Inovação curricular no ensino médio: das experiências exitosas às duvidosas propostas de mudança

Autores

DOI:

https://doi.org/10.21723/riaee.v15i3.12720

Palavras-chave:

Reestruturação curricular, Ensino médio, Reforma do ensino médio.

Resumo

É consensual a percepção de que o Ensino Médio (EM) é, no Brasil, o nível de ensino cujos debates são mais controversos, sendo este considerado o grande nó de nosso sistema educativo. Este problema histórico (ZOTTI, 2009) enfrenta desafios em relação ao acesso e permanência dos jovens no EM – problemas esses que vão além da questão da aprendizagem. Questões como o descompasso com a realidade dos alunos, necessidade de ingresso no mercado de trabalho, questões sociais diversas ligadas aos que frequentam essa etapa de ensino, bem como a desvalorização docente, são questões que reforçam o discurso de “crise no Ensino Médio” perpetuado no campo educacional brasileiro ao longo de quase um século. Nesse sentido, compreende-se que a reflexão sobre a qualidade do atual Ensino Médio exige a análise consistente de questões de acesso e permanência e, ainda, de atendimento das demandas e necessidades dos jovens que o frequentam. Avalia-se que as atuais políticas para o EM, em especial a Lei nº 13.415/2017, que instituiu a reforma do EM, não respondem diretamente às demandas históricas desta etapa do ensino, tampouco lançam luz sob as experiências de ensino exitosas que já foram realizadas no país, tais como as Classes Secundárias Experimentais e Ginásios/Colégios Vocacionais, que buscavam responder às mesmas questões – contudo, com outras roupagens e em um lapso temporal de mais de cinquenta anos. Estas experiências, encerradas pelo regime ditatorial nos anos 1960, levaram a cabo a proposta de promover uma educação integral, contribuindo com a formação dos estudantes nas mais diversas dimensões, de maneira significativa e promovendo a efetiva integração de conteúdo. Entende-se que ensaios de renovação do EM devem ser formulados a partir da leitura e avaliação das experiências e políticas já desenvolvidas, devendo estas novas iniciativas, mais do que vestir a “roupagem do novo” sem oferecer reais soluções para as demandas existentes, apresentar avanços efetivos – não figurando como contrarreformas, nas quais apresenta-se retrocessos mediante ao já alcançado, a exemplo do que fora a Lei de Reforma do EM. Frisa-se, por fim, a necessidade de estudos e debate de experiências referenciadas como exemplo de qualidade, pois a continuidade de políticas depende do estudo sistemático e da avaliação e reformulação de iniciativas que alcançaram resultados exitosos.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Letícia Vieira, Universidade de São Paulo (USP), São Paulo – SP

Doutoranda em Educação da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), a nível de doutorado. Mestre em Educação pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Membro do Observatório do Ensino Médio em Santa Catarina – OEMESC. Orientadora Educacional vinculada à Secretaria da Educação do Estado de Santa Catarina.

Maike Ricci, Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), Florianópolis – SC

Mestre em Educação pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Membro do Observatório do Ensino Médio em Santa Catarina – OEMESC. Membro do grupo de pesquisa ITINERA da Universidade Federal de Santa Catarina. Gerente de Supervisão da Educação Básica e Profissional da Diretoria de Políticas e Planejamento Educacional da Secretaria da Educação de Santa Catarina.

Shirlei de Souza Corrêa, Centro Universitário Avantis (UNIAVAN), Balneário Camboriú – SC

Doutora em Educação pela Universidade do Vale do Itajaí. Docente do curso de Pedagogia – Centro Universitário UNIAVAN. Membro do Observatório do Ensino Médio em Santa Catarina – OEMESC

Yomara F. C. de Oliveira Fagionato, Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), Florianópolis – SC

Doutora em História do Tempo Presente pela Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC.  Membro do Observatório do Ensino Médio em Santa Catarina – OEMESC. Membro do Laboratório da Didática da História da Universidade Regional de Blumenau – LADIH/FURB

Referências

BRANDÃO, C. F. O Ensino Médio no contexto do Plano Nacional de Educação: o que ainda precisa ser feito. Cad. Cedes, Campinas, vol. 31, n. 84, p. 195-208, maio-ago. 2012. Disponível em: http://www.cedes.unicamp.br. Acesso em: 28 nov. 2017.

BRASIL. Lei n.º 9394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da

Educação Nacional. LDB: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília, DF: Ministério da Educação, 20 dez. 1996

BRASIL. Decreto n.º 2.208, de 17 de abril de 1997. Regulamenta o 2º parágrafo do artigo 36 e os artigos 39 a 42 da Lei n.º 9364, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Educação Profissional: Legislação básica. 2. ed. Brasília: MEC/PROEP, 1997.

BRASIL. Decreto n.º 5.154, de 23 de julho de 2004. Regulamenta o 2º parágrafo do artigo 36 e os artigos 39 a 41 da Lei n.º 9394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Presidência da República. Brasília, DF: Senado Federal, 2004.

BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Parecer nº 11 de 30 de junho de 2009. Apreciação da Proposta de Experiência Curricular Inovadora no Ensino Médio. Relator: Francisco Aparecido Cordão. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 25 ago. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/parecer_minuta_cne.pdf Acesso em: 24 maio 2018.

BRASIL. MEC/SEB. Programa: Ensino Médio Inovador, Documento Orientador 2011. Disponível em http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/documento_orientador.pdf Acesso em 20 nov. 2018.

