Educação comum ou especial? Análise das diretrizes políticas de educação especial brasileiras
DOI:
https://doi.org/10.21723/riaee.v16iesp2.15126Palavras-chave:
Políticas de educação inclusiva, Educação especial, DeficiênciaResumo
A partir de uma pesquisa documental sobre as diferentes diretrizes políticas de Educação Especial elaboradas pelos governos brasileiros nos anos de 1994, 1999, 2001, 2008 e 2020, este artigo objetiva discutir as mudanças conceituais e terminológicas para referir-se ao público da Educação Especial no país, assim como os suportes educacionais oferecidos para a Educação dessa população. Nossas análises apontam que, nos documentos de 1994 a 2008, houve avanços em termos de garantia de direitos educacionais numa perspectiva inclusiva ao incorporar princípios do modelo social da deficiência em detrimento do modelo médico. Também se fortaleceu e se ampliou o número de matrículas de pessoas com deficiência na educação básica e superior pública. No entanto, em setembro de 2020, o governo federal publicou um decreto que institui uma nova Política de Educação Especial, poucas semanas depois suspensa por medida cautelar do Supremo Tribunal Federal, sob a alegação de que o decreto volta a privilegiar a segregação em instituições filantrópicas privadas. Entre outros aspectos, a proposta pega carona no discurso econômico liberal de desresponsabilização do Estado, segundo o qual as famílias teriam o direito de “escolher” o tipo de educação que desejam para os filhos.
Downloads
Referências
ARTILES, A. J.; KOZLESKI, E. B. Promessas e trajetórias da Educação Inclusiva: notas críticas sobre pesquisas futuras voltadas a uma ideia venerável. Revista Brasileira de Educação Especial, v. 25, n. 3, 2019.
ABRASCO. Nota de repúdio ao Decreto n. 10.502, de 30 de setembro de 2020, que institui a Política Nacional de Educação Especial. 2020. Disponível em: https://www.abrasco.org.br/site/noticias/nota-de-repudio-ao-decreto-no-10-502-de-30-de-setembro-de-2020-que-institui-a-politica-nacional-de-educacao-especial/52894/. Acesso em: 25 out. 2020.
AMPID-Associação Nacional dos Membros do Ministério Público de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência e Idosos. Nota de repúdio contra o Decreto n. 10.502. 2020. Disponível em: https://ampid.org.br/site2020/nota-publica-de-repudio-ao-decreto-no-10-502-2020/. Acesso em: 25 out. 2020.
ANPED-ABPEE. Repúdio sobre o Decreto n. 10.502, de 30 de setembro de 2020, que institui a Política Nacional de Educação Especial: equitativa, inclusiva e com aprendizado ao longo da vida. 2020. Disponível em: https://anped.org.br/news/anped-e-abpee-denunciam-retrocessos-em-nova-politica-de-educacao-especial-lancada-pelo-governo. Acesso em: 25 out. 2020.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988.
BRASIL. Lei n. 7.853, de 24 de outubro de 1989. Dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras de deficiência, sua integração social, sobre a Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência - Corde, institui a tutela jurisdicional de interesses coletivos ou difusos dessas pessoas, disciplina a atuação do Ministério Público, define crimes, e dá outras providências. Brasília, 25 de outubro de 1989. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7853.htm. Acesso em: 10 jul. 2020.
BRASIL. Política Nacional de Educação Especial. Brasília: SEESP, 1994.
BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário Oficial da União: Seção 1, Brasília, DF, n. 248, p. 27833, 23 dez. 1996.
BRASIL. Decreto n. 3.298, de 20 de dezembro de 1999. Regulamenta a Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989, dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portador de Deficiência, consolida as normas de proteção, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 1999. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3298.htm. Acesso em: 10 jul. 2020.
BRASIL. Resolução n. 2, de 11 de setembro de 2001. Institui as Diretrizes Nacionais da Educação Especial na Educação Básica. Brasília: Ministério da Educação/ SEESP, 11 de setembro de 2001. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CEB0201.pdf. Acesso em: 10 jul. 2020.
BRASIL. Educacenso. Brasília, DF: INEP, 2001a.
BRASIL. Ministério da Educação. Decreto 3.956, de 8 de outubro de 2001. Promulga a Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência. Brasília, DF: MEC, out. 2001a. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2001/d3956.htm. Acesso em: 10 jul. 2020.
BRASIL. Decreto n. 6.094, de 24 de abril de 2007. Dispõe sobre a implementação do Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação, pela União Federal, em regime de colaboração com Municípios, Distrito Federal e Estados, e a participação das famílias e da comunidade, mediante programas e ações de assistência técnica e financeira, visando a mobilização social pela melhoria da qualidade da Educação Básica. Brasília, 2007. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/decreto/d6094.htm. Acesso em: 10 jul. 2020.
BRASIL. Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva – versão preliminar. Brasília, setembro de 2007a.
