Afetos docentes e relações de cuidado na creche: narrativas de professoras em discussão

Autores

DOI:

https://doi.org/10.21723/riaee.v14i1.10239

Palavras-chave:

Educação Infantil, Creche, Docência, Cuidado, Afetos docentes.

Resumo

O artigo apresenta resultados de uma pesquisa cujo foco analítico foi a problematização das concepções sobre afetos na docência no berçário. O mote de discussão da investigação foram os modos como as professoras significam as relações de afeto que permeiam as ações de cuidado desenvolvidas com as crianças. O campo teórico de fundamento da pesquisa foram os Estudos de Gênero, os Estudos da Pedagogia da Infância, assim como contribuições de pesquisas da antropologia e da sociologia que discutem a temática dos afetos. Metodologicamente, foi realizado um grupo focal com 20 professoras de bebês. Para tanto, foram propostos seis encontros, nos quais as professoras discutiram a temática do afeto e suas relações com a docência na Educação Infantil. A análise das narrativas docentes evidenciou a recorrência de duas concepções de afeto no exercício das ações de cuidado com os bebês: o afeto como imperativo; e o excesso de afeto como razão de desprestígio profissional. Embora o afeto seja entendido pelas professoras como um imperativo, é visto paralelamente como razão de desprestígio profissional quando demonstrado em excesso. Para as docentes, demonstrar afeto em excesso pelos bebês evidencia uma proximidade com a experiência materna, fato que gera a falta de reconhecimento profissional. Com base na pesquisa, concluiu-se que os significados dos afetos são construções culturais que demandam desnaturalização e reinvenção no âmbito da creche, tendo em vista a experimentação de modos próprios de exercício da docência.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Rodrigo Saballa de Carvalho, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (FACED/UFRGS)

Pós-Doutor em Educação (UFPEL), Doutor em Educação (UFRGS), Mestre em Educação (UFRGS). Professor do Programa de Pós-Graduação em Educação - PPGEDU/UFRGS na Linha de Pesquisa Estudos sobre Infâncias. Professor da área de Educação Infantil do Departamento de Estudos Especializados (DEE) da Faculdade de Educação da UFRGS.

Referências

ABRAMOWSKI, Ana. Maneras de querer: los afectos docentes en las relaciones pedagógicas. Buenos Aires: Paidós, 2010.

BARBOUR, Rosaline. Grupos Focais. Porto Alegre: Artmed, 2009.

CARVALHO, Rodrigo Saballa. O imperativo do afeto na Educação Infantil: a ordem do discurso de pedagogas em formação. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 40, n. 1, p. 231-246, jan./mar. 2014. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ep/v40n1/aop1291.pdf. Acesso em: 20 maio 2017.

CARVALHO, Rodrigo Saballa; RADOMSKI, Lidianne Laizi. Imagens da docência com bebês: problematizando narrativas de professoras de creche. Série-Estudos, Campo Grande, MS, v. 22, n. 44, p. 41-59, jan./abr. 2017. Disponível em: http://www.serie-estudos.ucdb.br/index.php/serie-estudos/article/view/1015. Acesso em: 10 maio 2017.

CASTRO, Joselma Salazar. A docência na Educação Infantil como ato pedagógico. 2016. 343f. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, 2016.

FERNANDES, Camila. “Ficar com”: parentesco, criança e gênero no cotidiano. 2011. 143f. Dissertação (Mestrado em Antropologia) – Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ, 2011.

FLICK, Uwe. Introdução à pesquisa qualitativa. Porto Alegre: Artmed, 2009.

GONÇALVES, Fernanda. A educação de bebês e crianças pequenas no contexto da creche: uma análise da produção científica recente. 2014. 202f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, 2014.

GONDIM, Sônia Maria Guedes. Grupos focais como técnica de investigação qualitativa: desafios metodológicos. Paidéia, Ribeirão Preto, SP, v. 12, n. 24, p. 149-161, mar./abr. 2003. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/paideia/v12n24/04.pdf. Acesso em: 12 jun. 2017.

GUIMARÃES, Daniela. Relações entre bebês e adultos na creche: o cuidado como ética. São Paulo: Cortez, 2009.

ILLOUZ, Eva. O amor nos tempos do capitalismo. Rio de Janeiro: Zahar, 2011.

LEOVORLINO, Solange Abrocesi; PELICIONI, Maria Cecília Focesi. A utilização do grupo focal como metodologia qualitativa na promoção da saúde. Revista da Escola de Enfermagem, São Paulo, v. 35, n. 2, p. 115-121, jun. 2001. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/reeusp/article/view/41220/44772. Acesso em: 15 abr. 2017.

LOURO, Guacira Lopes (Org.). O corpo educado: pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica, 1999.

MARTINS, Ana Cláudia Ferreira. A construção das identidades profissionais das professoras de bebês. 2014. 134f. Dissertação (Mestrado em Estudos da Criança) – Instituto de Educação, Universidade do Minho, Portugal, 2014.

MEYER, Dagmar. Gênero e Educação: teoria e política. In: LOURO, Guacira Lopes; NECKEL, Jane Felipe; GOELLNER, Silvana Vilodre. Corpo, gênero e sexualidade: um debate contemporâneo. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003. p. 9-27.

OSTETTO, Luciana Esmeralda. O estágio curricular no processo de tornar-se professor. In: OSTETTO, Luciana Esmeralda (Org.). Educação Infantil: saberes e fazeres da formação de professores. Campinas, SP: Papirus, 2008. p. 127-138.

REZENDE, Claudia Barcellos. Emoção, corpo e moral em grupos de gestante. Revista Brasileira de Sociologia da Emoção, João Pessoa, PB, v. 11, n. 33, p. 830-849, dez. 2012. Disponível em: http://www.cchla.ufpb.br/rbse/ClaudiaRezDos.pdf. Acesso em: 15 abr. 2017.

REZENDE, Claudia Barcellos; COELHO, Maria Cláudia. Antropologia das emoções. Rio de Janeiro: FGV, 2010.

SCHMITT, Rosinete Valdeci. As relações sociais entre professoras, bebês e crianças pequenas: contornos da ação docente. 2014. 282f. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, 2014.

STRATHERN, Marilyn. O Gênero da Dádiva: problemas com as mulheres e problemas com a sociedade na Melanésia. Campinas, SP: Unicamp, 2006.

TRONTO, Joan. Mulheres e cuidados: o que as feministas podem aprender sobre a moralidade a partir disso? In: BORDO, Susan; JAGUAR, Alisson. (Orgs.). Gênero, corpo, conhecimento. Rio de Janeiro: Rosa dos Ventos, 1997. p. 186 -213.

ZELIZER, Viviana A. A negociação da intimidade. São Paulo: Editora Vozes, 2011.

Publicado

01/01/2019

Como Citar

CARVALHO, R. S. de. Afetos docentes e relações de cuidado na creche: narrativas de professoras em discussão. Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 14, n. 1, p. 188–207, 2019. DOI: 10.21723/riaee.v14i1.10239. Disponível em: https://periodicos.fclar.unesp.br/iberoamericana/article/view/10239. Acesso em: 22 nov. 2024.

Edição

Seção

Artigos teóricos