Uma fratura discursiva preocupante

Autores

DOI:

https://doi.org/10.47284/2359-2419.2020.28.2945

Palavras-chave:

Fratura discursiva, Movimentos antissistema, Ascensão do populismo, Bolsonaro, Trump, Redes sociais,

Resumo

Acompanhamos o desenvolvimento de fenômenos que designamos de várias maneiras: “ascensão do populismo”, “movimentos antissistema” etc. Não se trata, apenas, de uma fratura social, mas, também, de uma fratura discursiva. Os populistas consideram que a eles foi impedido o acesso ao lugar de fala nos ambientes em que há maior audiência ou autoridade moral / credibilidade, que uma elite de privilegiados e / ou minorias distanciadas da sociedade “real” têm o monopólio da legitimidade da fala. Essa fratura discursiva se tornou possível por meio das redes sociais, em que aqueles que se sentem excluídos podem falar o que querem. Existe, contudo, uma assimetria fundamental entre esses discursos e os das “elites”, as quais justificam seu estatuto respeitando um certo número de normas cognitivas e linguísticas. É uma perigosa situação de “interincompreensão”, em que cada um dos dois adversários se legitima pelo outro. O analista do discurso, portanto, não pode se contentar em mostrar as deficiências dos discursos “populistas”; ele deve refletir sobre a própria fratura discursiva. Tratar a fala “populista” como discurso, contudo, não deve significar a validação de seu ponto de vista.

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Biografia do Autor

Dominique Maingueneau, Universidade Paris IV-Sorbonne, Departamento de Língua Francesa, Paris – França. Professor de Linguística.

Universidade Paris IV-Sorbonne, Departamento de Língua Francesa, Paris – França. Professor de Linguística.

Referências

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Publicado

17/09/2020