Camargo; FERREIRA, Jaqueline. No pain, no gain? Sentidos e significados atribuídos às dores e aos riscos entre malhar e treinar em academias de ginástica. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, São Paulo, v. 35, n. 1, p. 1-13, 2021. DOI: 10.11606/issn.1981-4690.v35i1p1-13. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/rbefe/article/view/184416. Acesso em: 07 abr. 2024.
SCHWANDT, Thomas. Três posturas epistemológicas para a investigação qualitativa: interpretativismo, hermenêutica e construcionismo social. In: DENZIN, Norman; LINCOLN, Yvonna (org.). O planejamento da pesquisa qualitativa: teorias e abordagens. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2006.
TURATO, Egberto Ribeiro. Tratado da metodologia da pesquisa clínico-qualitativa: construção teórico-epistemológica, discussão comparada e aplicação nas áreas da saúde e humanas. 6 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013.
WILLIAMS, Simon; MARTIN, Paul; GABE, Jonathan. The pharmaceuticalisation of society? A framework for analysis. Sociology of Health and Illness, London, v. 33, n. 5, p. 710-725, 2011. DOI: 10.1111/j.1467-9566.2011.01320.x. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/21371048/. Acesso em: 25 jan. 2024.
ZOLA, Irving. Medicine as an institution of social control. The Sociological Review, London, v. 4, p.487-504, 1972. Disponível em: https://www.jstor.org/stable/43618673. Acesso em: 25 jan. 2024.
ZORZANELLI; Rafaela Teixeira; ORTEGA, Francisco; BEZERRA JÚNIOR, Benilton. Um panorama sobre as variações em torno do conceito de medicalização entre 1950-2010. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 19, n. 6, p. 1859-1868, 2014. DOI: 10.1590/1413-81232014196.03612013. Disponível em: https://www.scielo.br/j/csc/a/nqv3K7JRXxmrBvq5DcQ88Qz/abstract/?lang=pt. Acesso em: 25 jan. 2024.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2024 Cadernos de Campo: Revista de Ciências Sociais
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