BRASIL. Decreto n. 6.253, de 13 de novembro de 2007. Dispõe sobre o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação - FUNDEB, regulamenta a Lei no 11.494, de 20 de junho de 2007, e dá outras providências. Brasília, 2007b. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/decreto/d6253.htm#:~:text=DECRETO%20N%C2%BA%206.253%2C%20DE%2013%20DE%20NOVEMBRO%20DE%202007.&text=Disp%C3%B5e%20sobre%20o%20Fundo%20de,2007%2C%20e%20d%C3%A1%20outras%20provid%C3%AAncias. Acesso em: 10 jul. 2020.
BRASIL. Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília, DF, jan. 2008.
BRASIL. Lei n. 10.753, de 30 de outubro de 2003. Institui a Política Nacional do Livro. Brasília, DF, 31 out. 2003. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/2003/lei-10753-30-outubro-2003-497306-publicacaooriginal-1-pl.html. Acesso em: 10 jul. 2020.
BRASIL. Lei n. 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Brasília, DF, 7 jul. 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm. Acesso em: 10 jul. 2020.
BRASIL. Educacenso: resumo técnico. Brasília, DF: INEP, 2019.
BRASIL. Decreto n. 10.502, de 30 de setembro de 2020. Institui a Política Nacional de Educação Especial: Equitativa, Inclusiva e com Aprendizado ao Longo da Vida. Brasília, DF, 01 out. 2020. Disponível em https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/decreto-n-10.502-de-30-de-setembro-de-2020-280529948. Acesso em: dezembro de 2020.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Modalidades Especializadas de Educação. Política Nacional de Educação Especial: Equitativa, Inclusiva e com Aprendizagem ao Longo da Vida. Brasília, DF: MEC/SEMESP, 2020. Disponível em: https://www.gov.br/mec/pt-br/assuntos/noticias/mec-lanca-documento-sobre-implementacao-da-pnee-1/pnee-2020.pdf. Acesso em: 10 dez. 2020.
BRASIL. Medida Cautelar na ação direta de Inconstitucionalidade 6.590. Distrito Federal. Disponível em: http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=6036507. Acesso em: 10 dez. 2020.
CABRAL, V. N.; ORLANDO, R. M.; MELETTI, S. M. F. O Retrato da Exclusão nas Universidades Brasileiras: os limites da inclusão. Revista Educação e Realidade, Porto Alegre, v. 45, n. 4, 2020. DOI: https://doi.org/10.1590/2175-6236105412
DAINEZ, D.; SMOLKA, A. L. B. A função social da escola em discussão, sob a perspectiva da educação inclusiva. Revista Educação e Pesquisa, v. 45, p. 1-18, 2019. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/s1678-4634201945187853
DINIZ, D.; BARBORA, L.; SANTOS, W. R. Deficiência, direitos humanos e justiça. Revista Internacional de Direitos Humanos, v, 6, n 11, p. 65-77, 2009.
INSTITUTO ALANA. A inconstitucionalidade do Decreto n. 10.502/2020. Disponível: https://alana.org.br/. Acesso em: 10 dez. 2020
FERREIRA, J. R. A exclusão da diferença. 3. ed. Piracicaba, SP: Editora Unimep, 1995.
GOHN, M. G. O Protagonismo da sociedade civil. Movimentos sociais, ONGs e redes solidárias. São Paulo: Cortez, 2005. 120 p.
KASSAR, M. C. M. Políticas nacionais de educação inclusiva - discussão crítica da Resolução 02/2001. Ponto de Vista (UFSC), Florianópolis, v. 1, n.3/4, p. 13-25, 2002. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/pontodevista/article/view/1300. Acesso em: 13 dez. 2020.
KASSAR, M. C. M. Percursos da constituição de uma política brasileira de Educação Especial Inclusiva. Revista Brasileira de Educação Especial, Marília, v. 17, p. 41-58, maio/ago. 2011.
KASSAR, M. C. M. Escola como espaço para a diversidade e o desenvolvimento humano. Educação e Sociedade, v. 37, n. 137, p. 1223-1240, 2016. DOI: https://doi.org/10.1590/es0101-73302016157049
KASSAR, M. C. M.; REBELO, A. S.; OLIVEIRA, R. T. C. Embates e disputas na política nacional de Educação Especial brasileira. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 45, e217170, 2019. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S1678-4634201945217170
LANNA JÚNIOR, M. C. M. História do Movimento Político das Pessoas com Deficiência no Brasil. Brasília, DF: Secretaria de Direitos Humanos. Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência, 2010. 443 p.
LAPLANE, A.; CAIADO, K.; KASSAR, M. As relações público-privado na Educação Especial: tendências atuais no Brasil. Revista Teias, v. 17, n. 46, 2016. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/revistateias/article/view/25497/18546. Acesso em: 25 out. 2020.
LIMA, S. R.; MENDES, E. G. Políticas nacionais para a educação das pessoas com deficiência. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL: O ESTADO E AS POLÍTICAS EDUCACIONAIS DO TEMPO PRESENTE, 5., 2009, Uberlândia. CD-ROM Anais. Uberlândia, MG: Universidade Federal de Uberlândia, 2009.
MAIOR, I. L. Pessoas com deficiência no contexto da pandemia do COVID-19. In: Palestra no III Congresso Nacional de Inclusão na Educação Superior e Educação Profissional Tecnológica. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=TH1ZrfyPuwo. Acesso em: dezembro de 2020.