CLASSES Experimentais no Ensino Secundário. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos. Rio de Janeiro: INEP. Vol. XXX, nº 72. Out.-dez. 1958. p. 73-83.

CONTIER, Luis. Relatório que apresenta o Prof. Luiz Contier, Educador Acompanhante da Classe Experimental do Instituto de Educação “Narciso Pieroni” de Socorro. 1959. 5p. São Paulo. Acervo Luis Contier: Centro de Memória da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo.

CORRÊA, Shirlei de Souza. Reorganização Curricular no Ensino Médio: uma proposta de inovação com o Programa Ensino Médio Inovador. Tese (Doutorado em Educação). Universidade do Vale do Itajaí. Itajaí, 2018.

CORRÊA, Shirlei de Souza. GARCIA, Sandra Regina de Oliveira. “Novo Ensino Médio: quem conhece aprova!” Aprova? Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 13, n. 02, p. 604-622, 2018. E-ISSN: 1982-5587. Acesso em 20 fev. 2019.

FAGIONATO, Yomara Feitosa Caetano de Oliveira. A área de Estudos Sociais na Cultura Escolar dos Ginásios Vocacionais (SP, 1961-1969). Tese (Doutorado em História). Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Florianópolis (SC), 2018. 345p

GRIKE, F. Concepções de interdisciplinaridade: o programa ensino médio inovador. 2016, 124 f. Dissertação (Mestrado em Educação.) Faculdade de Educação – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2016. Disponível em http://repositorio.utfpr.edu.br/jspui/handle/1/1738 Acesso em 22 mar. 2019.

ISLEB, V. O Programa Ensino Médio Inovador e sua relação com os dados de fluxo escolar. 2014. 171 f. Dissertação (Mestrado em Educação). Faculdade de Educação – Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2014. Disponível em http://www.observatoriodoensinomedio.ufpr.br/wp-content/uploads/2014/04/Vivian-Isleb-disserta%C3%A7%C3%A3o-final-2014.pdf Acesso em 15 abr. 2018.

JAKIMIU, V. C. Considerações acerca do campo disciplinar das políticas educacionais. Revista de Estudios Teóricos y Epistemológicos en Política Educativa. 2016. V. 1, n. 2, pp. 211-229. Disponível em file:///C:/Users/HP/AppData/Local/Packages/Microsoft.MicrosoftEdge_8wekyb3d8bbwe/TempState/Downloads/10459-37157-1-PB.pdf Acesso 12 set. 2017.

MASCELLANI, Maria Nilde. A origem dos Vocacionais. Texto impresso. Arquivo Maria Nilde Mascellani. Centro de Memória da Educação da Universidade de São Paulo. [entre 1950 e 1970a]. 78 p.

MASCELLANI, Maria Nilde. Manuscritos de M. Nilde Mascellani: anotações sobre Dewey. Manuscrito. [S.l] [entre 1950 e 1970b]. Acervo Maria Nilde Mascellani: Centro de Memória da Educação da Universidade de São Paulo.

MASCELLANI, Maria Nilde. Levantamento para planejamento curricular. Relações Humanas, SP: Instituto de Relações Sociais e Industriais de São Paulo, p. 57-83, [entre 1960 - 1970].

RIBEIRO, Maria Luisa Santos. O Colégio Vocacional “Osvaldo Aranha” de São Paulo. In.: GARCIA, Walter E. (Org.) Inovação educacional no Brasil: problemas e perspectivas. São Paulo: Cortez: autores associados, 1989, p.132-149.

SERVIÇO DO ENSINO VOCACIONAL. Texto básico para compreensão de “core curriculum” (datilografado). São Paulo, 1968. Acervo: Olga Bechara. Caixa 02. Centro de Memória da Educação da Faculdade de Educação da Universidade do Estado de São Paulo.

SERVIÇO DE ENSINO VOCACIONAL. Planos pedagógicos e administrativos dos ginásios vocacionais do Estado de São Paulo (mimeografado), 1968. Acervo: Inovação educacional - IE. Centro de Memória da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo.

SOUZA NETTO, Francisco Benjamin de. MASCELLANI, Maria Nilde (divulgação). As Classes Experimentais de Socorro e sua relação com o ensino público vocacional do Estado de São Paulo. Renov: São Paulo. 1971. 31p.

VIEIRA, Letícia. Um núcleo pioneiro na renovação da educação secundária brasileira: as primeiras Classes Experimentais do estado De São Paulo (1951-1961). Dissertação (mestrado em Educação). Centro de Ciências Humanas e da Educação da UDESC, 2015. 200p.

ZOTTI, S. A. Sociedade, educação e currículo no Brasil: dos jesuítas aos anos 1980. Quaestio. Revista de Estudos da Educação. Ano 4, n° 02, novembro de 2009.

Publicado

21/06/2020

Como Citar

VIEIRA, L.; RICCI, M.; CORRÊA, S. de S.; FAGIONATO, Y. F. C. de O. Inovação curricular no ensino médio: das experiências exitosas às duvidosas propostas de mudança. Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 15, n. 3, p. 1422–1442, 2020. DOI: 10.21723/riaee.v15i3.12720. Disponível em: https://periodicos.fclar.unesp.br/iberoamericana/article/view/12720. Acesso em: 26 dez. 2024.

Edição

Seção

Artigos teóricos

Artigos Semelhantes

1 2 > >> 

Você também pode iniciar uma pesquisa avançada por similaridade para este artigo.