Afetos docentes e relações de cuidado na creche: narrativas de professoras em discussão
DOI:
https://doi.org/10.21723/riaee.v14i1.10239Palavras-chave:
Educação Infantil, Creche, Docência, Cuidado, Afetos docentes.Resumo
O artigo apresenta resultados de uma pesquisa cujo foco analítico foi a problematização das concepções sobre afetos na docência no berçário. O mote de discussão da investigação foram os modos como as professoras significam as relações de afeto que permeiam as ações de cuidado desenvolvidas com as crianças. O campo teórico de fundamento da pesquisa foram os Estudos de Gênero, os Estudos da Pedagogia da Infância, assim como contribuições de pesquisas da antropologia e da sociologia que discutem a temática dos afetos. Metodologicamente, foi realizado um grupo focal com 20 professoras de bebês. Para tanto, foram propostos seis encontros, nos quais as professoras discutiram a temática do afeto e suas relações com a docência na Educação Infantil. A análise das narrativas docentes evidenciou a recorrência de duas concepções de afeto no exercício das ações de cuidado com os bebês: o afeto como imperativo; e o excesso de afeto como razão de desprestígio profissional. Embora o afeto seja entendido pelas professoras como um imperativo, é visto paralelamente como razão de desprestígio profissional quando demonstrado em excesso. Para as docentes, demonstrar afeto em excesso pelos bebês evidencia uma proximidade com a experiência materna, fato que gera a falta de reconhecimento profissional. Com base na pesquisa, concluiu-se que os significados dos afetos são construções culturais que demandam desnaturalização e reinvenção no âmbito da creche, tendo em vista a experimentação de modos próprios de exercício da docência.
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