MAZZOTTA, M. Educação Escolar comum ou especial? São Paulo, SP: Pioneira Novos Umbrais, 1986.
MELO, F. R. L. V.; ARAÚJO, E. R. Núcleos de Acessibilidade nas Universidades: reflexões a partir de uma experiência institucional. Revista Psicologia Escolar e Educacional, v. esp., p. 57-66, 2018. DOI: https://doi.org/10.1590/2175-35392018046
MINTO, L. W. Globalização, transição democrática e educação (inter)nacional (1984...). 2012. Disponível em: http://www.histedbr.fae.unicamp.br/navegando/periodo_transicao_democratica_intro.html. Acessado em: 13 dez. 2012.
OLIVEIRA, D. Das políticas de governo à política de estado: reflexões sobre a atual agenda educacional brasileira. Educação e Sociedade, Campinas, v. 32, n. 115, p. 323-337, abr./jun. 2011.
PAIVA, C. O processo de avaliação e encaminhamento de alunos com deficiência intelectual para o atendimento educacional especializado. 2017. 140 f. Dissertação (Mestrado em Educação, Contextos Contemporâneos e Demandas Populares) – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2017.
PEREIRA, J. M. M. O Banco Mundial como ator político, intelectual e financeiro 1944 – 2008. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010. 502 p.
PEREIRA, J. M. M.; PLETSCH, M. D. A agenda educacional do Banco Mundial para pessoas com deficiência e o caso brasileiro. Revista Brasileira de Educação, 2021. No prelo.
PLETSCH, M. D. A dialética da inclusão/exclusão nas políticas educacionais para pessoas com deficiências: um balanço do governo Lula (2003-2010). Revista Teias, v. 12, n. 24, p. 39-55, jan./abr. 2011.
PLETSCH, M. D. O que há de especial na Educação Especial Brasileira? Momento - Diálogos em Educação, v. 29, n. 1, p.1-15, 2020. DOI: http://dx.doi.org/10.14295/momento.v29i1.9357
PLETSCH, M. D.; ARAUJO, P. C. A.; ROCHA, M. G. S. A importância de ações intersetoriais como estratégia para a promoção da escolarização de crianças com a síndrome congênita do zika vírus (SCZV). Revista Educação em Foco, Juiz de Fora, v. 25, n. 3, p. 193-210, set./dez. 2020. DOI: https://doi.org/10.22195/2447-524620202532924
ROCHA, M. G. S. Os sentidos e significados da escolarização de sujeitos com deficiência múltipla. 2018. 291 f. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Nova Iguaçu, 2018.
SANTOS, R. A. Processos de escolarização e deficiência: trajetórias escolares singulares de ex-alunos de classe especial para deficientes mentais. 2006. 197 f, Tese (Doutorado em Educação) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2006.
SILVA, G. F. et al. Educação Especial e diversidades: emergências atuais. Revista de Educação, Ciência e Cultura, v. 25, p. 7-14, 2020. DOI: http://dx.doi.org/10.18316/recc.v25i1.6697
SOARES, M.T. N. Programa Educação Inclusiva Direito à Diversidade: Estudo de Caso sobre estratégia de multiplicação de políticas públicas. 2010. 126 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2010.
SCHNEIDER, D. Alunos excepcionais: um estudo de caso de desvio. In: VELHO, G. (Org.). Desvio e divergência: uma crítica da patologia social. 8. ed. Rio de Janeiro: Editora Jorge Zahar, 2003.
SOUZA, F. F. Políticas de educação inclusiva: análise das condições de desenvolvimento dos alunos com deficiência na instituição escolar. 2013. 297 f. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2013.
SOUZA, F. F. As pessoas com deficiência e a educação: políticas sociais e de educação inclusiva nos governos do PT (2003-2011). Agenda Social (UENF), v. 10, n. 1, p. 44-59, 2017.
SOUZA, F. F.; PLETSCH, M. D. A relação entre as diretrizes do Sistema das Nações Unidas (ONU) e as políticas de Educação Inclusiva no Brasil. Ensaio. Avaliação e Políticas Públicas em Educação, v. 97, p. 1-23, 2017. DOI: https://doi.org/10.1590/s0104-40362017002500887
UNESCO. Declaração de Salamanca sobre princípios, políticas e práticas na área das necessidades educativas especiais (1994) (BR/1998/PI/H/7). Brasília: UNESCO, 1998.
UNGA. Resolution A/RES/48/96, of 04 March 1994. Standard rules on the equalization of opportunities for persons with disabilities. General Assembly, 4 mar. 1994.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2021 Marcia Denise Pletsch, Flávia Faissal de Souza
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.
Manuscritos aceitos e publicados são de propriedade dos autores com gestão da Ibero-American Journal of Studies in Education. É proibida a submissão total ou parcial do manuscrito a qualquer outro periódico. A responsabilidade pelo conteúdo dos artigos é exclusiva dos autores. A tradução para outro idioma é proibida sem a permissão por escrito do Editor ouvido pelo Comitê Editorial Científico.